Os olhos inchados e as roupas sujas de sangue indicavam que a noite daquela figura estática na sala de espera do hospital não havia sido nada boa. Naquela manhã de Natal não haveria presentes.
Seu corpo parecia estar em estado automático, robotizado, apenas aguardando que algo de bom acontecesse naquele lugar.
Tentava retirar as lembranças fortes que se repetiam em sua mente. Cada piscada que ela dava parecia ecoar o barulho dos tiros que Gustavo havia dado.
Marília nunca havia sentido tanta angústia em sua vida como nesse momento.
Não haveria nada que pudesse fazer com que a loira na sala de espera sorrisse de alegria ou por qualquer motivo que fosse, a não ser um motivo.
Apenas um único e extremamente específico motivo seria capaz de devolver esperança e alívio àquele coração aflito imóvel ali naquela sala de espera do hospital.
O relógio na parede parecia não se mover a cada minuto que seus olhos o encaravam. Nem a fome, nem o cansaço e nem o frio daquela chuva insistente que caía lá fora tiravam a sua concentração.
Tudo que importava estava acontecendo dentro daquelas portas onde ela não conseguia ver muita coisa.
Ela que nunca foi muito religiosa, resolveu apelar para quem quer que fosse, para todas as forças do universo, para tudo o que pudesse lhe conceder um milagre ou agraciá-la com uma benção de Natal.
A poucos metros dali havia outros na mesma situação. Todos aflitos e chorosos à espera de uma notícia.
Almira ainda não tinha conseguido parar de chorar. Um choro já mais calmo e baixo, mas desde que recebeu a tão dolorosa notícia as lágrimas não pararam de sair dos seus olhos por um minuto sequer.
André se manteve ao seu lado todo o tempo, tentando consolá-la, mas nem ele mesmo sabia como se manter firme diante daquela situação.
Adam, Marina, João, Maiara e até Lúcia, estavam todos ali naquela espera interminável, tentando dar apoio de alguma forma. Mas não havia o que fazer. Não havia o que fazer senão esperar.
E após uma longa espera um dos médicos enfim apareceu.
- Doutor! – Almira correu ao seu encontro – A minha filha... Como está a minha filha, pelo amor de Deus?!
- Ela está bem? – Marília o encarou assustada – Já podemos vê-la?
- Acalmem-se, por favor! – o homem de estatura baixa recuou com as mãos à frente do corpo.
– A bala já foi retirada, mas atingiu uma parte delicada do corpo da paciente, parou no pulmão e por poucos centímetros não chegou até o coração. Aparentemente a Senhorita Henrique não ficará com nenhuma sequela, dado que o socorro foi prestado rapidamente e a cirurgia correu bem. – dizia sob os olhos atentos de todos.
– Mas durante o procedimento ela sofreu uma hemorragia e agora nós precisamos de alguém que possa doar sangue compatível para ela, para que não comprometa o seu processo de recuperação.
- Eu, eu vou doar. Eu sou a mãe, Almira Henrique, ela tem o meu sangue. – Almira se pronunciou rapidamente.
- Eu posso doar também, ela tem o mesmo tipo sanguíneo que eu. Podem fazer os testes. – Marília disse em desespero.
- Não! – a senhora aumentou o tom encarando a loira com fúria no olhar – Você não vai doar o seu sangue pra minha filha! Foi por sua causa e desse seu sobrenome que ela está nessa situação!
- Almira, se acalma. – André a segurou pelos ombros.
- Eu não vou me acalmar! Eu já estive calma demais, por todo esse tempo vendo tudo que estava acontecendo, sabendo pelas metades o que acontecia com a minha filha, mas eu sabia, eu sentia que não era nada bom, não era uma simples briga de família, um simples desentendimento.
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MY BOSS - Malila
FanfictionMarília Mendonça é a dona de uma das maiores empresas do ramo hospitalar do Rio De Janeiro. Maraísa Henrique é a sua assistente jurídica, mais que isso, seu braço direito. Tudo ia bem até que Marília se vê perdidamente apaixonada por sua funcionária...