6- The Remnant Of Happiness

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Roseanne.

Depois de um tempo naquela situação eu me estabilizei, respirei fundo e ergui minha cabeça. Lalisa estava atrás de mim a poucos passos com uma feição meio assustada e angustiada querendo saber alguma explicação. Eu a olhei depois de um tempo mas eu não consegui ficar ali, soltei uma lufada de ar e corri até meu quarto tentando colocar minha cabeça no lugar. Peguei um porta retrato que tinha em baixo do meu travesseiro e passei a chorar ainda mais, eu só queria que ela estivesse aqui, seria tudo tão melhor e diferente.

-Eu sinto sua falta, Omma... -Sussurrei para mim mesma vendo o sorriso que ela tinha em seus lábios, a mulher que eu mal tinha lembranças, mas que eu amava incondicionalmente. A foto tinha eu segurando sua mão,eu cortei a parte do verme do meu pai. Ele não precisava estar ali naquela foto. Me deitei na cama abraçada a aquela foto e depois de um tempo acabei pegando no sono.

Tudo o que vinha na minha mente era aquela paciente e aquele número, os gritos dela e principalmente por rosto de Lalisa, ela teria que passar por aquilo, e eu teria que assistir aquilo mas eu não conseguiria ser forte naquele momento. Sabia que tinha mil e uma coisas a fazer, mas eu não estava bem, meu pai sabia como eu ficava depois daquela merda de projeto ser aplicado. Deus como eu odeio meu pai.

Caminhei um pouco pelo jardim escuro e iluminado apenas pela luz do luar, apenas as estrelas tão tristes como eu, me sentei ali, em um banco retirando o jaleco e olhando a peça branca recém tirada do meu corpo, havia uma pequena mancha de sangue nele e eu sabia do que se tratava. Não conseguia fechar os olhos para dormir, toda vez que tentava os gritos, aquela cena horrível e a sensação daquele momento se instalavam em meu corpo mais uma vez.

Sempre me vinha em mente o rosto de Lalisa, minha barriga se embrulhava só em saber que ela teria que passar por aquilo também, céus! Ela não podia passar por aquilo. Olhei a parte do gramado que havia sido destruído por ela, seu corpo tão pequeno e magro foi capaz de fazer aquilo. Tão pequena e tão raivosa, mas não era pra menos, ela tinha total razão por estar zangada e eu nunca a julgaria por sentir aquilo.

Aquele corredor tão assustador, silencioso, doloroso, monstruoso que havia vários quartos ocupados por mulheres por um simples motivo: por gostarem de alguém do seu gênero.

Eu deveria estar em um deses quartos também, eu deveria estar internada também, eu deveria estar com um número em meu "uniforme".

Aquela porta e aquele número sempre me faziam sentir coisas, e dessa vez também não foi diferente, de um jeito mais silencioso possível que eu consegui destranquei a porta me deparando com Lalisa sentada na cama olhando para a janela sem nenhuma esperança, sua cabeça estava deitada no parapeito da janela e sua franja meio torta, seus dedos batucavam no vidro suavemente, era adorável eu diria.

-Não consegue dormir, Lisa? -Sussurrei, pela primeira vez ela não se assustou ou recuou quando eu cheguei mais perto depois de trancar a porta novamente, ela apenas se limitou em fazer um sinal positivo com a cabeça respondendo minha pergunta. -É... Você não é a única...

Fiquei em silêncio achando que ela iria dizer algo, mas percebi que ela tão distante que mal seria capaz de começar um diálogo, seus olhos vazios e negros, via neles o reflexo da janela, eles ditava o nada, talvez procurando alguma escapatória que no fundo eu sabia que não tinha. Seus olhos num tom de chocolate meio amargo não brilhavam, ao menos me encaravam de volta, eu só quero que ela olhasse para mim, céus por que eu queria tanto que ela olhasse para mim? Ouvi seu estômago roncar, e ao seu lado tinha uma embalagem de barra de cereal, mas quando tentei pegar, ela foi mais ágil segurança segurando embalagem primeiro e escondendo suas mãos.

-Está com fome, não está? -Ela assentiu parecendo ter vergonha de ter fome, acabei dando um pequeno sorriso, não sabia o porque mas eu sorri. -Eu já volto, Lalisa.

Retirei da pequena geladeira o meu almoço, não me importava se ficaria sem ter o que comer amanhã, eu só mantinha minha atenção em Lalisa. O Gamjatang parecia apetitoso depois de ser esquentado no microondas, coloquei um pouco de suco de morango em um copo e coloquei na bandeja junto com o prato de Gamjatang. Peguei da minha mochila um chocolate meio amargo e coloquei em meu bolso, sai dali pisando com cuidado para não fazer qualquer tipo de barulho, soltei o ar quando entrei no quarto de Lalisa novamente.

A visão que diz tive foi a melhor nos meus vinte e cinco anos de vida, seus olhos voltaram a brilhar, tão Intensamente que eu poderia me reencontrar no escuro apenas com aquilo, um sorriso quase largo, suas bochechas levemente elevadas e sua franja já arrumada.

Coloquei a bandeja em cima de suas pernas e segurei o copo de suco para que ela pudesse comer, eu soltei uma risada quando ela fechou seus olhos e emitiu um som de "hummm" nenhum momento poderia se comparar a esse momento, o momento em que eu fiz Lalisa sorrir. Ela limpou a boca com a manga do pijama, me fazendo sorrir mais uma vez, tão delicada e de certa forma simples.

-Pra você, Lisa. -Entreguei a ela a barra de chocolate, eu não estava esperando um abraço vindo ela, e eu realmente só me dei conta quando minhas costas cairam no colchão da cama, ela havia se jogado em cima de mim e eu apenas envolvi os braços em sua cintura a deixando em meu colo sem problema algum. -Gostou?

-Obrigada... -Ouvi a sua voz baixa, mas fiz, pelo menos um resquício de felicidade ainda pairava sobre ela e eu me sentia bem por aquilo. -Eu amo chocolate, e esse é o meu favorito assim como a comida...

-Temos algo em comum então. -Ela me deu um sorriso aberto.

-Acho que sim...

Dividimos a barra de chocolate, claro que dei os maiores pedaços para ela, pois queria que ela continuasse com aquele sorriso lindo no rosto, aquela era a imagem que eu queria carregar comigo para sempre, a imagem de Lalisa feliz, sorridente e de certa forma linda. Quando terminamos de comer o chocolate me sentei na cama repetindo a cena da noite passada, agora não parecia mais estranho, era confortável tê-la em meus braços, sentir sua respiração ficando sincronizada com a minha, sentir seu corpo relaxar aos poucos e se entregar em um sono.

-Você precisa dormir, Chaeyoung... -Ela falou de repente.

-Você também precisa, Lisa.

-Eu gostei do apelido... -Ela sussurrou me fazendo dar um pequeno sorriso. -E eu preciso mas não mais que você, Chaeyoung... -Sua voz sonolenta e o seu suspiro de carinho me fez acariciar seus cabelos.

-Não se preocupe comigo, eu estou bem...

-Eu vou me preocupar sim, porque você é a única que se preocupa comigo, Chaeyoung... -Acho que ela estava delirando de sono, mas mesmo se estivesse eu não me importava, as suas palavras me levavam para o céu e me faziam flutuar.

-Eu vou cuidar de você, Lisa... -Sussurrei quando tinha quase certeza que ela já estava dormindo, mas de novo foi surpreendida por ela.

-Eu vou cuidar de você, Chaeng...

1996 - Chaelisa Ver. (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora