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 - Olivia, a Gemma está ali fora para falar contigo. – Bryan, um dos meus funcionários, avisa-me após bater na porta e eu dar licença para entrar.

- Ah, sim. Diz para ela vir aqui ter comigo. – peço e depois sorrio – Obrigada, Bryan.

Bryan, Leah, Luccas e Alisha são os meus funcionários aqui da padaria, mas são também meus amigos. Leah e a Alisha andaram na mesma escola que eu, sendo apenas dois anos mais velhas. Bryan trabalha aqui há imensos anos e era o braço direito da minha mãe. Luccas é o mais recente, tendo começado a trabalhar aqui no ano passado, após Lucy ter saído para ir viver para Londres. Eles têm sido fundamentais e têm-me ajudado imenso em tudo, por isso sinto-me muito agradecida por tê-los aqui. Por isso, eu tento realmente mostrar-me sempre calma, paciente com eles e ser o mais prestável possível, tal como têm sido comigo.

- Posso? – a voz doce de Gemma pergunto e eu desvio o olhar do ecrã do computador para si. Ela está a sorrir e, quando sorri, ela fica ainda mais parecida com o Harry.

- Claro que sim. – sorrio-lhe.

- Então, como estás? – ela pergunta, após trocarmos um abraço e ela ocupar a cadeira em frente à minha.

- Tirando o facto de que tenho um monte de papelada para arrumar porque ontem não fiz nada? Vou-me aguentando. – respondo.

- Liv, quero que sejas honesta comigo. Sabes que podes dizer a verdade... - a Gemma observa e eu assinto, sorrindo.

- Eu sei que sim, Gem. A verdade é que não sei muito bem o que estou a sentir e também não quero pensar muito nisso. – assumo, suspirando – Sinto-me muito dividida sobre toda esta situação e preciso de assimilar melhor as coisas. Estou magoada, estou triste. Quero ouvir o Harry sobre tudo isto, tentar perceber melhor, mas antes preciso de... Respirar. Sinto que tenho prendido a respiração por dois anos e agora ele voltou e eu posso respirar, porque ele está bem. Mas ao mesmo tempo... - grunho em frustração – Isto é muito complicado.

- Eu sei... Toda esta situação é muito difícil de digerir, para todos. – Gemma concorda – E sei que é particularmente difícil para ti, tendo em conta os últimos meses da tua vida.

- Estou cansada. – confesso, sentindo os olhos a ficar molhados – Tenho dado tudo de mim nos últimos meses para que este negócio se mantivesse, tentado ajudar o meu irmão, embora ele esteja muito mais confortável a fazer isto do que eu. Tenho-me tentado manter forte para conseguir aguentar tudo... E agora que o Harry voltou, sinto-me como se ele tivesse premido um gatilho dentro de mim que está a trazer todas as emoções dos últimos meses à tona. Sinto que está tudo a cair-me em cima agora e eu quero manter-me ao cimo da água, mas sinto que vou afundar. – as lágrimas, eventualmente, começam a rolar pelas minhas bochechas e os soluços escapam pelos meus lábios – Tenho saudades da minha mãe e saber que não há nada que a vá trazer de volta dá cabo de mim. – fungo – Tenho tentado continuar o legado dela, honrar o trabalho dela e o facto de ela ter dedicado a sua vida a este que é o negócio da família para poder continuar a preservar a sua memória... Mas acho que, no meio de tudo isto, me esqueci de fazer o meu luto por ela. Sinto que tentei ajudar toda a gente e não deixei que ninguém me ajudasse. Isolei-me. A única pessoa a quem eu poderia pensar em pedir ajuda não estava em lugar nenhum para eu a poder encontrar, então achei que tinha de lidar com tudo sozinha. Agora que ele voltou, começo a perceber o erro que cometi. Porque agora está tudo a cair em cima de mim de uma só vez.

- Hey, Liv, respira! – Gem ordena, levantando-se da cadeira e agachando-se ao meu lado, tomando-me num abraço – Os últimos meses da tua vida têm sido muito complicados. Tens-te dedicado imenso ao negócio, abdicaste da tua vida, dos teus sonhos, do teu trabalho, para isto, para honrares o trabalho da tua mãe. Isso é um ato de extrema coragem e bondade. E sim, isolaste-te. Não deixaste que te ajudássemos. Quiseste lidar com o teu luto e a tua dor sozinha e eu entendo isso. Afinal... Foi isso que o Harry fez, não foi? Não estou a desculpá-lo, mas todos temos tendência a esconder as nossas fraquezas daqueles que amamos. – ela observa e eu concordo, mentalmente – O regresso dele, o facto de ele te ter contado a verdade toda, voltou a deixar-te mais frágil e a trazer ao de cima todo o sofrimento que continuas a ter guardado dentro de ti. Mas tens de o deixar sair, Liv, para que não te sufoque. Tens de o aceitar e de o sentir. A dor precisa de ser sentida, para a podermos ultrapassar. Precisas de resolver todos esses conflitos dentro de ti para poderes ficar bem e começar uma nova fase da tua vida. Precisas de resolver-te contigo mesma, antes de conseguires resolver-te com o Harry. E, sinceramente, acho que vocês se podem ajudar muito um ao outro. Mas, antes, precisam ambos de estar bem convosco mesmos.

Eu respiro fundo, tentando afastar as lágrimas e acalmar a respiração. Sinto-me aliviada, como se tivesse tirado um peso de cima. As palavras de Gemma fazem sentido na minha cabeça, ela tem razão. Eu preciso de ultrapassar esta dor. De a sentir para poder aprender a viver com ela. Preciso de resolver tudo o que está dentro de mim para, depois, poder ouvir o Harry, perceber aquilo por que ele passou e, talvez, perdoá-lo.

- Obrigada. – sorrio, abraçando-a – E desculpa se acabei por te afastar com tudo o que se passou.

- Não tens de pedir desculpa. Aquilo por que passaste é terrível. – a Gemma sussurra, beijando os meus cabelos – Só quero que saibas que continuas a ter-me aqui para ti. E a minha mãe também anda preocupada contigo. Deixaste de ir lá a casa... E sei que agora ainda tens mais motivos para não ires lá, mas acho que a minha mãe gostaria de te ver. Além disso, sabes como ela é uma ótima conselheira.

- É... Acho que ando a precisar de uma boa conversa com ela. – concordo – Vou combinar algo. Podes dizer-lhe que ligo em breve.

- Certo. – ela sorri – E Liv... Eu sei que és tu quem está no comando aqui e que o queres fazer, mas acho que devias considerar pedir alguma ajuda aos teus tios ou assim, para poderes recompor-te e organizar a tua vida.

- Eu sei... - murmuro – Já tenho pensado nisso, mas sinto-me mal por obriga-los a deixar as suas vidas para virem tomar conta disto.

- Não foi isso que tu fizeste? Não tens de arcar com isto sozinha, Liv. – a Gemma chama-me à razão – Como disseste, isto acaba por ser a praia do teu irmão. Uma licenciatura em gestão... É mais ou menos o que ele gosta. Agora tu? Nunca quiseste isto. Sempre te ouvi dizer à tua mãe que não querias trabalhar permanentemente aqui. Será que ela queria que abdicasses por completo dos teus sonhos? Acho mesmo que devias falar com o Ethan sobre isto e, em conjunto, decidirem o que é o melhor para os dois. Mas não tenho nada a ver com isso, é só uma opinião.

- Eu sei. E obrigada por seres sincera. – sorrio, abraçando-a novamente.

- Agora vou deixar-te sozinha com os teus pensamentos e o trabalho. Promete-me que ligas se precisares de alguma coisa.

- Prometo, Gem. – eu sorrio – Obrigada, novamente.

- Para de me agradecer. – ela sorri, piscando o olho – Cuida de ti. – ela pede, antes de me deixar a sós com os papeis, o computador e o turbilhão dos meus pensamentos. 

***

Um capitulo ligeiramente mais pequeno em que conhecemos um pouco mais da relação da Gemma e da Olivia e onde percebemos um pouco mais tudo aquilo por que a Liv esta a passar. Espero que tenham gostado!

Don't Give Up On Me | Harry Styles ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora