06.

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ALANA.

Acordei já com uma dor de cabeça horrível, resultado de todas as incontáveis garrafas de ice que eu tomei, sorte que essa semana eu iria trabalhar de home office, se não estaria fodida.

A gatinha aqui faz estágio em uma construtora, geralmente eu faço as visitas das obras, cálculos de projetos, fico criando cronogramas e plantas arquitetônicas, entre outras funções.

Mas como eu fui recomendada pela faculdade, eu trabalho como se já fosse uma arquiteta mesmo, eles sempre me dão abertura para tudo. E assim eu banco a minha vida de burguesa safada, nasci pra isso!

Tomei um café bem rapidinho, organizei a bagunça do apê e fui pra varanda trabalhar. Almocei com a Cecelle a lasanha de ontem e fiquei marolando com ela.

Quando a Lara chegou, fizemos nossos projetos, atrasados e os recentes, ficamos logo livres. Depois que ela foi embora, eram cinco horas da tarde, só chamei um uber e fui na casa da minha mãe. Esse horário o Roberto não estaria em casa, então fui bem tranquila.

- Mãe? Dona Alexandra? - entrei perguntando e nada dela responder, já achei estranho esse horario ela não está em casa.

- Nana? Alana? Aqui filha, no banheiro... - ouvi a voz dela bem baixinha vindo da suíte.

Tomei maior susto quando vi ela caída no chão com o rosto cheio de sangue, juro que não tive nem forças pra nada, só congelei ali vendo aquela cena. Não estava nem acreditando que ela chegou a esse ponto de não conseguir nem levantar do chão por causa daquele grande filho da puta.

- É assim que você quer que eu te veja todas as vezes que eu vier aqui? - perguntei ajudando ela a levantar e fiz ela deitar na cama. Peguei a caixinha e com gaze e soro limpando seu rosto, coloquei um curativo e sentei na cama do seu lado vendo as lágrimas desceram do rosto dela.

- Me desculpa, Nana... Eu tento, tento muito sair daqui, mas não consigo. Essa já é a minha vida, são meus últimos dia, eu sinto. As surras estão cada vez mais pesadas, a cada pancada, eu sinto que já estou indo, meu amor! - falou com a voz bem cansada.

- A senhora tinha um loja que vendia pra caralho, dentro de um dos melhores shoppings do Rio e mudou sua vida completamente pelo Roberto, dona Alê. Sua filha, a senhora abandonou a sua filha por causa de um homem, sozinha eu tive que conquistar tudo que eu tenho hoje.

- Foi bom, olha o mulherão que você é com apenas vinte aninhos, eu sou assim, eu escolhi essa vida, mas eu tenho tanto orgulho de você, Nana... - me puxou para deitar no seu colo.

- Muda essa sua escolha de continuar com essa vida, muda por favor, pelo meu bem. Se você me ama como diz, sai dessa vida, mãe. Eu sou uma pessoa feliz, mas eu seria mais ainda se eu soubesse que você está bem.

- Não duvida do meu amor por você, filha. Mas sair daqui é uma escolha que eu não tenho mais como opção, só saio daqui morta, eu entrei nessa sabendo do final e acabou! - levantei entrelaçando nossas mãos e olhei nos seus olhos.

- Eu te ajudo, eu tô aqui, mãe. Tem eu, a Marcelle, Patrick, Pedro, Lia, tem a família inteira pra te ajudar. Seu sonho não era ter uma loja online e outras físicas espalhadas pelo Rio? A gente te ajuda, não vamos soltar a sua mão, mas sai dessa vida, pelo amor de Deus.

- Não é tão fácil assim, Alana. Segue a sua, cuida da sua, brilha na sua vida. Me esquece, filha. Finge que sua mãe morreu, não vou sair daqui, não posso e nem consigo. Não tenho forças o suficiente pra encarar o que viria...

- Fingir que minha mãe morreu, é assim então? - questionei e ela concordou.

Levantei dali na mesma da hora, assim que cheguei na sala, o Roberto entrou bêbado novamente. Não fiz nem questão de falar um "Oi" com ele, só sair daquela casa ouvindo os gritos dela em seguida, sentei ali na calçada chorando pra caralho. Joguei tudo pra fora ali, minhas mãos estavam trêmulas, suando e eu não prava de chorar por nenhum segundo.

Ouvi por mais uns quinze minutos os gritos dela e logo em seguida parou, minha cabeça só ficava em duas frases "Finge que sua mãe morreu" e "Essa já é a minha vida, são meus últimos dia, eu sinto", não era possível que ao mesmo tempo que ela me fazia feliz, me fazia tão mal.

Nosso casoOnde histórias criam vida. Descubra agora