CAPÍTULO 33

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  Quando eu acho que tudo isso não pode piorar mais ainda o mundo vem e diz que "sim". Meus dentes doem pela pressão que estou fazendo ao travar o maxilar. Começo a sentir gosto de sangue na minha boca e acabo afrouxando o aperto. Engulo o nó que está se formando na minha garganta. Não posso negar que agora que o Jake completou seu raciocínio, que sim ele pode estar certo. E isso faz eu ficar mais assustada ainda. Eu dormi e acordei nos braços de alguém que possivelmente está querendo me matar e isso faz eu ficar mais assustada. Eu poderia qualquer dia não acordar mais, eu poderia ter morrido, mas por que ele não me matou?
– Isabelly? — minha visão começa a focar de novo e vejo o Jake olhando para mim.
– Ah — olho para o computador. — Bom, você pode estar certo. E na verdade eu tenho medo de você estar certo. — confesso.
– Eu sei que essa situação deve ser complicada para você. — ele coça o nariz. — Mas você vai precisar ser forte.
– Eu sou forte. — afirmo.
– Eu sei que você é. — um sorrisinho fraco se forma em seus lábios.
Seu sorrisinho brilhante faz meus olhos brilharem e Seus lábios carnudos parecem tão macios e bons. Esse sentimento não é hoje, esse sentimento de querer toca-lo de forma carinhosa. De passar meus dedos sobre seu rosto e seus cabelos negros. Seus olhos tem o poder de me acalmar, enquanto fazem eu ficar hipnotizada e meu coração ceder. Esses desejo é antigo, sempre pensei como seria seus lábios nos meus.
  Isabelly para de pensar essas coisas e volta a realidade.
Espera! Por que estamos nos aproximando? Por que nossos nariz estão quase se tocando?
AAAHH!! — Solto um grito de medo e vejo ele se rapidamente se desaproximar assustado.
– O-o que f-foi? — sua voz ofegante pergunta.
– T- Tem algo nos meus p -pés. — Algo quente e peludo sentou nos meus pés e não consigo olhar para baixo de medo.
Jake empurra a cadeira dele e se abaixa até meus pés pegando algo e solta uma gargalhada gostosa, como nunca tinha escutado.
– É o Besourinho— Sua voz sai entre a gargalhada. — Meu gato Isabelly.
Ele ergue um gato preto dos olhos amarelos meio verde e fica acariciando sua cabeça que repousa em seu peito agora.
– Aí meu deus um gato! — levanto da cadeira igual uma louca e ataco o gato, acariciando sua cabeça.
– Você gosta de gatos? — Jake me pergunta enquanto nossas mãos se encostam quando ele solta o gato no meu ombro.
EU AMO! — passo meus dedos sobre as costas do gato. Ele começa a ronronar enquanto fingi estar dormindo em meu ombro. — Eu tenho uma em casa, ela se chama Lia.
– Ah sim. Pelo menos o nome dela é bonito — Rindo ele fala se sentando na cadeira.
–E o do seu é engraçado — me sento puxando o gato em meus braços, para deitar ele em meu colo. — Por que esse nome peculiar, "besourinho"? — começo a rir.
–Hum bom. — ele esfrega as mãos. — Eu achei ele na rua um dia a noite e ele estava querendo comer um besouro que estava caído no chão. Ele estava magro, então decidi adotar ele.
Sorrio escutando isso.
– E essa é toda a história do nome dele? — pergunto.
– Bom, não. — ele coça a cabeça olhando para baixo.
– Ah e qual é o resto? Conta vai, estou curiosa em saber. — animada digo.
Vejo suas bochechas ganhando um tom avermelhado.
– É bom, você vai achar isso ridículo tenho certeza.
– Não vou Jake, conta vai! — peço.
Ele solta solta um suspiro.
– Promete não rir?
– Prometo. — prontamente afirmo.
Ele se encosta na cadeira dele.
