A preocupação com aquela joia era visível para qualquer pessoa que passasse nas ruas pouco movimentadas daquela tarde, em Seoul. A mulher observava o pequeno coração brilhante que ficava a mostra em seu peito, com um sorriso satisfeito nos lábios.
Neste mundo, todos tem seus corações expostos, cada um feito de um material distinto. Alguns com corações mais frágeis, feitos de materiais que quebram fácil, outros possuíam, literalmente, corações de pedra. Ficavam no peito de todo ser humano, era possível visualizar seu estado de espírito pelo seu coração, e naquele instante, Akali Jhomen Tethi tinha acabado de mandar polir o seu, e se retirava de um estabelecimento próprio para isso.
Meio bizarro, não? As pessoas podem arrancar seus corações, mandar consertarem, eles quebram! Bem, não é tão diferente da realidade, só é um pouco literal demais.
Akali já teve o coração partido por muitos, mas sempre dava um jeito de consertar. Era precioso demais para ficar danificado com alguma trinca ou rachadura grave, ela tinha que deixá-lo perfeito, e ele era. Um coração bem grande, por sinal, e brilhante. Ofuscava a visão de quem olhasse, e sentia-se orgulhosa por isso.
— Será que um dia eu entrego você pra alguém? — perguntou-se enquanto caminhava.
As nuvens acima de sua cabeça e distantes do topo dos maiores prédios da capital metropolitana da Coréia estavam se amontoando e ganhando tonalidades acinzentadas, o que fizera Akali entender que aquela tarde seria chuvosa e tinha de se apressar para retornar ao seu lar, caso contrário, poderia contrair um resfriado por ficar debaixo de chuva.
Refletiu um pouco sobre a pergunta que fizera a si mesma. Valia a pena entregar seu coração de novo? Já quase o quebraram uma vez, na época do ensino médio. Era perigoso se arriscar, quando um coração quebrava, o dono ficava doente, começava a ter crises de tosse, febre altíssima, quase como uma gripe das mais brabas. Mas a dor emocional era mil vezes pior e causava danos sérios ao interior do doente.
— Acho que não vale a pena... — suspirou, parando de caminhar assim que seus olhos azuis miraram o outro lado da rua.
Era uma cena um tanto inusitada e estranha de se ver, uma pessoa caminhava lentamente, escorada em um longo muro cimentado. Havia algo de errado com ela e Akali sentiu curiosidade. Atravessou a rua analisando a desconhecida. Ninguém que passava por ali percebia o quão doente aquela mulher estava, e os poucos que reparavam nem sequer prestavam socorro.
O buraco que você abriu
Ainda está aqui te esperando
Feito cachorro
Com esperança de reencontrar o dono
Que morreu atropelado na porta do Terminal
— Moça! — chamou educadamente e a desconhecida de cabelos magenta parou de andar — Você está bem?
Não, ela não estava bem! Akali focou seu olhar no peito da mulher, obviamente havia um coração ali, mas apresentava rachaduras e trincos em excesso, sem contar que não brilhava, estava ficando sem vida. Seus olhos se arregalaram quando mais uma rachadura se fez presente na joia, encarou a dona do coração, assustada. A respiração dela era desregulada, seus olhos claramente turvos, seus sentidos estavam se apagando completamente e o muro ao seu lado direito não era suficiente para apoiá-la.
Eu continuo vivo, de pé, meio cego
Apalpando as paredes do coração
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coração de Cristal「 akalynn 」
Hayran KurguEm um mundo onde o coração das pessoas pode ser feito de qualquer coisa, desde algodão até o gelo, Akali Jhomen Tethi tem dificuldades para entregar o seu para um outro alguém. Sendo uma mulher romântica desde que se conhece por gente, a vontade de...