nós precisamos de um tempo

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— E para a sobremesa, senhor? — deslizo a ponta da caneta pelo papel e abro um sorriso. Meu avô odiaria me ver servindo e anotando pedidos. No entanto, dois garçons faltaram hoje e tem um que está preso no banheiro devido ao que comeu na véspera. Eu poderia mandar alguém da cozinha fazer isso, mas hoje estou num bom humor.

— Papai, eu quero Petit gâteau! — a menininha sorridente com laço vermelho na cabeça sinaliza o pai quando me escuta perguntar.

— Tá bom... — ele aperta a bochecha dela levemente e depois vira-se para mim. — Dois petit gâteau, por favor.

Anoto.

— Mais alguma coisa?

— Quando o principal chegar, poderia trazer um refrigerante de melancia? — ele pede.

Balanço a cabeça positivamente enquanto anoto. Curvo-me rapidamente antes de me afastar de ambos e caminho rapidamente à cozinha. Entrego o pedido, mas logo já estou dando uma olhada em como estão as coisas.

— Xiaojun, cuidado para o molho não queimar! — aponto para a panela do outro lado da cozinha.

Aproximo-me de Yangyang para ver como ele está finalizando o prato. A aparência sai um pouco estranha, então eu peço que conserte.

— Milagre o senhor não dizer que não quer que seus clientes comam algo que se parece com lixo — ele ri baixinho ao passar o pano na borda do prato. — Normalmente é mais cruel que isso.

— Se fosse para ser medíocre, eu nem tentava — comento ao lado dele, pegando o prato. — Você sabe porque falo assim, não é?

— Me acostumei com o senhor, chef — ele sorri.

Amo o fato do Yangyang se referir a mim como “senhor” e chef no horário do expediente — bem, na maioria das vezes —, mas ser um tremendo panaca sem vergonha quando conversamos informalmente.

Dou-lhe apenas um leve peteleco na testa antes de checar de qual mesa é o prato e ir lá servir. Mesa seis. Saio da cozinha e vou automaticamente até a mesa seis, que fica perto do aquário que temos. Eu sirvo a mesa. Dou uma olhada nos peixes. Perto do aquário há o corredor para os banheiros. No corredor, fiz questão de colocar os quadros que comprei em Atenas com Taeyong. São lindos. E, do outro lado, está a pequena elevação para o palco. Hoje estamos com música ao vivo e digo tranquilamente que sempre enche quando tem. Isso me deixa feliz e animado.

— Voltei, patrão — Jeno chega perto de mim, pegando-me desprevenido quando estou animadamente acompanhando a apresentação do violinista.

— Ah, Jeno! — exclamou virando-me para ele. Entrego a caderneta e a caneta. — Volte a sua função, ok? Limpe a mesa um e a dois. Tem mais clientes vindo. Acha que consegue?

— Se eu me sentir mal outra vez, eu posso te avisar antes de ir ao banheiro?

— Certamente — inclino a cabeça.

Mal termino a conversa com o rapaz e já noto a aproximação apressada de Jaehyun.

— Ten... Hm... O Taeyong tá lá fora te esperando. Disse que quer falar contigo — ele aponta para algo lá fora, por cima do meu ombro.

Viro-me de costas e lá está ele. Está com uma jaqueta de couro e as mãos estão dentro do bolso. Aparenta ter frio. Sei que está com frio, praticamente treme. Faço um gesto para que entre, e nisso eu sorrio, porque eu voltei da viagem ontem à noite e nem pude falar com ele. Estava planejando encontrá-lo amanhã no horário de almoço para que possamos comer juntos e conversar.

— Ele quer que você saia — Jaehyun narra exatamente o que estamos vendo: Taeyong fazendo o mesmo gesto que eu, pedindo para que eu vá.

Mordo o lábio inferior e projeto meu corpo para a direita. Desvio de dois clientes que estão chegando — dou um boa noite e bem-vindos — e saio do restaurante. O vento frio me atinge de jeito, tanto que preciso abraçar a mim mesmo enquanto caminho até Taeyong. Soa ridículo dizer, mas... o tempo está frio, assim como nossa relação.

crises et chocolat༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora