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Liv

Não sei exatamente que horas são quando acordo, mas sei que é cedo, porque a luz que entra pelas frechas dos estores ainda é bastante ténue. Desembaraço-me ligeiramente dos braços do Harry para conseguir chegar ao meu telemóvel e ver as horas. São sete da manhã, mas eu estou verdadeiramente desperta.

Fico imóvel durante alguns minutos, apenas a contemplar o rosto adormecido do Harry. As suas pálpebras, com as suas longas pestanas, suavemente cerradas, os seus lábios semiabertos, os seus caracóis espalhados pela almofada branca, o seu braço repousado sobre o meu tronco e as suas pernas entrelaçadas nas minhas. Não consigo evitar o sorriso que brota dos meus lábios, perante o retrato que observo. Tive saudades de acordar assim – meu Deus, tive tantas saudades!

Depois de vários minutos de contemplação, em que o meu cérebro viaja pelas recordações da noite passada, decido levantar-me da cama. Saio com cuidado, para não o acordar, e vou ao seu armário buscar uma sweat para vestir. As minhas mãos param na velha camisola da faculdade e eu resgato-a, vestindo-a e saindo do quarto. Ao chegar à sala, os meus olhos param na minha mala e no envelope por cima dela, que contém o manuscrito que o Harry me entregou para ler. Ainda é bastante cedo, por isso decido que é a altura ideal para o ler – até porque estou muito curiosa.

Resgato uma das mantas dobradas no canto do sofá para cobrir as minhas pernas despidas e sento-me confortavelmente no mesmo, preparando-me para ler o manuscrito. Sei que vai ser forte, tenho a certeza disso, porque o Harry me disse que não é aquilo que ele costuma escrever. E ele sempre foi ótimo com palavras, a criar histórias novas, mas eu sinto que o que estou prestes a ler nada tem que ver com isso.

Apercebo-me que estou certa no final do primeiro parágrafo. Este livro é autobiográfico e é sobre a fase mais negra da vida dele, sobre a depressão. Sei automaticamente que ler isto vai doer, mas também sei que ele ter escrito isto é muito importante e foi fundamental para ele fechar este capítulo da sua vida, por isso apenas continuo.

A partir do momento em que começo, eu simplesmente não consigo parar, porque a escrita do Harry é (e sempre foi) viciante. Ele tem o dom de prender o leitor às suas palavras, porque ele é capaz de transmitir emoções através delas e isso é algo muito especial. A dada altura, eu sinto lágrimas quentes escorrerem pelas minhas bochechas, mas não as travo. Sinto cada uma das palavras dele e preciso de deixar que todas estas emoções fluam, porque sei que esta leitura também me vai tocar profundamente e vai ser a última peça que eu precisava para deixar tudo isto para trás das costas.

Eu não sei exatamente em quanto tempo eu leio o livro, mas eu sei que leio as 130 páginas A4 do manuscrito de uma só vez, quase como se tivesse sustido a respiração durante toda a leitura, porque, quando termino, eu preciso de libertar um grande suspiro, assim como todas as lágrimas que ainda tenho. Sei que devo estar com um aspeto horrível, de olhos inchados e cara manchada, mas sinto-me aliviada. Pelo Harry, por ele ter podido deitar tudo isto cá para fora, por ele estar preparado para partilhar o seu testemunho, por ele ter a coragem de se expor desta forma, sem qualquer filtro. Tenho muito orgulho nele! E estou-lhe imensamente grata por me ter permitido ser a primeira a ler isto, por me ter aberto o coração dele desta forma. Apesar de ele já me ter contado tudo o que se passou, da sua perspetiva, ler isto ajudou-me a compreendê-lo ainda melhor, sobretudo porque me revejo nalgumas das suas palavras. Neste momento, já não lhe guardo qualquer rancor ou mágoa ou desconfiança, porque sei que ele passou pelo inferno e conseguiu arranjar forma de voltar para mim. Se isso não é amor, então o que é?

- Liv? – ouço a sua voz rouca chamar por mim, provavelmente, por ter notado a minha falta na cama.

- Estou na sala. – respondo, reparando que a minha voz soa mais frágil do que eu pretendia.

Don't Give Up On Me | Harry Styles ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora