No dia seguinte, Sol pensava no que sua mãe havia lhe dito, e estava disposto a colocar seus brincos com mais frequência. Rosa ficou orgulhosa ao saber da atitude do filho, que foi para escola sem medo do preconceito.
- Fico feliz que tenha aprendido a lição.
- Ah, obrigado, mãe, mas agora tenho que ir pra escola!
Daniel e Júlia brigavam como crianças enquanto jogavam UNO por lá, como se estivessem decididos que a amizade de anos entre os dois iria acabar.
- Pensei que gostava de mim, cara.
- Estou vendo que você vai deixar de ser minha amiga desse jeito, não para de jogar a cartinha de bloquear!
- Ei, criancinhas do terceiro ano, parem de brigar, isso daí tá feio!- Sol interrompeu o escarcéu dos amigos.
- A coisa aqui tá séria, a Jú não para de me bloquear nessa droga de jogo!
O jogo destruidor de amizades precisou acabar quando o sinal tocou, pouco depois do professor de biologia chegar na sala, o aluno mais atrasado da sala chegou por lá: Lucas. Ele era o clássico garoto popular dos filmes de adolescente, filho de um dos diretores, mas pelo menos parecia ser gente boa.
- Bem que ontem tinha faltado um aluno, né?- Daniel ironizou a falta no dia anterior.
- Foi mal galera, fiquei assistindo série até de madrugada e perdi o horário de ir pra escola.
- E pelo jeito quase esqueceu hoje também, né?- O colega continuou.
O professor passou algumas tarefas para a turma e logo depois saiu da sala para beber uma água. Altas conversas e bilhetinhos de papel passando de mesa em mesa passaram a surgir, era a hora do valentão começar a testar a paciência de Sol.
- Eu nem percebi que você está usando brincos, não acha que isso é coisa de viadinho?
- Olha o jeito que fala comigo, Thiago. Uso brinco sim, e mesmo recebendo olhares de reprovação como o seu, continuo com eles.- Respondeu agressivamente, enquanto seus amigos tentavam controlar a briga.
- Ei, moleque, não é legal você ficar chamando os outros de "viadinho" não, tá? Isso é homofobia, e outra, pelo que eu saiba, roupas e acessórios não tem gênero, né gente?- Oliver se intrometeu na conversa, enquanto percebia que todos acenavam a cabeça, expressando concordância.
- Tá bom então, vou parar de encostar no queridinho da sala, já que é isso que vocês querem.
Thiago se sentou na mesa, enquanto recebia diversas bolinhas de papel na mesa. O professor chegou em seguida, sem saber do que aconteceu, já que a sala parecia estar em silêncio, como estava antes de sair da sala.
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O terceiro lado da história [Não binário]
Genç KurguSol não possui lembrança alguma de seu pai, Augusto, que abandonou a família quando tinha apenas 3 anos. Possuindo dificuldades típicas da adolescência, tenta aceitar sua identidade não binária enquanto sente a transfobia em seu cotidiano. Sua mãe...