– Quando eu tinha lá uns 10 ou 11 anos eu era viciado em assistir aquele seriado "Todo mundo odeia o Chris" eu lembro que na época foi um sucesso, era lançamento e todo mundo assistia, e eu também. Assisti até os 14 anos mas isso não importa. — ele sai das lembranças. — Tinha um episódio que eu mais gostava. Eu não sei se você já assistiu ou não mas era um em que o Chris tinha que cuidar de um ovo como fosse seu filho. E ele começou a chamar o ovo de besourinho. Eu achei Ilário aquilo. No fim eu queria um animal pra colocar o mesmo nome, só que minha mãe não deixava por que ela tinha alergia a pelos de gato e cachorro não tinha como nós cuidarmos já que nossa casa era pequena e na cidade. Então aí quando esse gato aí apareceu na minha frente depois de anos e eu com uma vida digamos que "normal" e naquela situação eu pensei "por que não?".
Ele mal termina e eu já estou morrendo de rir com o besourinho no meu colo.
– Você disse que não iria rir! — com uma carranca ele olha.
– D-desculpa — tento falar ainda rindo. — É que esse gato — aponto para o besourinho no meu colo. — Tem a história mais hilária de como seu nome foi escolhido.
Jake revira os olhos tentando segurar o riso mas seja lábios são traiçoeiros e traem ele, fazendo seus dentes brilharem em um sorriso.  
– Eu deveria ter pensando nisso no momento que você disse o nome do gato — falo decepcionada. — Eu amava esse episódio também, tanto que depois eu ficava com dó de comer ovos por causa da história trágica do besourinho.
Seu sorriso se abre mais ainda, e sua gargalhada atravesa o quarto fazendo eu adorar o som que ela tem.
– E eu achando que eu era bizarro. — ele diz sorrindo.
– Ei — me aproximo e empurro seu braço. — Olha como fala.
– Desculpa — ele continua rindo.
Uma dúvida atravessa minha mente.
– Ei Jake você disse que não podia por causa da sua mãe, mas e onde ela está agora?
Seu sorriso desaparece em questão de um segundo e sua expressão se fecha. Seus olhos perdem o brilho e são substituído por uma escuridão e de repente o quarto parece que ficou frio de mais.
– Não precisa falar nada — tento concertar minha pergunta.
– Ela morreu. Foi vítima de um assalto em um metrô. Uma bala perdida foi atingida nela. — sua voz perde a força.
–  Droga! Desculpa. — digo tentando demostrar meu arrependimento. 
– Não, você pode perguntar o que quiser Isabelly. Está tudo bem, só que eu nunca tive nenhuma conversa assim com ninguém. — Normalmente ele fala.
– Não Jake eu não preciso saber de nada. Assustos assim devem ser dolorosos.
– Minha mãe morava em duskwood sabia? — ele olha para mim rapidamente e abaixa o olhar se concentrando em suas mãos. E eu fico em silêncio deixando ele desabafar.
– Quando minha mãe descobriu que estava grávida do pai da Hannah e da Lilly  ela foi embora daqui porque eles estavam  quase se casando. Minha mãe e o Martin eram amantes — vejo seu maxilar travar e ele tentar Aliviar antes de continuar — Como minha mãe era apenas a "amante" ela decidiu sumir da vida dele e ir embora para a Meersburg. Quando eu já tinha 14 anos eu questionei ela do por que eu tinha o sobrenome Donfort, na verdade eu já tinha questionado ela antes o do porque eu tinha esse sobrenome desconhecido no meu nome, mas ela sempre falava que não era o momento certo para contar. Mas nesse dia  que eu perguntei ela contou sem eu precisar insistir. Ela contou que quando eu nasci ela mandou um recado para o Martin e ele veio correndo ali. Ela contou que eu era filho dele, só que ele não acreditou pois ela tinha sumido. Mas no fim acabaram fazendo um teste de DNA e registrando a mim com o seu maldito sobrenome. — seus punhos se fecham. — Ele estava disposto a ficar com ela e comigo, e largar a mãe da Hannah e da Lilly, mas a mãe delas estava no começo de uma gestação na época, e minha mãe não quis que ele largasse a mulher dele grávida, porque no final a mulher com quem ele estava casado iria ter um filho dele. E se ele gostasse mesmo dela ela não seria a "amante". Porém mesmo assim  Martin ainda gostava da minha mãe. Eu soube que  Ele ficou louco quando ela sumiu. Minha avó disse que ele se casou por negócios apenas com a mãe da Hannah e da Lilly. Enfim depois que minha mão aceitou ser sua amante de novo, ele só mandava uma renda para a minha mãe e nunca mais apareceu. Por isso eu nunca tinha conhecido ele.
