Depois de todos terem devorado o prato, se trancaram no quarto de Sol para começar o trabalho. Canetas, cartolinas, tintas e réguas, tudo jogado no chão. Foram horas arrumando e dando boas risadas enquanto fingiam estar apresentando o trabalho.
- B-bom dia a t-todos, hoje faremos uma apresentação do trabalho de g-geologia!
- É GEOGRAFIA, SOL!- Júlia ria compulsivamente.
Eram quase três horas da tarde, Oliver ligava para os pais, que estariam saindo do trabalho naquele mesmo horário.
- Ah, os meus pais vão ficar até mais tarde hoje, vou ter que ficar aqui por enquanto, já que eles não poderão me buscar, minha casa é longe...
- Opa! COMO ASSIM?- Daniel acordava do seu leve cochilo na cama de Sol.
- Meu Deus, gente. Ele disse que ficaria aqui por enquanto, e não que dormiria na minha casa, parem de ter essa imaginação tão fértil.
Rosa ouvia a conversa do outro lado, abriu a porta e fingiu que estava varrendo o quarto, enquanto todos ali ficaram em silêncio absoluto.
- Acho que vamos sair, né, Daniel?- Júlia puxava o braço do parceiro, enquanto ele acenou com a cabeça.
- E o Oliver?
- Ele vai ter que ficar aqui por algumas horas a mais.
- HM?- A mãe jogou a vassoura no chão.
- Só terei que ficar um pouco aqui, provavelmente duas ou três horas...
Rosa pediu para que os outros dois amigos de Sol saíssem de casa e foi assistir algo na televisão. No quarto, a dupla fazia desenhos nos velhos cadernos usados em anos anteriores.
- Opa, minha mãe acabou de mandar mensagem dizendo que está saindo do trabalho.
- Ok, manda o endereço daqui de casa.
Oliver encostou na mão do amigo e olhou em seus olhos, envergonhado, Sol desviou o olhar para a parede.
- Só queria dar um tchau de jeito diferente.- Justificou.
- Eu te levo para a porta.
- Calma, lembra de quando disse que era BV? Você poderia experimentar a sensação de beijar uma pessoa.- Levantou o parceiro.
A mãe estava curiosa sobre o que estava acontecendo no quarto, e lembrou que havia deixado a vassoura no quarto do filho, ao subir as escadas, ainda pode ouvir a conversa.
- Tudo bem, então, vale a pena tentar.- Ambos se aproximaram e deram um beijo.
Rosa observou a cena em choque, mas feliz pelo filho. Sol pode perceber a presença dela, logo se distanciou de Oliver e o levou até a porta da sala. Não quis falar muito com a mãe sobre esse assunto, apenas foi dormir se perguntando da sensação do primeiro beijo.
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O terceiro lado da história [Não binário]
Teen FictionSol não possui lembrança alguma de seu pai, Augusto, que abandonou a família quando tinha apenas 3 anos. Possuindo dificuldades típicas da adolescência, tenta aceitar sua identidade não binária enquanto sente a transfobia em seu cotidiano. Sua mãe...