I'm A Mess

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Da pequena varanda de seu apartamento, sentado no chão frio com a companhia de um cinzeiro repleto de guimbas de cigarro e ervas, um copo do odioso cupnoodles, um vidrinho de lexotan acompanhado de outras drogas do gênero, estava Zayn com um olhar perdido em um ponto qualquer e a mente vagando em lembranças que em nada melhorariam seu espírito. A vitrola tocava os clássicos mais puros do jazz, que abrilhantavam o cenário melancólico do artista que mesmo entorpecido não conseguiu apagar sua dor de vez.

Quão louco é o ser humano. Sempre buscando formas de se sentir pior quando a tristeza e a solidão batem em sua porta. Zayn detestava ser aquele estereótipo perfeito dos artistas do século passado que se envolveram em relacionamentos tóxicos e apesar de suas criações geniais e valiosas contribuições a musica internacional, sucumbiram a algum vicio maldito aos vinte e sete anos.

Deliciosa ironia perceber que ele, veja só, tinha vinte e sete anos.

Por essa razão, o rapaz dispensou a hipótese de abrir aquela garrafa de whiskey barata que conseguiu comprar com seu adiantamento de salário. Ele duvidava que seus heróis - pelo menos a maioria deles - desejassem de fato ganhar um beijo da morte antes dos trinta. Para Zayn, aqueles grandes artistas só queriam buscar alivio para suas angustias, afastar seus demônios, porém tragicamente perderam o controle. Ainda restava nele algum vestígio de consciência para saber quando parar.

Pensou na sorte que tinha de que seus únicos algozes eram o cigarro e os remédios controlados. O álcool nunca o seduziu de fato, as ervas serviam mais para lhe elevar o espírito quando estava em meio a solidão e nenhuma das drogas que Liam lhe ofereceu nos anos em que estiveram juntos conseguiram seduzir Malik.

Ainda que ele tivesse uma amostra dos efeitos milagrosos que elas causavam em seu namorado e a rapidez com a qual elas aplacavam as angustias de Payne, não demorava para que os efeitos colaterais surgissem, Liam se transformasse em um sujeito repugnante, violento, por vezes até patético e a vitima imediata era sempre aquele que estava sempre ao lado daquele maldito.

Certamente por isso que Zayn nunca cedeu aquelas ofertas. No entanto ele não poderia se considerar um sobrevivente da convivência com um viciado, pois lá estava ele incapaz de dormir sem ajuda de doses fortes de calmantes e mais do que nunca dependente da nicotina e da maconha.

Devia procurar uma ajuda mais eficaz do que esporádicas visitas ao psiquiatra, dizendo meia duzia de mentiras e conseguir sua receita para comprar seus calmantes de forma legal. Devia ouvia os conselhos de Tony, procurar um psicólogo, uma clinica de reabilitação. Mas os motivos para não fazer isso eram tantos, a falta de tempo e dinheiro eram os primeiros.

Talvez a primeira coisa que o rapaz precisaria era falar e ser ouvido. Quando se é muito introspectivo como Zayn, um simples desabafo é mais poderoso do que uma dose cavalar de rivotril e lexotan juntos. Não significa que todos os problemas serão resolvidos, é claro, mas seria um excelente começo. No entanto ele não poderia contar com Tony para isso. Por mais incrível que o amigo tenha sido com ele, não poderiam ignorar tudo o que aconteceu e fingir que a amizade deles voltaria a ser como antes. Nunca é. Os vacilos de Zayn poderiam ser perdoados, as brigas e discussões também, mas nada seria como antes, ele entendia e por isso nunca nem tentou desabafar com o unico amigo que lhe restou.

Mas a ausência de amigos não era a razão de ele estar ali, naquela noite fria de domingo entregue a decadência que só faltava estar em preto e branco para servir de um cenário perfeito para um clipe da Amy Winnehouse.

É evidente que a única pessoa no mundo capaz de desestrutura-lo por completo tinha nome, sobrenome e teve a ousadia de conseguir ligar para ele de um numero diferente só para conseguir ser atendida.

Guy Next DoorOnde histórias criam vida. Descubra agora