Caminhávamos eu e Gemma a cerca de quatro dias. Tínhamos pequenas pausas. Eu queria achar um lugar realmente seguro para que tirassemos algum tempo de descanso e como ainda aguentavamos bem mais, lá estávamos nós. Sempre em frente.
Éramos quietas. Apesar de minha companheira ser pequena, ela entendia que nossa situação era perigosa.
Eu cuidava de Gemma sozinha a cinco anos. A ensinei muito e lutei com unhas e dentes por nossas vidas.
Às vezes me perguntava se estava dando realmente o meu melhor...A garotinha era minha sobrinha, mas desde que eu havia perdido meu irmão e minha melhor amiga —seus pais no caso—, eu a trazia comigo com cautela e carinho.
Então chegamos, finalmente, em uma cidade. Aquela era a oportunidade de achar um lugar para passar alguns dias.
— Vamos na casa da esquina! — falei com a criança, apontando a casa que parecia ser a menos comprometida. Em silêncio a garota me seguiu sem pestanejar.
Fiz todo o processo de checagem do perímetro. Matei um zumbi moribundo que estava caído no quintal.
Dentro da antiga residência de alguém, eu tive o total cuidado de checar tudo nos mínimos detalhes, sem deixar passar nenhum cantinho que deixasse nossa estadia ali perigosa. Aparentemente a família que um dia estivera ali fugirá. Não havia nenhuma roupa nas gavetas ou comida que fosse útil, além de porta-retratos que se encontravam vazios.
— Mamãe! — Gemma entrou na casa e deixou sua mochilinha rosa por ali no chão. Olhei para trás assim que a mesma me chamou. — Estou cansada, com fome.. — Ela disse se sentando no sofá. Pegando então de dentro da sua bagagem uma boneca pequena de pano.
— Eu também.. — falei só então notando o quanto queria descansar. Eu pretendia me juntar a pequena no sofá, quando olhei pela janela e vi uma farmácia. Que conveniente.
Lembrei-me que logo, logo minha menstruação viria, além de que não tínhamos muitos medicamentos. Aquela era a oportunidade de achar absorventes e suprimentos extremamente úteis. Ser mulher no apocalipse era péssimo nessas horas.
— Gem, eu vou dar uma saída.. você sabe o que fazer?! Vou ali na farmácia e já volto. Vá para o segundo andar e fique em algum quarto até que eu volte, e... — falei na intenção de que ela terminasse minha frase.
— Não faça barulho, não fale e caso alguém ou algo entre, me espere voltar! — sorri fraco assentindo.
— Vai lá! — apontei as escadas e a garota pegou suas coisas, subindo degraus a cima.
— Se encontrar algum doce ou brinquedo, traga pra mim, por favor! — assenti, acatando seu pedido.
E lá fui eu. Fechei a porta, barrando a entrada com uma madeira e com agilidade segui caminho.
A farmácia era bem próxima, aproveitaria para dar uma checada nas casas ali em volta. Bati uma pedra no vidro da drogaria para que os possíveis doentes se revelassem. Justamente o que aconteceu.
Matei os únicos dois que apareceram e passei a olhar as prateleiras, mas aparentemente, alguém tinha feito uma limpeza geral de suprimentos por ali. Estava boquiaberta com a falta de qualquer coisa útil quando então um barulho de carro me fez esconder-me. Observei de tocaia com o coração começando a acelerar pela ansiedade.
— Agora que já reviramos os comércios, vamos dar uma olhada nas casas. — um homem com o cabelo na altura dos ombros disse ao descer do automóvel, do qual saíram ele e mais duas pessoas.
— Puta que pariu... — murmurei já sentindo a respiração pesar.
— Okay, eu vou com a Michonne naquela casa maior. Tudo bem você ir sozinho naquela ali? — suspirei aliviada, nenhuma das construções apontadas eram na qual Gem estava.
— Tudo bem, mas é melhor eu ir nessa da esquina. Aquela já está parecendo toda ferrada. Provavelmente não vamos achar nada. — não devia ter cantado Vitória antes da hora...
— Vá na que achar melhor. Temos que ser rápidos, daqui a pouco vai anoitecer!
E então se separaram. Esperei um pouco, tensa, e logo fui atrás do homem que tinha uma besta empunhada nas mãos. O mesmo entrou no quintal da casa em que eu estava abrigada.
Fiquei observando a uma certa distância segura, esperando o momento perfeito para o render. Nossas últimas experiências com sobreviventes foram péssimas. Eu só queria paz para mim e minha menina, não importava o que eu precisasse fazer.
Ele andou de um lado para o outro e quando finalmente foi para sala, entrei sorrateiramente pela cozinha. Saquei minha pistola e apontei para suas costas. Estava pronta para o mandar por sua arma no chão quando um grito, vindo do alto da escada, me assustou.
— Mãe, atrás de você! — virei rapidamente me deparando com as outras duas pessoas que acompanhavam o homem desconhecido. Provavelmente haviam me visto e entrado junto comigo, mas eu, tão nervosa, nem notei. Apontei minha pistola para estes e no instante seguinte, senti um baque nas minhas costas.
Uma falta de ar enorme me afetou, então algo passou a molhar minha camisa e jaqueta. Voltei a olhar para o homem atrás de mim e passei a mão em minhas costas. Meus dedos estavam banhados de meu sangue. Os olhos do desconhecido estavam tomados por surpresa e medo, mas após notar o que havia feito, tudo mudou para algo como arrependimento.
Perdi o equilíbrio e quando iria cair de joelhos, o autor do disparo que me acertou, me segurou. Só de simplesmente puxar ar, uma dor surreal me invadia
Passos chegaram atrás de mim e a voz de Gem desesperada ecoava em meio aos borrões. Eu já estava tão cansada e mal alimentada que todo aquele choque certamente resultaria num desmaio ou algo até pior.
— MÃE! NÃO! — a voz histérica da pequena foi a única coisa que ouvi antes de tudo se tornar um breu negro.
Meu coração estava preenchido por medo, não da morte.. eu lidava com ela todos os dias desde que os próprios mortos começaram a caminhar. O descanso eterno não me assustava. A única coisa que me atordoava naquele momento era deixar Gemma sozinha.
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All Alone (TWD-Dixon)
FanficHelena costumava ser uma garota feliz, acesa como fogo. Seu nome trazia um pouco de sua essência consigo, tinha como significado tocha em grego. Porém, toda essa alegria foi deixada para trás no "mundo pré-apocalíptico". Antes dos mortos vagarem pel...