Capítulo 63

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Sam estava tão preocupada que ignorou completamente o que as crianças estavam falando. Ela não conseguia prestar atenção agora. Sentia que Jay sempre tentava amenizar as coisas para que ela não ficasse tão mal, mas era a irmã dela e ela não sabia o que fazer.

As crianças estavam conversando, fazendo perguntas, e ela nem mesmo se preocupou em responder. Não queria ser rude, mas até ficou feliz com o fato de que elas não acharam isso estranho; se acharam, ficaram quietas. Ela respondia algumas coisas apenas murmurando, e isso foi o suficiente para as crianças. Ela também estava feliz que elas ainda eram muito novas, não tanto a ponto de não terem uma noção do que é a morte, mas também não conseguiam entendê-la o suficiente para pensar que era algo relacionado à irmã dela, mãe delas.

Ela olhou para elas pelo retrovisor e viu que Maya estava olhando. Maya estava achando a irmã da namorada do pai um pouco estranha, mas não sabia dizer o que era. As crianças foram informadas de que não voltariam para o hospital, o que não gostaram muito, mas nenhuma delas disse nada.

Era muito estranho para ela interagir com as crianças; ela não sabia até que ponto podia ser sincera com elas. Embora tenha sido uma criança e tudo, não conviveu muito tempo com crianças e sua criação foi bem diferente da dos dois quando tinha a idade deles.

Ela não se lembrava muito das coisas antes dos dois anos. Lembrava de sua irmã, de um ursinho de pelúcia que ganhou dela e da promessa que Lindsay fez, dizendo que voltaria. Ou talvez nem mesmo se lembrasse disso, porque tinha dois anos; talvez Erin a tenha lembrado disso quando pegou a guarda dela anos depois.

Sua memória começa a partir dos 4 ou 5 anos, quando convivia com sua mãe, que deixava drogas, bebidas ou os rastros delas pela casa: brigas, palavrões, ameaças e tudo de horrível que ninguém deveria presenciar, muito menos uma criança. Ela sabe um pouco da história das crianças, mas sabe que elas tiveram uma vida bem normal depois dos 5 anos de Maya e dos 2 anos de Jesse, o que significa que, por mais traumatizante que fosse, suas memórias ainda começaram a partir dessa idade.

Nessa idade, ela se lembra apenas das coisas terríveis: foi despejada com sua mãe, viveu em lugares suspeitos por um tempo. A realidade dos seus 6 e 8 anos era diferente da realidade dos 6 e 8 de Jesse e Maya. Ela também teve uma realidade diferente com relação a pai e mãe. Primeiro, porque seu pai ela nunca conheceu, e sua mãe não era o tipo que prezava pela saúde mental dos filhos ou algo do tipo; sempre falava o que não devia na frente da filha, sem se importar com as consequências.

Somente quando foi morar com Lindsay, ela pode dizer que teve uma vida semelhante à das crianças. Sua irmã jamais deixou a casa muito bagunçada, não havia drogas, e as bebidas ficavam bem guardadas; ela nunca viu sua irmã bebendo até uns 15 anos, o que significava que Lindsay só bebia quando ela não estava.

Outra coisa que Lindsay teve que ensinar à irmã foi educação. Em alguns momentos, Sam podia ser bem atrevida e folgada, não só com a irmã mais velha, mas com as pessoas na escola e outras de seu convívio. Então, boas maneiras, como não responder e muito menos falar palavrão, tiveram que ser ensinadas e introduzidas na vida de uma garota de apenas 9 anos, algo que deveria ter sido ensinado desde o nascimento.

É por isso que sempre que vê algum momento em que Jay está com as crianças, ela observa. Quando Jay os repreende sem gritar ou sem bater, o que era algo incomum para ela, ela se lembra de que sua irmã mais velha nunca encostou um dedo nela, nem mesmo quando ela se defendia, pensando que seria golpeada, como já foi por sua mãe, os namorados dela e, às vezes, algum amigo de sua mãe. Ela sabia que teve sorte de nunca ter sido abusada e ficava triste por saber que sua irmã já havia sido. Então, ela adorava assistir Jay sendo pai, pois dava uma paz em seu coração saber que existem pais bons no mundo.

Linstead - Corações QuebradosWhere stories live. Discover now