Guy Next Door

Put Your Records On

Trabalhar em uma confeitaria não era nada fácil. Seguir a rotina de pilhas de encomendas para festas e eventos em geral, além das vendas diárias em porções menores na loja muito bem localizada próximo ao Hide Park não era para qualquer um. Niall era apenas mais um dos tantos funcionários que trabalhavam incansavelmente na cozinha aos fundos do lugar, onde vez ou outra o chefe surgia para apressa-los e dar algum auxílio na decoração dos bolos que devia ser sempre impecável, mas nem por isso ele trabalhava menos.

Em tempos que bolos, cupcakes, doces, chocolates e outras guloseimas cheias de açúcar estavam em alta, a procura era insana. Todo dia tinha muito trabalho. Uns dias mais corridos do que outros, mas eles nunca ficavam jogando conversa fora vendo a vida passar. A cozinha também devia estar sempre limpa pelos próprios confeiteiros e padeiros. Sem essa de ter um ambiente coberto de farinha, gordura, massas, resto de glacê, fondant, açúcar e tudo que há de bom. O chefe também ficava de olho na limpeza de tudo, qualquer coisa fora de ordem era motivo para ouvir seus gritos impacientes.

Mas Niall amava o que fazia. Não se arrependeu nem por um minuto quando desistiu do curso chato de administração e mergulhou com tudo na faculdade de gastronomia e todos os cursos necessários para tornar-se um confeiteiro, viajou para França e Itália a fim de incrementar ainda mais seus dotes culinários. Foi na Inglaterra que então recebeu a promissora proposta para trabalhar em uma das melhores confeitarias de Londres, onde passou a viver.

Tudo o levava a ser o cara mais realizado dentre os que estavam em sua faixa etária dos vinte e poucos anos e não ter nenhum motivo para reclamar da vida ou se sentir ansioso.

Comparado até a seus amigos, Niall era o que estava melhor de vida, Louis, seu amigo enfermeiro, vivia dizendo que ele era um "Filho da puta sortudo" e Harry, também enfermeiro e casado com Louis há pouco mais de seis anos, dizia praticamente a mesma coisa, embora com mais gentileza. Não era desdém ou inveja, mas muito orgulho do grande amigo.

E o loiro reconhecia que estava "no topo da cadeia alimentar da geração Y". A maioria dos jovens de sua idade amargavam a melancolia de ver que seus projetos e sonhos de adolescência caminhavam a passos muito lentos da realização e tudo ia contrario ao que planejaram. No entanto isso, infelizmente, não o blindava contra os problemas típicos de sua idade.

Havia dias em que o estresse era tanto que Niall desejava se esconder na dispensa, sentar no chão, abraçar as próprias pernas e se balançar como um autista, pensando se era aquilo mesmo que queria fazer de sua vida. Não raro ele realmente sumia da cozinha sem aviso por alguns minutos. Eram tremores nas mãos, as pontas dos dedos gelaram, a garganta fechava como se ele estivesse entalado com alguma coisa, o rapaz sentia uma pressão no peito, suores pelo corpo e vez ou outra lhe faltava o ar. Não acontecia só no trabalho, mas em casa também e era sempre que tinha que, veja só, decorar um bolo ou cupcake.

Apesar de o irlandês ser uma mão excelente para fazer tortas de vários sabores, cookies, brownies, rocambole de geleia, ser extremamente habilidoso tanto na culinária britânica quanto na francesa e italiana, do chefe ter elogiado muito suas ideias de inserir ao cardápio as alternativas de doces acessíveis aos diabéticos e veganos - aumentando ainda mais os lucros da confeitaria -, Niall sempre ficava extremamente ansioso na hora de decorar um bolo. Bastava olhar um fondant a sua frente e um bolo esperando para ser montado e os sinais de ansiedade começavam sem que ele pudesse controlar. Tantos anos estudando e se dedicando ao máximo para ter de lidar com o fato de que ele não era um bom cake designer. Na TV parecia tão simples, tão rápido, mas tudo o que Niall conseguia eram desenhos tremidos, desconexos, formas questionáveis, conseguia o incrível feito de deixar bolhas ao cobrir o bolo com o fondant e qualquer tentativa de fazer uma corrente com glacê, por mais simples que fosse, era desastrosa.