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SEMPRE FALEI COM MUITO orgulho que meus pais conseguiam deixar qualquer coisa confortável e também pontuava o fato de nossos jantares juntos serem os melhores. Mas hoje não era o caso. Era nítido que todo mundo estava desconfortável com aquele silêncio constrangedor, mas não durou muito tempo nesse silêncio, meus pais sempre gostaram de conversar e debater assuntos justamente para não termos conflitos.

── Vou ser direta. - minha mãe respirou fundo.─ Não admito violência, sempre deixei bem claro isso certo? Mas eu sei que teve um ótimo motivo, gostaria de ouvir da boca de vocês o que aconteceu.

Tobio que estava ao meu lado engoliu seco. Com o canto dos olhos o encarei e percebi que ele estava ficando cada vez mais nervoso, respirei fundo e decidi que tomaria o lugar de fala.

── A gente só tava andando juntos pelo pátio e um menino disse algo nojento sobre aquilo. - disse rapidamente.

Minha mãe passou a mão nos cabelos enquanto meu pai encarava o prato com várias coisas ainda. Eles se encaram por um bom tempo e depois olharam para Tobio e logo após eu.

── Aceitavel. - ela murmurou sorrindo satisfeita.─ A cara dele estava bem feia, fez um ótimo trabalho filho.

Não consegui controlar a risada, acabou que o jantar foi totalmente normal como os outros, mas óbvio que minha mãe estava zuando e fazendo piadas sobre o acontecimento. Meu pai era bem mais na dele então ficava quieto mas interagia vez ou outra, Tobio reclamava mas também não parava de rir.

── Tenham uma boa noite! - escutei minha mãe gritando e apenas tranquei a porta do meu quarto com as chaves.

Peguei o controle da luz do meu quarto e mudei a cor deixando na roxa, me deitei na cama me aconchegado na coberta e fiquei ali mexendo no celular. Olhava algumas redes sociais, mas em um grupo o qual eu estava começaram a mandar muitas mensagens e eu sabia de quem era. Ignorei por certo tempo, mas começaram a rir bastante então resolvi ler tudo rápidamente e finalmente entender o que tava acontecendo, era meu grupo de amigos de Tokyo.

Minha família materna mora toda em Tokyo, então as vezes quando eu era mais nova eu os visitava constantemente.

Quando eu tinha uns 7 anos de idade eu estava tirando férias e acertaram uma bola de vôlei em mim, porém foi quando eu estava dando uma reversão e acabou que eu me machuquei. Kuroo Tetsuro era o responsável por esse ato, ele também é conhecido como vira-lata, gato de rua e as vezes eu o chamo de nerdola. O menino ficou em desespero quando viu meu joelho praticamente jorrando sangue, mas deu tudo certo no final graças a Kenma, que procurou um vídeo na internet para ajudar a cuidar do machucado.

Eu virei muito amiga dos dois então tava sempre falando com eles.

Aos 12 anos minha irmã mais velha se mudou para Tokyo e por coincidência ela morava no mesmo bairro que Bokuto, eu conheci ele por conta disso. Ao passar dos anos eu era próxima de Kuroo, Kenma e Bokuto, mas isso não é muito importante no momento.

[...]

Manhãs são uma droga, fato. Ainda mais depois de um dia como o anterior.

Estava andando pelos corredores da minha escola, andava em direção a minha sala e quando eu ia entrar, uma pessoa resolveu ir no mesmo tempo que eu. Abri espaço e vi o rosto do garoto, era Tsukishima como sempre. Ele revirou os olhos e passou por mim se sentando no próprio lugar, fiz o mesmo me sentando atrás dele. Eu precisava falar com ele afinal depois das aulas eu precisava colocar matéria em dia, mas também tinha meu primeiro dia no clube de ginástica.

Durante a aula toda eu sentia vários olhares sobre mim, isso me deixava muito desconfortável e não conseguia me concentrar na aula. Os professores chamaram a minha atenção várias vezes e acabava que eu ficava mais nervosa ainda. As aulas foram passando e era intervalo de novo, eu não pretendia sair de sala, iria ficar fazendo algumas atividades que não tinha conseguido copiar. Os alunos foram saindo e eu achei que estava somente eu na sala, então me encolhi na carteira e comecei a chorar. Foi automático as lágrimas escorrerem, não conseguia controlar aquela sensação.

── Chorar não vai adiantar nada.

Meus olhos arregalaram e eu olhei para cima, vi o loiro alto me olhando não com deboche nem sarcasmo ele apenas olhava. Era difícil entender como aquele ser funcionava, Tsukishima Kei era realmente complicado.

── Cale a boca, não sabe de nada. - retruquei.

── Se continuar chorando e ficar se doendo por essas coisas, só vai estar dando o que eles querem.

── E isso importa?- bati com as duas mãos na mesa ficando estressada com aquelas palavras.─ Desde de que eu coloquei os pés nessa escola as pessoas me olham e me tratam como se eu fosse um animal!

E mais uma vez deixei que a raiva e tristeza assumisse o controle, as palavras saíram como tiros da minha boca e eu não consegui controlar aquilo. Sentimentos ruins tendem a ser mais fortes e intensos, eu concordo mas também sinto que mesmo eu não tendo controle da situação a culpa é minha.

── D-Desculpa...

Disse baixo quase inaudível, meus olhos estavam totalmente vermelhos e minhas mãos trêmulas. Me virei encarando a janela e tentei ignorar o ocorrido.

── Depois das aulas na biblioteca, sem atrasos, não vou esperar mais que dois minutos. - escutei sua voz e logo depois passos mostrando que ele estava saindo da sala.

Não consegui segurar a risadinha, realmente ele era difícil de ler e entender. Confesso que fiquei muito curiosa em relação a Tsukishima, mesmo ele tendo uma personalidade difícil de lidar e sendo alguém bem irritante em alguns aspectos ele é até que suportável?

Não consigo o descrever, mas posso dizer que entre todas as pessoas da escola ele não é tão ruim quanto eu pensei.

CAMISA 11Onde histórias criam vida. Descubra agora