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Era impressionante como eu me sentia deslocada. Todos conversavam e eu me parecia com um bixinho assustado em meio os assuntos e risadas. Em certo momento, me afastei e saí da casa. Queria um pouco de paz.

— Tá fazendo o que aqui? Depois sou eu quem sigo os outros.. — Daryl disse sarcástico enquanto limpava sua besta, sentado na grade da varanda.

— Deixa, eu vou entrar... — falei voltando pra porta, mas ele me chamou.

— Pode ficar.. Tá tudo bem?

— Sim.. Tá fazendo o que?

— Arrumando minha besta. E você?

— Queria um pouco de ar.. — o homem soltou um longo suspiro com minha frase.

— Você já se acostuma.. Ficou muito tempo só com a pequena. Já, já você se adapta ao restante do pessoal e volta a encarar o convívio com pessoas de maneira normal. — disse e eu assenti. Ele parecia adivinhar ou eu deixava muito claro meu desconforto.

Ficamos em um silêncio estranho por um tempo.

— Conversou com as pessoas lá dentro? — questionou e eu concordei.

— Conheci a maioria hoje.. Glen, Maggie, Carl, a bebê Judith.. Eu não andei muito pela comunidade, só conversei com vocês até agora. — falei e a porta ao nosso lado foi aberta.

— Ah, aqui estão. Meu pai disse que a comida tá pronta. Venham jantar! — Carl disse e nós o acompanhamos.

Tudo aquilo, aquela segurança, era louco. Como se eu não estivesse no apocalipse.

Uma mesa rodeada de pessoas, com comida suficiente para saciar a todos. As risadas rolavam soltas e a casa tinha energia. O ambiente era quentinho e o fogo na lareira estralava, tornando tudo ainda mais aconchegante. Depois da refeição, juntamos as louças e lavamos tudo após retirar a mesa.

Era como se eu houvesse voltado no tempo e me encontrasse na casa de amigos, em um jantar habitual.

Apoiei-me na piá e sequei minha mãos com um pano de prato. Olhando todos na sala.

As crianças do Grimes brincavam com Gemma. Os adultos conversavam enquanto bebiam uma bebida quente.

Era certo eu estar me sentindo bem? Eu devia me deixar acostumar?

— Então Helena, a comida estava boa? — Maggie perguntou e eu assenti.

— Muito.. - falei e ela sorriu.

— Tá gostando daqui? — questionou pondo os copos na piá e começando a os lavar.

— Demais e isso me preocupa.. — falei com o olhar perdido e ela parou para me encarar.

— Todos sentimos isso nas primeiras semanas dentro dos muros... — voltou a ligar a torneira enquanto falava. — Nós somos seres humanos, não precisamos estar acostumados com situações desumanas. Às vezes acreditamos que devemos, crendo necessitarmos estar preparados pra nos virar com a miséria que esse novo mundo nos oferece.. mas estamos errados e sempre que você pensar o contrário disso, querendo estar "pronta" para algo ruim... Pensa na Gemma. Ela não merece o melhor? Você também! — falou e eu assenti. Coloquei minha mão em seu ombro de forma amigável.

— Valeu!

Sai andando pra sala. Minha pequena Parker estava encostada no sofá, próxima a lareira, quase dormindo.

— Tá tarde pra essa mocinha aqui.. Olha que nem tô falando da Gemma! — brinquei a pegando no colo.

— Já vai? — Rick perguntou e eu assenti.

— Sim, sim.. obrigada por tudo gente. — falei e o Grimes pousou a mão em meu ombro.

— Se precisar de algo sabe com quem falar.. Ah e sobre o que conversamos durante o jantar, amanhã você pode pegar sua arma e se estiver recuperada, pode participar da busca por suprimentos ou então das rondas! — ele falou e eu assenti.

— Claro.. Boa noite gente. Durmam bem!

Me despedi de todos e sai da residência, já na rua reclamei de dor. Gem não era levinha e o corte em minhas costas estava me matando. Eu tentava ao máximo ignorar o incômodo, mas volta e meia era quase insuportável. Respirei fundo, já ia acordar a menina quando alguém pôs a mão em meu ombro, me assustando.

— Deixa que eu levo ela.. — Daryl disse e eu neguei. — Vamos, deixa de ser teimosa. — e então pegou a criança de meus braços a ajeitando em seu colo. A garotinha nem mesmo despertou.

— Brigada.. — falei arrumando a blusinha de frio da pequena. — Nem te vi direito durante o jantar..

— Eu fico mais na minha.. — foi curto.

— Já percebi isso..

— E seu machucado? Tá melhor?

— Não tô sentindo nada demais.. — menti descaradamente.

— Se isso aí se tornar uma infecção você pode morrer. Não é uma ameaça, é um aviso. Vai deixar a Gemma sozinha? — soltou com uma mistura de preocupação e nervosismo. Encarei aquilo como um jogo psicológico pra que eu me sentisse motivada a me cuidar.

— Eu vou na Denise amanhã, fica tranquilo. Eu nunca vou deixar ela sozinha! — falei e ele assentiu.

— Eu nunca achei que socos de uma criança iriam doer tanto, até receber os dessa pirralha quando você desmaiou lá fora. Pra controlar ela foi difícil. Não quero nem imaginar caso algo realmente chegue a acontecer contigo... — ele disse e eu ri.

— Eu crio bem ela! — falei convencida e ele riu. Era a primeira vez que eu via aquilo. — Daryl Dixon rindo? Vai entrar pra história..

— Cala boca!

Conversamos o caminho todo casualmente, chegava a ser engraçado e irônico como nós—duas pessoas claramente muito fechadas— parecíamos nos sentir tão a vontade um com o outro. Na casa de Carol o homem fez questão de subir as escadas e deixar a pequena na cama do meu quarto, para que eu não precisasse a carregar de maneira alguma.

— Agradeço pela ajuda.. Gemma não é nada leve.. — falei enquanto nos aproximavamos da porta.

— Se precisar de algo é só chamar. — Falou parado na entrada, me escorei no batente e sorri.

— Você tem uma dívida eterna comigo, já que quase me matou! — brinquei e ele bufou.

— Vai sonhando, só estou sendo receptivo! — cruzei os braços.

— Boa noite, Daryl! — falei debochando, revirando os olhos e ele riu. A segunda vez naquela noite que vi seu sorriso em minha direção.

— Boa noite, Helena!

Fechei a porta e quando olhei pra trás, Carol estava na escada, me olhando com uma cara...

— Nunca vi o Daryl ser receptivo com ninguém... — falou cheia de segundas intenções em sua voz.

— Ele só tava me ajudando a trazer a Gemma pra casa.. — falei desconcertada e a mulher se levantou do degrau em que estava sentada, subindo pro segundo andar, soltando risinhos maliciosos.

Olhei novamente pra porta de entrada e logo balancei a cabeça, indo pro meu quarto tentando esquecer das palavras que Carol plantou em minha mente.

All Alone (TWD-Dixon)Onde histórias criam vida. Descubra agora