The 1

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— Até agora, só está me dizendo coisas tristes... Não tem nada feliz?

Chaeyoung tentou fazer uma piada, enquanto já estava na segunda xícara de chá, pois percebeu que não seria liberada tão cedo. Não que a ideia de ouvir a história de uma das mulher mais misteriosas e complicadas que já conheceu fosse ruim, só temia que ela sobrecarregasse demais suas emoções, sendo que Nayeon já não era muito estável. Se permitiu, enquanto ouvia, desenhar alguns esboços, como se fosse sua própria história em quadrinhos.

Nayeon, ainda nervosa e sem saber se prosseguia, ou como prosseguia, se permitiu olhar, pela primeira vez, para o telefone ao seu lado. As inúmeras notificações brotavam na tela, sem pedir permissão. Ela suspirou, sabendo que essa era sua vida. Atribulada e desafiadora, não se lembrava nem a última vez que havia tirado férias. Era o que havia decidido, ainda na faculdade e não se permitiria menos.

No fundo, sempre quis o que tinha atualmente e não se arrependia, mesmo sabendo o que isso tirou dela. Nisso Nayeon não tinha arrependimentos.

Olhou, em curiosidade, para uma mensagem inesperada, mas não era uma boa hora, abriria quando estivesse sozinha e mais próxima de seu mundo atual. Seu passado já estava voltando, e parecia que essa pessoa só tornaria tudo mais confuso. Iria chegar nessa parte logo, mas ainda tinha coisas a dizer sobre Mina e sobre aquilo que abriu mão há cerca de 12 anos atrás.

Chaeyoung também havia recebido uma mensagem da garota que ela gostava, avisando-a que havia chegado bem em Taiwan e que logo retornaria para Seoul. Isso a deixou ansiosa, mas, por hora, não haviam com o que se preocupar, era só Nayeon iniciar mais um capítulo e a história estaria cada vez mais clara.

— Os momentos bons são os únicos que eu gosto de lembrar... — Nayeon abriu um breve sorriso, em meio ao seu olhar vago sob a xícara. — Sabe, às vezes, estou andando e me pego em uma sensação distante, com ela sorrindo para mim, como fazia. Outras cenas vergonhosas e repentinas que aconteceram, chego até a... — Nayeon estava com as bochechas rubras, mas se permitiu falar. — Bem, imaginar como seria parar em uma confeitaria e cada uma escolher o que a outra vai comer... É bobo, não é?

Chaeyoung olhou pela primeira vez para os olhos de Nayeon e viu que o que ela dizia não era bobo, na verdade, parecia ser algo que passava na mente da chefe recorrentemente.

— Ainda temos algum tempo, poderia me dizer sua melhor lembrança, se quiser. Para quebrar um pouco o clima, porque logo as coisas pioram, não é? Outro dia, você pode contar o que levou a esse fim trágico. — Terminou de desenhar o casaco feio, de acordo com a descrição e, como conhecia Mina, resolveu a desenhar com ele e uma expressão surpresa, como na história.

Nayeon franziu o cenho, olhando para a figura, tomou-a nas mãos, quase sem pedir licença.

— Ela está loira? — Olhou os cabelos espaçados, as pintinhas do rosto tão conhecidas. Um arrepio percorreu sua coluna.

A pequena Son confirmou brevemente.

— Não sabia, ontem... quando a vi de relance, estava com uma touca, não devo ter percebido. — Comentou, quase em dor. Havia perdido todo o convívio que tinham, imaginou quantos cabelos diferentes ela já havia tido, enquanto os seus sempre estiveram castanhos.

Se perguntava como seria reencontrar Mina, se iria persistir e resistir à tentação de a perguntar se alguma coisa tivesse sido diferente, se tudo teria sido diferente hoje.

— Mas enfim, vou te contar minha melhor lembrança.

*

Os cabelos castanhos de Mina caiam pelos seus ombros, faltava pouco para entrarem em quadra e não imaginava como era estar tão nervosa até agora. Respirou fundo e estava perto da porta, quase para fugir, quando o mascote retirou a parte de cima da fantasia, revelando uma cabeça pequena entre o volume fofo da fantasia.

This Is Why We Cant Have Nice Things - MinayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora