Guy Next Door

Where Have You Been

Levou quase dois dias, mas tudo estava pronto. Sobre o balcão da cozinha estava o naked cake com três camadas de bolo e três andares, coberto com açúcar de confeiteiro, recheado com creme de nozes e decorado com morango, framboesa e cerejas. Em caixas térmicas estavam armazenadas as centenas de doces, trufas e as taças do trifle de framboesa a ser servido após o jantar. Tudo isso fazia parte da encomenda, feita com meses de antecedência, para um importante casamento que aconteceria em uma casa de festas há uma hora dali. Niall estava orgulhoso de sua pontualidade e da eficiência de seus dois ajudantes que conseguiram concluir com perfeição todo o menu em tempo razoável. O loiro procurava ser um líder e não um chefe. Preferia orientar a dar ordens, auxiliar a mandar; e tudo deu certo.

Exceto por um porém. Ao findar da tarde seus jovens ajudantes estavam quebrados. Eram estudantes de gastronomia com não mais que vinte anos e nem imaginavam que seria tão exaustivo fazer a adorada sobremesa britânica - trifle - e depositá-la nas taças, bater bolos e recheios e confeitar os delicados docinhos - em sua maioria de receita exclusiva do irlandês, sempre respeitando o exigente paladar local.

Percebendo que apenas ele estava disposto a continuar o que faltava, Niall liberou seus ajudantes para que voltassem a suas casas e lá descansassem até dar a hora de descer com todo o trabalho e partirem para a festa, onde montariam a mesa do bolo e enfim estariam livres para curtir aquele sábado. Os ajudantes não se fizeram de rogados e aceitaram prontamente a sugestão com promessas de que retornariam em duas horas. Enquanto isso, Niall iria concluir o que faltava, empilhar os engradados, arrumar-se e quiçá daria tempo para um breve descanso.

Ele estava calmo e satisfeito quando viu toda sua criação pronta. Porém a felicidade durou pouco.

Deixou estourar a tolerância de quinze minutos antes de pegar no telefone e ligar para o primeiro ajudante. Niall nunca foi muito bom em mandar mensagens quando isso envolvia trabalho, sua ansiedade não lhe permitia ter paciência para esperar respostas, ver na parte superior da tela escrito "fulano está digitando" só o deixava mais ansioso; ligar era sempre a primeira e única opção.

No entanto ninguém atendeu. Sua respiração deu uma sutil acelerada, mas Niall respirou fundo e tentou ligar para o outro ajudante. O telefone deu fora de área. O que estava acontecendo?

Ele olhou para o relógio. A festa começaria em três horas, mas a mesa do bolo já deveria estar montada uma hora antes para as fotos e o deleite dos convidados que sempre gostam de gastar um tempinho admirando o bolo e os doces ali dispostos. O trifle também precisava ser armazenado em uma geladeira adequada ou não ficaria tão saboroso. Atraso não era opção. Niall poderia dar conta de levar os engradados até seu carro, mas não tinha a força e os braços largos se um Hulk da vida para conseguir levar sozinho aquele bolo de casamento até a garagem.

Tentou ligar mais uma vez. Duas. Três. Quatro. Alternava de um ajudante para outro. Nenhuma resposta. A agonia foi crescendo. Ele começou a ficar tão atribulado que não atentou para a respiração e os batimentos cardíacos. Estava sozinho no apartamento e andava de um lado para o outro enquanto discava os números no telefone e o colocava na orelha apenas para ouvir a mesma mensagem.

Finalmente alguém o atendeu. Porém não foi seu ajudante, mas a namorada deste avisando que ele havia chegado em casa muito cansado e com fortes dores, ele havia tomado dois relaxantes musculares sem saber que fazendo isso baixaria sua pressão de tal maneira que o deixou incapaz de levantar da cama e mover qualquer parte de seu corpo. Ele estava literalmente grogue na cama e nada o tiraria de lá.

Isso só deixou Niall mais nervoso. Não adiantaria brigar ou passar um sermão no ajudante através da namorada. Tal atitude não mudaria os fatos, por isso ele apenas estimou as melhoras e desligou. Tentava agora ligar para o outro ajudante que simplesmente não atendia o maldito telefone. Seguia com o aparelho fora de área.