Conto 21° - Elo

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Sempre me senti interligado à família, aos amigos. Me sentia obrigado a cumprir expectativas deles quando antes mesmo não cumpria sequer as minhas. Talvez essa ligação me faça de tolo, um homem-criança ingênuo e fraco, que não percebe a diferença entre o certo e o errado. É engraçado a maneira com que me tratam, as vezes até me sinto estupefato, mas jamais me surpreendi diante de todos esses fatos. A realidade tende a ser assim, zelamos pela afeição, pois temos anseio pelo o que não temos. O humano tem esse instinto primitivo até hoje, a avareza, a arrogância, mesmo que seja na sutileza.

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Uma característica que acho interessante em minha pessoa é que não derramo lágrimas à anos, não importa o quanto me encontre em detrito sofrimento, não lacrimejo. 

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Ando por corredores brancos e vermelhos, as vezes, paredes de madeiras negras e um assoalho áspero. Sinto tudo ao meu redor, especialmente em meus pés, já que estou descalço. Tento preencher essa lacuna carente em novos hobbys e qualquer meio de abastecer-me de serotonina. Sinto-me inerte à vontade de apenas deitar-me e não fazer nada, ficar estático e paralisado, pelo medo de não ser nada mais que um fardo. Antes fosse um de fato, mas está dentro de mim, da minha alma, mas não tem problema. Um sorriso que treinei por tanto anos, se tornou tão real quanto uma teoria sem fundamentos. Tudo isso me deixa desorientado, um elo que não quebra, algo que me deixa com o gosto amargo. Supero isso, apenas vivendo, sorrindo e fazendo graça, pessoas que nos abandonam por escolhas são fáceis de superar, pessoas que deixam o mundo terreno, são difíceis de suportar. Eu quebro. Eu desmorono. Eu choro.

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Uma criatura de olhos brancos e cintilantes me oferece a mão, com promessas de outro universo, outra vida. Eu recuei a primeira vez, pois temia o desconhecido e suas propostas sugestivas. 

Na segunda, hesitei, pois tinha por quem lutar.

Na terceira, sucumbi à sua barganha, e me tornei algo sujo, sem valor e ressentimentos. Um ser de peito vazio e sórdido. Desprezível e imune ao ódio.

Agora, aventuro-me entre corredores azuis, e mais azul quanto à dois passos atrás. Percebi que me limpava mais e mais daquela sujeira espacial, me sentia mais incumbido de ligações como da última vez. Recuar, e aceitar que o orgulho me feria, me fez ver que amar todos vocês, era o que eu queria. Agora, no fim do corredor, só existia a madeira negra e áspera, meus pés sentiam na carne cada átomo daquela matéria orgânica, a composição e sua fricção ao ser pisada. Me sinto livre, me sinto leve, me sinto ligado à todos que amo, e isso fez me amar cada dia mais. As obrigações não existiam mais lá, eram apenas simples tarefas com múltiplas escolhas. Eu me sinto no livre-arbítrio do elo com quem me ligava.




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