– Droga Jake eu sinto muito mesmo — em um gesto involuntário eu pego em sua mão. Ele olha para mim com, com seus cabelos caindo sobre o seu rosto.
– Você pode desabafar mais se quiser Jake. Eu imagino que você nunca pode se sentar com alguém e ter essa conversa mas eu estou aqui de ouvidos abertos e disposta a ouvir você.
  Ele pisca várias vezes olhando para meu rosto e ali em seus olhos a agradecimentos para mim.
– Eu tinha 15 anos quando ela morreu.  Sabe ela sempre falava que não era o momento certo de contar a verdade para mim mas de um dia para o outro quando eu fiz 14 ela contou, e quando eu já estava com 15 ela foi morta? As vezes eu acho que ela sabia que alguma coisa iria acontecer para ela. Depois disso minha avó e meu avô cuidaram de mim, mas eles não tinham uma vida financeira boa e estavam cada vez mais doentes, então eu decidi entrar nesse negócio de hacker quando eu tinha 16. Eu já andava mexendo nessas coisas, mas era apenas um hobby até eu conseguir descobrir que poderia ganhar dinheiro com isso, então comecei. No final das contas eu acabei entrando em coisas erradas e querendo dar o de mocinho expondo algumas coisas do governo, e políticos. Eu era muito imaturo não pensei nas consequências. Sei que foi o certo mais eu deveria ter pensado, pra começo eu já nem deveria ter tentado ganhar dinheiro fácil, só piorou tudo, mas eu estava correndo contra o tempo e contra meu coração. Mas Infelizmente não adiantou nada o dinheiro que eu ganhei, minha avó estava com câncer em estágio alto já e meu avô sofreu uma parada cardíaca quando eu fiz 17 anos, ele era fumante e isso afetou seus pulmão e várias partes importantes como o coração. — sua voz é pesada de emoções que ele tenta não deixar escapar. — A cada ano a vida me derrubava de formas diferentes — ele tem um sorriso triste no rosto e fecha seus olhos.
  Sinto meu coração ficando apertado. Achei que minha situação foi difícil mais a dele também foi, os motivos são diferentes mais os dois sofreram, ele não teve culpa mais os atos mal pensado dele levou ele a pagar algo igual os meus atos fizeram eu pagar. Mas no meu caso eu fui o problema de tudo, ele já não teve escolhas desde quando nasceu. Acho que compartilhamos dores em que não expressamos e talvez isso faz nós nos sentirmos conectados um ao outro. Ele ficou sem ninguém muito novo, nada foi fácil para ele e até agora não é, a única companhia que ele achou foi um gato. Só que  Agora  eu entendo por ele ser assim. Ele teve que reprimir seus sentimentos e fingir que nem existiam, ele nunca pode se aproximar de alguém sem correr perigo e muito menos desabafar, me sinto muito mal por ele, ele e nem ninguém merece isso.
Inclino meu corpo em sua direção e agarro sua mão. Ele rapidamente abre os olhos e olha para nossas mãos, dou um sorrisinho pra ele.
– Deve ter sido horrível tudo isso. Mas você foi forte e não se perdeu. E esse é o mais importante. — ele fica olhando nos meus olhos enquanto eu falo. — Mas saiba que você não está sozinho mais, você tem o besourinho agora. E dizem que os gatos são ótimos amigos mesmo eles parecendo aqueles adolescentes emburrados. — Sorrio pegando sua mão e colocando sobre o o gato . — Olha, agora você tem um melhor amigo e nunca mais vai se sentir sozinho.
  Os olhos do Jake brilham tanto como se ele quisesse chorar até. Ele funga e passa o mão sobre o nariz.
– Obrigado. — Sua voz sai baixa enquanto ele olha pra mim.
– De nada. — respondo sabendo que seu obrigado é por eu ter escutado tudo o que ele disse e não ficar batendo nas mesmas teclas com apenas "sinto muito, sinto muito e sinto muito".

A VINGANÇA JÁ FOI SELADA Onde histórias criam vida. Descubra agora