Guy Next Door

Pompeii

Foram tantos degraus que Zayn perdeu a conta na metade da subida. O prédio tinha elevador, mas estava em manutenção há poucos dias. O senhor Avevy, síndico do prédio que o acompanhava até o apartamento que o rapaz pretendia alugar, informou-lhe que aquilo acontecia com certa frequência, mas que subir até o oitavo andar - onde estava o apartamento vago - era um bom exercício para um rapaz na idade dele e que todos os jovens do prédio preferiam os andares mais altos por causa disso. Zayn fingiu acreditar naquela conversa em nome das belas fotos contidas no site onde anunciavam o apartamento.

Avery ainda engatou num falatório interminável sobre todas as regras e costumes do prédio, falou sobre os antigos moradores de onde Zayn pretendia morar, os lugares adjacentes onde se concentravam o comercio e o lazer da região e antes do quarto andar Zayn já sabia até quando gastaria de transporte para um passeio pelos principais pontos turisticos da cidade e detalhes minunciosos a respeito dos melhores horários para sair sem ser abordado por algum criminoso, pois o mundo de hoje está perdido.

Para dizer a verdade Zayn abria mão de tanta cordialidade se em troca ganhasse o doce e sagrado silêncio matinal. Sem querer bancar o ranzinza, mas era pouco mais de oito e meia da manhã e ele não tinha tomado seu café ainda, pois nem por um decreto o jovem artista conseguia comer pela manhã, quem dirá tão cedo assim. Existem pessoas que conseguem despertar por completo logo cedo, mas Zayn sentia que sua alma, mente e estômago ainda estavam deitados na cama apertando infinitamente um botão de soneca imaginário, recusavam-se a trabalhar e só sairiam de lá depois das onze.

Já estava ofegante quando, em um ato heroico de paciência e resistência física, ele chegou ao sexto andar com a mão no corrimão puxando o resto do corpo pra cima. As pernas doíam, a planta dos pés latejava dolorosamente e só não estava suando porque o outono tinha acabado de chegar e suar naquela estação não era tarefa fácil. Entretanto ele tentava disfarçar tudo isso fazendo uma expressão enigmática e ensinando os pulmões a respirarem normalmente ainda que o coração palpitasse no peito.

Sim, ele era sedentário. O mais perto de exercício físico que fez na vida foi se aventurar a andar de skate no começo da adolescência, mas ideia foi rapidamente deixada para trás, assim como muitas obsessões típicas da idade. Era bom que todo o esforço fosse recompensado quando chegasse ao bendito apartamento.

E enquanto Zayn estava quase precisando respirar com a ajuda de aparelhos, senhor Avery continuava falando e ainda cumprimentava os moradores que passavam por eles subindo ou descendo, seguindo suas rotinas cotidianas. Muito amáveis aqueles moradores e seu síndico, mas rapaz de West Yorkshire só queria um fim para seu tormento de escadas infinitas.

Ao que pareceu eterno, ele finalmente viu um numero oito desenhado na parede branca à distancia de um lance de escadas.

- E aqui estamos, senhor Malik. - Avery parou antes de abrir a porta, voltando-se para Zayn que vinha logo atrás dele.

O mais jovem ao alcança-lo olhou para a direita, notando que havia mais lances de escada acima.

- Existem... mais andares? - perguntou com voz ofegante.

- Sim, o prédio possui doze andares para ser mais exato. - respondeu Avery sem sinal de cansaço na voz - Há apartamentos vagos mais acima se quiser...

- Não! - Zayn interrompeu alarmado - Não precisa, obrigado. Esse andar está ótimo.

- Oh. Cansou com a subida, uhn? - não era uma pergunta retórica. Apesar da voz e do rosto vermelho do rapaz, Avery não podia imaginar que alguém se cansaria fazendo algo que ele fazia quase todos os dias.

- Só um pouco - ironizou.

- Fantástico! Então morar aqui não será problema. - ele sorriu empolgado, deixando Zayn um tanto confuso, e abriu a porta que dava para o corredor do oitavo andar. - Alguns moradores reclamam por ter de subir tantas escadas e tivemos interessados no apartamento que desistiram de alugar quando sabem das recorrentes paradas do elevador. É bom saber que...