POV Yeji
Sinto meus olhos pesarem o que me impede de os abrir, superficialmente passo a mão onde pareço estar deitada, uma superfície macia, acredito que lençóis me rodeiam, tento erguer uma das mãos, porém me sinto fraca. Abro meus olhos aos poucos, uma dor atras da minha orbita ocular me atinge " tudo embaçado" tento mover meu corpo dolorido e cerro os olhos para tentar enxergar melhor. Para minha surpresa tinha mais alguém ali, em pé ao meu lado.
– Olá? Você está acordada? – a voz era feminina, suave. Minha memória é excelente, eu nunca havia escutado antes – Não se preocupe não queremos fazer mal a você. – "Fazer mal?" aí que eu me toco, a viagem. PELAS GALÁXIAS. Será que eu realmente viajei? E onde está Ryujin? E a desgraçada da Lia? Era tudo culpa dela! Me agito um pouco, uma energia torna ao meu corpo, tento me erguer, o que foi em vão, eu estava presa, algo envolvia meus braços e pernas. Me debato e logo volto a escutar aquela voz, uma mão encosta em meu braço.
– Ei, se acalma, só a prendemos por não saber de onde vens. – Finalmente arregalo meus olhos. A pessoa ao meu lado, uma menina esguia, cabelo preto e longo parecia gentil, era até mesmo possível enxergar ternura em seu olhar. Olhos grandes, rosto simétrico e sem se quer uma imperfeição. Se alguém podia ser de outro planeta acredito que seria ela.
Dou um grunhido baixo enquanto olho ao redor, o que calhou de me acalmar, Ryujin estava deitada, ainda inconsciente, em uma espécie de cama um pouco afastada. Suspiro em alívio e me deito. Olho para a Menina ao me lado e falo
– Me solta, por favor – tentei passar confiança em uma voz firme.
– Ela me pediu para não fazer nada imprudente até que voltasse, não posso, desculpa.
Olhei fundo em seus olhos em súplica.
– Por favor, meu corpo dói. – Fiz minha melhor expressão de coitada. Certamente, não menti, mas era só uma desculpa para ela me soltar.
Ela pareceu ponderar sobre a situação. Me olhou com desconfiança, mas enfim decidiu
– Tá, mas por favor não faça nada pra me machucar e tente se manter deitada, minha irmã já está voltando e ela não vai ser misericordiosa caso algo ocorra. – Proferiu ainda com a voz calma e agora um pouco receosa. Assenti com a cabeça.
Ela então foi até a parede ao seu lado, atras de mim, e pareceu apertar botões com o seu indicador. Senti as amarras se afrouxarem e depois desaparecerem, não consegui focar no pensamento de como aquilo foi estranho, levantei-me em um só pulo e corri para onde Ryujin estava. A dona das madeixas negras pareceu se assustar, mas eu nem me importei ."Como estou feliz que você está bem" olho pra feição da loira, tão serena, sorri pensando que essa não era a expressão mais comum dela, segurei sua mão e deixei um beijo em sua testa "Ela está bem".
π
8 horas antes da viagem...
Abro os olhos e sinto uma luz efêmera atingi-los, percebo ser de um carro que passara pela janela, após ter trabalhado no dispositivo a manhã e à tarde toda em meu quarto, acabei adormecendo "merda, dormi na mesa de novo" enrijeço meu tronco e me mexo desconfortável na cadeira, pego o celular a minha frente e início o gravador de voz.
