Olhos azuis e emojis de berinjela

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Piadas de conotação sexual explícita;
Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)

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Capítulo Treze;
"Olhos azuis e emojis de berinjela"

Após bater na porta do quarto e se convidar para entrar, Mateus observou a figura franzina e cansada de Guilherme, curvado sobre sua escrivaninha, derrotado na batalha contra a própria exaustão durante a maratona para corrigir as últimas provas do seu primeiro semestre como professor.
Guilherme tinha os cabelos curtos, ainda que volumosos, no mesmo tom castanho escuro natural. Alguns poucos fios grisalhos se espalhavam pelas mechas, sinais de seu esforço desmedido durante o ano que acabava.
Devagar, Mateus se aproximou do amigo, apoiando a mão sobre sua nuca para chamar sua atenção de modo que não lhe assustasse.
"Guigas? 'Cê dormiu na cadeira de novo..."
Sussurrou, curvando-se e levando o rosto até o seu para lhe observar mais de perto. Os cabelos cacheados caíram para frente dos olhos dourados, fazendo seu nariz coçar.
"...Dorminhoco."
Provocou baixo, afastando-se e retirando o casacão que usava na volta do curso de dança, colocando-o sobre os ombros do outro.
"Assim não passa frio, hm? Um dia desses 'cê trava a coluna desse jeito."
Brincou, retirando a caneta ainda entre os dedos do amigo e finalmente apagando sua luminária superaquecida, deixando a porta encostada ao sair.

"Ele não vai querer me ver. Me ouvir.
Eu mereço perdão?
Eu fui um bom amigo pelo menos uma vez nas nossas vidas?"
Mateus passou as mãos por seu rosto, fechando os olhos de cílios longos e se permitindo alguns momentos a mais para a reflexão auto depreciativa.
"Fui, acho. Mas o verbo no passado.
Dizer que eu 'tava drogado não ajuda muito. Não que não seja verdade, mas mais porque isso não vai mudar a dor dele.
No fim, não tem muito a ser dito além de que... Céus, o que sequer 'pra ser dito nisso tudo?"
Ele respirou fundo mais uma vez, checando os dois lados da rua antes de atravessar na direção do prédio que, anos atrás, havia dividido com o melhor amigo.
"Antes dessa bagunça internacional que virou a minha existência."
Riu pelas narinas em desgosto ao próprio pensamento, abrindo o portão com sua chave reserva.
Repassou suas palavras durante a viagem de elevador, olhos fixos nos números que subiam devagar.
"Eu não sei se devia vir ver ele tão cedo, mas... Acho que preciso olhar 'pra ele depois disso.
Levar uma bronca. Um soco, talvez."

Gio se sentou no raso da água do mar, a areia sob as mãos e o vai e vem da espuma salgada encharcando seus jeans surrados em pouco tempo.
Não havia ninguém ali, pelo menos não perto dele naquele momento.
Não deveria ter mais de catorze anos na época, porém a sensação de paz que cada momento naquela praia lhe trazia era o suficiente para que pudesse sentir o pinicar do sal na pele bronzeada até quase uma década depois.
Ouviu passos leves na areia e logo Victor se sentou ao seu lado, os cabelos ainda longos e da cor escura natural.
"Tem lição de história 'pra amanhã."
Avisou, o tom travesso de quem sabia que nenhum dos dois realmente ligava para a tarefa datada para o dia seguinte de uma quinta-feira de sol.
Gio sorriu torto e silenciosamente se voltou para frente, compartilhando a vista da praia conforme a brisa salgada acariciava suas peles.
Um cenário simples, mas querido. Pacífico, reconfortante e vívido no fundo de sua mente, queimado ali como uma gravura em madeira, a qual admirava de tempos em tempos.
Em comparação, a lista de memórias sobre André Leblanc que sua mente consciente poderia citar não completaria uma mão cheia.
Lembrava de seus olhos, sua risada. Provavelmente almoçavam juntos às sextas.
Sabia que falava um pouco de francês, e que sua mãe era uma boa mulher.
Agora, sabia que André continuava vivo e bem, apesar de ter crescido num ambiente tão similar ao que Gio havia deixado para trás poucas noites antes do natal, junto de Leah e sua mãe.

Beijos na esquina da Rua CintilanteOnde histórias criam vida. Descubra agora