Todas as cores da mágoa (Cobertas pelo cinza neutro da decepção);

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Menção de auto mutilação/cicatrizes, menção de abuso doméstico, abuso de álcool, conteúdo sexual não explícito, linguagem sexual explícita;

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)

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Capítulo Nove;

"Todas as cores da mágoa (Cobertas pelo cinza neutro da decepção)"


No farol vermelho, Guilherme desfez seu penteado em silêncio, retirando a presilha em formato de libélula e deixando que as mechas volumosas de cabelo castanho caíssem de volta para os lados do rosto.
"Então...?"
Puxou assunto, voltando os olhos castanhos para Gio com o mesmo ar carinhoso que sempre carregava.
"'Pra minha casa, eu só quero dormir e... 'Cê não bebeu, né?"
Ele cruzou os braços sobre o peito, as correntes e pulseiras tilintando pelo movimento.
"Não, alguém sempre tem que ficar sóbrio."
Guilherme respondeu num murmúrio monótono, voltando os olhos à rua e mãos ao volante, quase como se decepcionado por não receber qualquer sinal de carinho.
A viagem seguiu silenciosa, acompanhada da rádio brega tocando canções natalinas e o reflexo das luzes de outros carros nas gotas espalhadas pelo parabrisa.
Gio observou o ex por algum tempo, sem disfarçar o ato. Listou cada detalhe de sua aparência, anotando mentalmente o que não se permitiria esquecer mesmo após uma vida inteira e outras mais.
Guilherme possuía a pele em tom retinto, porém não o mesmo sépia claro de Gio ou Mateus, e sim um castanho avermelhado que poderia apenas ser descrito como canela.
Seu nariz era comprido e claramente possuía um calombo causado por algum murro bem dado, agressor desconhecido por Gio.
"Eu mataria 'pra poder beijar o seu rosto de novo."
Pensou olhos de um azul-fosco e morto agora fitando diretamente os de Guilherme.
Quando percebeu que falava, precisou centrar esforços para assimilar cada palavra dita, a voz do ex misturada ao som longínquo da garoa contra o parabrisa.
"...E eu não acho que as coisas precisam continuar desse jeito."
Ele suspirou e arrumou as mechas de cabelo castanho que insistiam em atrapalhar sua visão; Um movimento frustrado e cansado.
Gio engoliu com dificuldade, amaldiçoando a própria distração.
"Eu não vou parar de te amar, mesmo que... Mesmo que isso acabe virando um amor platônico um dia. Sabe?"
Guilherme voltou o olhar para a rua, seu semblante melancólico banhado pela luz verde-vivo de cada farol que passavam.
Devagar, deslizou uma das mãos até o joelho de Gio, parecendo pedir permissão para qualquer toque carinhoso.
"Gio, eu só sinto que apesar de tudo que a gente fez e disse, eu continuo te amando na mesma... Com a mesma força e paixão que eu sinto desde sempre."
Seus olhos brilharam em melancolia rosa, roxa e vermelha, refletindo o sinal luminoso da Sex Shop na calçada à direita.
"Não é como... Como se eu não tivesse te magoado. E vice versa, acho."
Continuou, a voz rouca e triste, mesmo certo do que dizia. Devagar, dedilhou a coxa de Gio num carinho delicado.
"Mãos de pianista."
Gio imediatamente pensou, fitando os dedos compridos do ex.
"Mas, sabe, as pessoas brigam, e isso não faz com que o sentimento só suma. E tem vezes que é essa separação que pode mostrar que a gente... A gente é mais forte que uma briga besta como a-"
"Eu transei com o Mateus."
Gio interrompeu, sentindo o ar esvair dos pulmões quando o carro freou bruscamente.
Guilherme encarou o volante, retirando sua mão da perna de Gio num movimento quase enojado.
Respirou fundo, a garganta fechada e em chamas.
Tudo queimava. Suas bochechas, as pontas das orelhas, o nariz torto e os intestinos agora revirados.
Sentia a adrenalina dolorida de quem acabara de levar um tiro diretamente no peito, pontas dos dedos geladas enquanto o sangue bombeava para manter seu cérebro minimamente racional.
"'Cê... O que?"
Balbuciou, não parecendo se incomodar com a buzina do carro de trás.
A luz esverdeada do farol iluminava as gotas de chuva sobre o parabrisa, porém Guilherme simplesmente estava longe dali.
"Fim de semana passado. No apartamento dele, e sei lá."
Gio confessou baixo, perdendo a força e coragem que antes subiam pela garganta. Agora, a azia dava lugar à dor diretamente refletida nos olhos de Guilherme.
O ex percorreu cada centímetro de pele exposta no pescoço de Gio, a realização abatendo seu rosto conforme notava os hematomas deixados há uma semana.
"... Guilherme, eu não sou 'pra você."
Afirmou em voz trêmula.
"E dói em mim também."
Acrescentou, levantando os olhos para o farol, agora vermelho.
"Eu aposto que doeu muito na hora."
Guilherme respondeu baixo, tom vazio. Ríspido, rouco.
"Eu aposto que doeu muito."
Repetiu.
Gio estremeceu, encolhendo-se no próprio casaco antes de alcançar a porta do carro, pronto para simplesmente sair e andar pelo resto do caminho.
Trancada.
Suspirou, voltando-se ao ex. Sabia que não permitiria que simplesmente seguisse a pé para casa.
"Não precisa me levar, Guilherme."

Beijos na esquina da Rua CintilanteOnde histórias criam vida. Descubra agora