– Dia 15 de fevereiro de 2045, 21 horas e 17 minutos - Olho para a mesa cheia de ferramentas e livros, dou um suspiro forte, e continuo – Após cerca de 18 meses estudando e trabalhando sem parar em um dispositivo capaz de fazer transporte intergaláctico, sinto que estou chegando em algum lugar. – Escuto a porta se abrir, mas não olho pra trás, sei exatamente quem é essa hora da noite no meu quarto, só podia ser uma pessoa. Prossigo com minha fala – Hoje pretendo fazer mais um teste, O Teste R, vou medir a força e a energia que será gasta e fazer ajustes caso sejam necessários. – Pego o dispositivo em mãos, giro a cadeira e dou de cara com minha melhor amiga, em pé fechando a porta com muito cuidado, bem quietinha (como a instrui diversas vezes até ela aprender, já que ela sempre chegava fazendo muito barulho e vez ou outra atrapalhava meus áudios e ajustes) concluo o áudio – Apesar de estar incerta acerca do que esperar desse teste de hoje, estou confiante nas minhas novas descobertas em meu recente estudo sobre a teoria das cordas e certa sobre o valor das informações que coletarei.
– Eu já falei sobre como você fica fofa assim toda séria falando essas coisas de gente inteligente!? - É a primeira coisa que ela fala, com um sorriso largo e num tom muito brincalhão, que é o tom usual dela.
– Ryujin, você fala isso toda vez que entra no meu quarto e eu to trabalhando, inclusive você podia ter me ligado, uma mensagem de aviso também não seria má ideia. Mas acho que você sente prazer em aparecer do nada, né? - Digo inexpressiva, mas com um leve tom de humor, só ela conseguia aflorar isso em mim.
– Não, não podia não. E você bem sabe, você nunca atende ou responde. Está sempre aqui nesse quarto mexendo nesses fios e com o rosto enfiado nesses livros, esquece completamente que tem um mundo lá fora! – ela disse enquanto saia da frente da porta e se jogava na minha cama, para logo depois se apoiar em seus cotovelos e olhar para mim. – E é por isso que eu estou aqui, sou sua salvadora – ela abre um largo sorriso e com um olhar pretencioso diz – Hoje nós vamos na festa do Felix.
Olho para ela cerrando levemente os olhos, como quem diz "Jura? nem ferrando!"
– Bom, você como minha preciosa e única amiga devia saber como ninguém que esse "eu esqueço o mundo lá fora" é porque estou seguindo meu sonho aqui dentro, eu não vou desviar do meu objetivo para ir a alguma fest...– sou interrompida.
–Ah Yeji pode parar, esse discursinho eu já conheço e você não vai me enrolar com ele dessa vez, é seu último mês do ensino médio, você precisa ir a pelo menos uma festa e vai ser essa! não aceito um não como resposta, vamos, por favor?!! – disse vindo em minha direção, parou em frente a cadeira em que eu estava sentada encostou as mãos no apoio da mesma, uma de cada lado me encurralando, e alinhou nossos rostos, me encarando esperançosa. – Eu prometo que nós vamos nos divertir muito, eu e você. – Sussurrou pela proximidade.
Ter ela próxima assim era muito comum, eu e Ryujin somos amigas desde os 8 anos de idade, pretendemos ir a mesma faculdade, se possível dividir um apartamento, vivemos e sonhamos muitas coisas juntas ao longo dos anos. Mas por algum motivo, acho que talvez aquela proximidade ou o hálito dela batendo no meu rosto enquanto sussurrava e me olhava nos olhos, tão próximo, me trouxe uma sensação que eu nunca sentira antes. Isso me desestabilizou.
Com uma mão dou um leve empurrão no ombro dela e me levanto da cadeira um pouco apressada em um só pulo, fico de costas pra ela. E apesar de sentir meu rosto quente sou muito boa em não fazer expressão alguma então espero um instante pra me virar e lá está ela com um sorrisinho no rosto as mãos pra trás do corpo e ainda aguardando minha resposta. Me viro e juro que não sei por que digo...
– Vamos.
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Teste R
Teen FictionAno 2045. Yeji é filha de um grande cientista, e dele puxou muita coisa, a inexpressividade e a genialidade são algumas delas. A menina prodígio de 18 anos finalmente descobre a solução para o seu tão sonhado objetivo: Comunicação entre galáxias e a...