14.

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ALANA.

Trabalhei que nem uma cachorra a manhã inteira e ainda tive que aguentar cinco aulas a tarde inteira também, não aguento mais essa vida pra ser rica de uma vez. Mas pelo menos a glória chegou quando deu seis horas, quando fui liberada das aulas, entrei o Miguel na porta encostado no carro mexendo no celular.

Visão do paraíso ver aquele homem todo gostoso e saber que ele estava me esperando me deixava mais eufórica ainda. Assim que ele me viu, saiu da pose e veio até mim com um sorriso de canto.

- Te exploraram até agora foi?

- Tá vendo, né?! Todo dia essa exploração, precisa me valorizar por ainda sair com você.

Ele deu risada e eu fui entrar no carro, coloquei minha mochila no banco de trás e coloquei o cinto de segurança. Não demorou muito pra chegar no Mc porque ali mesmo na Barra já tinha um, não era perto da faculdade, mas já ajudava.

Não sei como, mas o Miguel descobriu meu ponto fraco: praia. A gente comprou tudo e ele disse que era pra comer em outro lugar, demorou um pouquinho até chegar na praia da reserva e sentamos ali mesmo na areia. Eu juro que eu amei demais, meu fim de noite não poderia ser melhor, juntou as duas coisas que eu mais amo: praia e comida.

- De onde você teve a ideia de vim comer aqui na praia?

- Eu sou surfista, não consigo ficar muito tempo longe do mar, me amarro demais. Não gostou? - perguntou.

- Claro que eu gostei. Mar, sol e as ondas me deixa em uma paz absurda, me amarro também.

- Então acertei no rolê? - concordei e ele sorriu - De onde veio o seu amor pela praia?

- Sou carioca da gema, minha mãe também nasceu aqui e morava em uma casa de frente para praia, então desde pequenininha, ela me levava, todos os dias, é uma rotina que até hoje eu tenho. - respondi - E o seu?

- Pô, maneiro pra caralho. Meu pai também era surfista, hoje em dia o coroa travou, mas ele dava aulas demais no surf. Peguei dele essa parada, seu João diz que corre no sangue, ele me levava pra competições, minha mãe surtava porque achava que eu não daria conta de conciliar com a escola.

- E aí você virou estudante de direito, chega a ser até irônico - disse tomando o meu Mcshake de morango e ele sorriu.

- Sempre foi meu sonho ser os dois, surfista e advogado, corri atrás e consegui.

- Mas é isso, sonho é sonho, uma hora realiza.

- E você, pô? Cursa o que?

- Arquitetura - ele me encarou sem entender - Queria ser bióloga, mas transformar meu hobby em obrigação é foda, não queria isso.

Conversar com ele era bom, ele me entendia e compartilhávamos o mesmo amor pelo mar. Então tudo que queríamos era extremamente justificável, ele era inteligente, ao contrário do que eu pensei. Não vou mentir, achei que o Miguel era mais um amigo sem noção do Patrick, ele tem vários, mas eu só pude tirar essa visão conhecendo mais ele.

Talvez eu só precisava de uma chance de ter essa conversa com ele e eu tive.

- E sua mãe, aposto que hoje ela é bióloga - ele disse rindo e eu neguei rindo fraco, tentei fugir daquele assunto, mas já que ele chegou, vamos lá.

- Ela era, hoje não é mais. Depois que ela se separou do meu pai, dona Alexandra entrou em um segundo casamento que só fez acabar com ela mesma. Morei com ela até os meus dezessete anos e depois fui morar com a minha tia até completar dezoito e só assim pude ir morar só.

- Mas por que você saiu de lá? Ele te... cê sabe.

- Não, isso pelo menos ela nunca deixou. Mas ele batia, todo dia e isso me deixava muito mal, até hoje ainda deixa, então eu resolvi sair de lá antes que piorasse - respondi e ele concordou.

- E ela continua com ele? - assenti - Caralho, que barra... Mas você entende que casar com um agressor é passar além de agressão física, ele mexe com o psicológico dela, né? Então não é fácil sair ilesa de tudo, se um dia ela conseguir sair, nunca vai ser a mesma.

- Por um lado, eu entendo. Pelo outro, não.

"Nunca vai ser a mesma" isso ficou na minha mente e por mais que eu tentasse esquecer, não saía por nada nesse mundo. Nada que ninguém me falou sobre isso mexeu tanto comigo quanto isso.

Eu sempre quis e insistir pra ela sair daquela situação, mas eu esqueci que foram anos sofrendo essas agressões e ela não era mais a mesma pessoa, eu não podia chegar e falar "Sai dessa vida" porque ela já tinha se acostumando com as agressões, tanto que a mesma sabia que não estava mais suportando.

- Como você acha que eu poderia tirar ela daquela situação?

- Conversando e mostrando a ela o mundo sem ele, por que você não a chama pra passar pelo menos uma semana contigo? Tenta trazer o mundo antes dele pra ela, pô - respondeu - Você se acostuma rápido? - concordei - Então, se ela gostar dessa semana com você, uma semana pode ser só o começo de anos.

- Cara, você me mostrou um lado que eu ainda não havia pensado, obrigada! - puxei o rosto dele dando um beijo em sua bochecha e ele sorriu.

- Preferia que esse beijo fosse na boca, mas já é um começo...

- Se manca, garoto!

Nosso casoOnde histórias criam vida. Descubra agora