Best Thing I Never Had

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"... é pra fazer um escarcéu. Um escândalo. Pra sair correndo gritando no meio das ruas igual uma enlouquecida, porque silêncio nenhum vai te proteger de absolutamente nada." - Jout Jout

Apenas o prisioneiro e seu visitante ocupavam a sala branca que era vigiada por câmeras e por um espelho grande na parede a esquerda deles. Poderia ou não ter alguém do outro lado os observando, mas isso não importava. A condenação definitiva daquele prisioneiro era garantida e a presença de seu visitante poderia apenas atenuar sua pena, diminuir alguns anos ou conceder-lhe uma liberdade condicional dali há algum tempo.

Liam era a face de um homem perdido, desequilibrado e o com cansado desespero de quem lutou por muito tempo e se recusa a desistir até que haja o ultimo fôlego de vida. Sua voz era vacilante, trêmula, nervosa. Tinha olheiras acentuadas, o cabelo, outrora raspado a maquina, não via tesoura há meses, a barba estava mal feita, cheia de falhas e feridas. Ele estava magro, abatido, ataduras envolviam seus pulsos e em seu pescoço havia um hematoma roxo.

- Eu nunca pensei que fosse ficar tão feliz de te ver, baby. - um doce sorriso se formou no rosto do prisioneiro - Tem alguma coisa diferente em você. Seus olhos, seu cabelo, sua pele... Tudo em você está tão bonito que só me faz sentir mais falta de nós dois.

Zayn não respondeu. Cruzou os dedos das mãos sobre a mesa, ajeitou-se na cadeira e seguiu observando enquanto Liam emendou o assunto falando sobre si mesmo.

Ao chegar, entrar naquela sala e sentar-se na cadeira de ferro sem fazer qualquer contato físico com o prisioneiro, ele não sentiu nada, nem de pena, rancor, compaixão, saudade ou a avassaladora paixão voltando à tona depois de meses afastados. Ele passou semanas temendo aquele reencontro e o que poderia resultar; desacreditando em sua própria capacidade de fazer o que tinha de ser feito, pensando que ele poderia ser daquelas pessoas que se iludem achando que superaram o ex, mas se desarmam completamente ao reencontra-lo.

Grata foi a surpresa quando percebeu que olhar para Liam era o mesmo que encontrar um pedaço preferido de pizza esquecido há dias e mofado debaixo do sofá. E mais: se dar conta que aquele sabor nem era mais o seu preferido.

- Todo mundo me abandonou, sabia? Meus amigos, parceiros, minhas mulheres... Foram, sei lá, mais de cinco audiências, meu advogado não conseguiu ninguém pra minha defesa e hoje vai ser a última. A gente pensou que seria fácil, eu ajudei muita gente nessa vida aí, mas todo mundo sumiu. Você é minha ultima esperança. Ainda bem que o meu advogado te convenceu a vir. Por onde você esteve?

Levemente a testa de Zayn se franziu. Alguma coisa estava... estranha.

- O importante é que eu estou aqui, não é mesmo? - ele respondeu friamente.

- Sim, sim! Definitivamente! E e-eu não poderia estar mais feliz, de verdade!

O prisioneiro adquiriu um tique nervoso que o fazia piscar o olho direito e contrair o ombro involuntariamente. Era fácil saber quando ele estava ansioso.

- Você deve estar muito desesperado.

- Olha, eu sei que o nosso ultimo encontro não foi muito bem, mas eu tô muito arrependido, baby. Se eu pudesse voltar no tempo e reparar tudo o que fiz eu juro que daria qualquer coisa pra fazer isso. Você é de longe a melhor coisa que já aconteceu na minha vida e só agora eu percebi e...

Zayn mudou sua posição na cadeira só para poder apoiar o queixo em sua mão e ouvir com menos fadiga o discurso que ouvia pelo menos cinco vezes na semana ao longo dos anos que namorou aquele homem. O tempo de distância sequer serviu para Liam melhorar sua retórica. Era sempre a mesma ladainha, os mesmos clichês, os mesmos pedidos de desculpas pelos mesmos erros, a mesma mascara de coitadinho incompreendido. Mentiras, nada além.

Guy Next DoorOnde histórias criam vida. Descubra agora