Laranja é a cor das memórias (E dourado, a dos chupões);

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Piadas e diálogos de conteúdo sexual, consumo de álcool e outras drogas lícitas;

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡
>> Tenha uma boa leitura:)

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Capítulo Oito;
"Laranja é a cor das memórias (E dourado, a dos chupões)"

"Ho ho ho-mossexual, 'cê 'tá nesse banheiro há duas horas..."
Victor bateu na madeira da porta com os nós dos dedos, voz impaciente de quem precisava buscar algo no único banheiro compartilhado do apartamento.
"Eu disse que já vai. O que 'cê quer?"
Gio abriu a porta com brutalidade, encontrando-o com sua blusa de pijama por cima do torso apesar de já estar completamente arrumado da cintura para baixo.
"O meu binder limpo 'tá aí."
Victor reclamou, bochechas rosadas e nariz reto entortado para o amigo, que jogou a peça em sua direção.
"Espírito natalino!"
Cuspiu as palavras de modo irritado, voltando ao quarto para terminar de se trocar.

Encararam um ao outro, avaliando seus visuais claramente diferentes, ainda que viessem do mesmo armário compartilhado.
Gio usava suas roupas folgadas habituais, paleta variando entre cinza-tá-vindo-um-toró e preto-pão-queimado, repletas de correntes desnecessárias.
Victor, com o celular em uma das mãos, parecia ter se esforçado o suficiente para que Leah não reclamasse; Uma camisa de flanela sobre sua regata preta justa e jeans escuros sem cinto.
"Correntes demais."
Concluiu, recebendo uma careta.
"'Cê parece que vai tirar um cubo mágico do bolso e desafiar as pessoas a terminarem mais rápido que você."
Gio respondeu com seu sorriso sarcástico aparecendo nos lábios.
"Eu tinha catorze anos."
Victor reclamou, buscando o carregador de seu celular entre as várias tomadas ligadas na extensão perto do sofá.
"Foi ano retrasado!"
Gio exclamou de volta, calçando os coturnos perto da porta de entrada.
"Absolutamente não foi ano retrasado."
O amigo disparou, seu rosto já rosa outra vez.
Victor era bonito, pelo que Gio poderia admitir em seu jeito orgulhoso de ser. Com certeza tinha ascendência chinesa, apesar de ter crescido em um orfanato e não possuir completa certeza da mistureba brasileira presente em sua família biológica.
O nariz reto lhe dava um charme a mais, em conjunto dos olhos puxados de íris escuras.
"Foi ano retrasado, o Guilherme ganhou de você. Eu lembro, eu ofereci sexo da vitória."
Victor contorceu o rosto numa cara de nojo exagerada, chutando Gio de leve para que saísse do caminho.
"Por ganhar de mim numa corrida de cubo mágico."
Gio deu de ombros e se levantou, abrindo a porta para que partissem.
"Sexo é sexo."

"Puta que-"
Gio exclamou de modo irritado quando derraparam para baixo de um toldo.
"E lá foi meu cabelo."
Suspirou, derrotado ao se sentar no cimento úmido, buscando seu cigarro eletrônico no bolso. Guilherme sentou ao seu lado, colocando a jaqueta sobre seus cabelos tingidos de azul e afagando a cabeça de Gio.
"Má ideia sair 'pra um café nesse tempo?"
Brincou, recebendo o cigarro eletrônico e agradecendo com uma piscadela. Manteve o objeto em mãos, sem dar um trago ou devolver.
"Péssima. Péssima ideia."
Gio murmurou, voz rouca e cansada.
"A chuva caiu bem, 'tava muito quente."
Guilherme sorriu para a rua à frente dos dois, os pés estendidos fora do toldo, sapatos encharcados.
O outro observou sua postura, o sorriso frouxo e pés molhados, sobrancelhas arqueadas ao namorado.
"'Tá chapado?"
Brincou, retirando o cigarro eletrônico de suas mãos e dando um trago longo.
Guilherme voltou os olhos castanhos para Gio, alargou seu sorriso bobo e então deu de ombros.
Levantou-se em silêncio, mãos sobre os joelhos para se apoiar. Logo, saiu debaixo do toldo naquele ponto de ônibus vazio, e foi para a chuva torrencial.
Ergueu o rosto e fechou os olhos, sentindo conforme cada gota gelada escorria por sua pele.
Gio esboçou um sorriso fraco, guardando o cigarro eletrônico azul escuro no bolso. Continuou a observar Guilherme, as roupas ensopadas, cabelos escorridos e mãos nos bolsos, expressão serena de quem gostava do que fazia.
"Eu não vou fazer isso!"
Exclamou através da chuva, voz de riso.
Guilherme deu de ombros, iluminado por um poste de luz.
"Eu não falei 'pra fazer."
Ele abaixou seu rosto e encontrou o olhar de Gio, a franja grudada em sua testa.
"'Cê 'tá fazendo o sorrisinho!"
Gio reclamou, cruzando os braços. Guilherme mordeu o lábio inferior, alargando seu sorriso como quem pedia por favor.
"Eu não vou dançar na chuva."
Gio impôs, deixando o celular dentro da bolsa-carteiro de Guilherme, no chão do ponto de ônibus antes de jogar a jaqueta do namorado em sua direção e partir para o meio da rua vazia.
"Dançar já é demais. Só sente um pouco."
O outro lhe envolveu num abraço morno, apertando-o contra seu peito e guiando uma valsa desajeitada ao som da chuva.

Beijos na esquina da Rua CintilanteOnde histórias criam vida. Descubra agora