Começou Assim

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03 de Janeiro de 1995

Nascimento de Kim Jisoo

            Tudo começou assim, com um grito. Uma lágrima. Busca por ar. Mãos nervosas. Sangue. Colo.

Minha mãe tinha me dado a luz.
Viva! A mais nova dos Kim havia nascido.

Houveram abraços e apertos de mãos, olhares curiosos e desconfiados dos meus irmãos, uma seleção rápida de nome e um manto me foi colocado.

Minha família me amava, sem retaliações. Me celebravam e admiravam, entretidos.

Foi assim, segundo a discrição emocionada de minha irmã junto a meia-boca do meu irmão.
Não perguntei aos meus pais.

Adaptei a meu modo, recriei esta cena e a repeti milhões de vezes no meu cérebro.

Permiti que fosse assim.

O melhor dia da vida, meu nascimento. Era este o que eu guardava como minha melhor lembrança, até então.

Uma lembrança que não me pertencia, porém me era agradável e nostálgica.

Eu gostava de repeti-la de olhos fechados, pra mim mesma todo dia difícil — muitos, e a descrevia toda semana a terapeuta.

Ela não entendia. Me odiava por dificultar o trabalho dela.
Por fim ela apenas desistiu e decidiu me ignorar durantes as sessões.

Eu a acho hilária jogando seu candy crush enquanto eu choro por dentro, me faz rir. Também por dentro.

Os dias eram mais fáceis assim, durante o uso deste método eu estava salva.

Estava. No passado. Por que agora começou o Ensino Médio. E com ele todas as responsabilidades que eu não poderia negar.

Eu gostava de balbuciar em momentos assim, de extremo estresse. Era uma mania nova adquirida após a constatação de que a memória não funcionaria mais.

Eu me sentia dolorida, por dentro. Por fora. Meus ombros me matavam e de alguma forma meus olhos vazavam sem que eu nem mesmo nota-se durante a virada das noites em claro.

Insônia. Talvez. Mas era consequência da quantidade de paranóias e ansiedade acumuladas dentro do meu cérebro ocioso, eu não podia fugir delas e minha mente não parecia querer descansar.

Eu passava o dia todo estudando, no quarto. Comia. Tomava banho. Estudava. Comia. Tomava banho. Estudava. Seguia esse ciclo a risca, como um mantra. E isso era bom, me agradava.

Eu gostava do som que minha caneta fazia quando rasgava o papel, sem rasgar de verdade, no entanto. Como o vento era pouco, mesmo com a janela aberta. E como minha respiração sempre parecia o mais sútil dos sons, mesmo quando eu me esforçava muito pra escuta-la.

Eu não sabia ao certo como, mas de alguma forma meu cerebro só parecia funcionar quando estava distraído. Disperso.

Eu nunca gostei muito de prestar atenção em nada muito complexo, eu gostava das coisas simples e óbvias. Podia perder várias horas analisando elas, sem nem perceber.

Ela foi minha primeira análise complicada. Minha maior fonte de pesquisa involuntária.

Roseanne Park.

As coisas estavam a um passo de acontecer.

Tocando Minha Alma 🐿🐰 (Chaesoo)Onde histórias criam vida. Descubra agora