No intervalo, Sol se sentou juntamente aos seus amigos e desabafava sobre sua situação.
- Nossa, cara! Você realmente está lascado!- Maria se sentava ao lado do grupo.
- Hm? Então o viadinho é orfão?- Thiago queria testar a paciência de alguém de novo.
- Lá vem o valentão, né? Acho engraçado como adora ser homofóbico, sai daqui logo!
Todos no pátio começaram a observar a briga e tentavam separar os dois, que continuavam a soltar ofensas.
- Cala a boca! Eu só estava passando pela sua mesa e ouvi você falando do seu pai!- O valentão pegou uma casca de banana e logo jogou na frente de Sol.
- Ah, eu vou ter uma conversinha com você!- Tentou correr, mas tropeçou na casca e caiu de cabeça no chão.
O preto dominou sua visão, ficando desacordado, ainda pode ouvir algumas pessoas vaiando o Thiago. Acordou ainda no pátio, todos o encaravam estranhamente.
- Ah? Cadê aquele chatão? Ele precisa de uma lição!
- Calma, calma! A diretora está esperando por você.- Oliver deu as instruções que havia ouvido.
Sol quase nunca frequentava a diretoria, apenas quando fazia bagunças, mas isso não acontecia há anos. O corredor era silencioso, assustador, só era possível ouvir o barulho das impressoras e dos ventiladores velhos em funcionamento. No fundo daquele longo caminho, a porta para a sala mais temida por qualquer aluno estava lá.
- Bom dia, querido! Se sente ao lado do seu colega.
- Ok senhora...
- Diga, qual foi o motivo dessa briga que aconteceu.
- Ele me chamou de viadinho, eu apenas tentei corrigi-lo, afinal, o Thiago usou uma palavra homofóbica.
- E você não é gay?
- Não, eu sou não-binário, nem uma garota, nem um garoto.
- Você usa brinco, fica se maquiando e não quer ser chamado de viadinho?- O valentão interrogou.
- Sem brigas aqui! Sol está certo, brincos, maquiagens, essas coisas não definem seu gênero. Thiago, você será suspenso por uma semana, não é a primeira vez que te vejo nessa sala...
O aluno mal quis conversar sobre a suspensão, apenas saiu da sala fechando a porta com força, Sol ainda continuava lá, arrepiado com o clima pesado que havia na diretoria.
- Ei, os outros alunos podem até não entender o seu gênero, mas... saiba que estou com você. Transfobia é algo tão assustador para mim, eu espero que não precise passar por coisas assim na escola.
- O-obrigado diretora, mas agora preciso ir, tchau.
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O terceiro lado da história [Não binário]
Teen FictionSol não possui lembrança alguma de seu pai, Augusto, que abandonou a família quando tinha apenas 3 anos. Possuindo dificuldades típicas da adolescência, tenta aceitar sua identidade não binária enquanto sente a transfobia em seu cotidiano. Sua mãe...