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Com o vento a soprar lá fora e as folhas castanhas a voar por todo o lado, este é mais um típico dia de outono em Holmes Chapel. Para mim, a única diferença é que o meu habitual posto atrás da secretária, no escritório, foi substituído pelo trabalho atrás do balcão, porque um dos funcionários faltou hoje e eu tive de vir ajudar. Por algum motivo que desconheço, hoje toda a gente resolveu vir tomar o pequeno-almoço à mais famosa padaria local e, por isso, os meus funcionários não têm mãos a medir.

Estou a tratar de fazer um cappuccino para a mesa 4, quando o sininho da porta toca novamente, indicando a chegada de mais um cliente. Suspiro. Hoje vai ser um daqueles dias longos e exaustivos. Quando o pedido está pronto, eu coloco tudo no tabuleiro e aviso Leah de que pode levá-lo à mesa. Só quando levanto o meu olhar é que reparo na figura alta, em frente ao balcão, com um sorriso tão característico e calmo, que tão bem conheço.

- Hey, Liv. – a sua voz grossa e rouca cumprimenta-me, trazendo consigo um lote de memórias muito grande e com algumas delas demasiado avassaladoras. Por momentos, sinto que até me falta o ar.

Quero dar-lhe bater-lhe, gritar com ele e mandá-lo sair daqui. Mas isso seria uma atitude muito pouco profissional, tendo em conta que sou a gerente e a dona deste sítio que, por acaso, está cheio de gente.

- Luccas, eu vou até ao meu escritório tratar de uns assuntos. Se precisarem de alguma coisa, avisem. – aviso, seguindo a passo apressado para as traseiras do restaurante, onde o meu escritório se situa num cubículo.

Eu sei que ele está a andar mesmo atrás de mim, seguindo os meus passos, como eu achei que ia fazer. Por isso, quando paro, eu respiro fundo antes de me virar para voltar a encará-lo. E quando me viro, a minha mão choca com a sua bochecha. O olhar dele não fica surpreendido, porque ele sabia exatamente que só poderia esperar uma reação destas da minha parte.

- Hey, Liv? – eu replico as suas palavras, num tom de desdém e mágoa – Depois de dois anos sem me dizeres absolutamente nada, achas que podes chegar aqui com o teu sorriso encantador e dizer apenas hey, Liv? Mereço mais do que isso, seu idiota! Mereço uma explicação!

- Desculpa. – ele murmura.

- Não, eu não quero um pedido de desculpas! – grito, furiosa – É preciso muito mais do que isso para eu te perdoar! Há dois anos, foste-te embora para Nova Iorque porque tinhas ganho um contrato incrível com uma editora, dizendo-me que não querias estragar a nossa amizade e que, por isso, preferias terminar a nossa relação em bons termos para continuarmos amigos, como sempre. E eu aceitei! Porque sabia que era o melhor para ti e para nós. Porque sabia que merecias aquele contrato e que, estando tanto tempo longe um do outro, a nossa relação não sobreviveria. Mas tu prometeste-me que a nossa amizade ia manter-se. E logo após três meses deixaste de ligar, de responder às mensagens, de dar sinais de vida! – continuo, enraivecida com a sua atitude – Eu só sabia que estavas vivo porque ias pondo like nas minhas fotos do Instagram e porque, a dada altura, a tua irmã deixou de ser capaz de me mentir. Ao longo de dois anos, tu vieste, pelo menos, duas vezes a casa sem me teres procurado. Sabias exatamente onde me encontrar, mas nem se quer procuraste. Fugiste de mim, até. Pediste à tua irmã e à tua mãe que não me contassem que estavas cá. E agora chegas aqui e dizes hey, Liv? Vai-te foder, Harry!

- Desculpa. – ele repete e eu preciso de me controlar seriamente para não voltar a berrar com ele. Estou tão chateada! – Eu sei que cometi muitos erros contigo ao longo destes 2 anos, mas é por isso que estou aqui agora. Para os remediar. E para te explicar por que fiz o que fiz. As coisas têm uma razão de ser, Olivia. Achas que desapareci da tua vida porque me apeteceu? Porque me fartei de ti? Tu és a minha melhor amiga, desde sempre, e és a mulher que eu amo, Liv.

Don't Give Up On Me | Harry Styles ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora