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01 — a conversa que mudou as nossas vidas

(continuação de “nós hostilizamos o amor ”)


ten

Eu mesmo não acreditei que tinha mesmo ido. Não acreditaria, se alguém me dissesse. Mas, de alguma forma, isso pareceu ser algo que eu faria. Então, sim, eu o fiz. Não seria esquisito.

Mas meus olhos não conseguem focar em nada. E eu não saberia por onde ir se dependesse deles. Porque um nó agarra minha garganta e inflama de um jeito que nunca antes eu tinha sentido. É como se tivesse um alter ego vestido de preto com as mãos na minha garganta e repetindo que eu estraguei tudo, eu estraguei meu tudo, e agora não vou ter nada.

Passo não sei quanto tempo encarando o elevador, como quem esperando ele aparecer neste andar e abrir as portas. Mas ele não vai abrir, não o solicitei. E eu não quero solicitar, meus dedos não podem encostar no botão. Eu não quero fazer isso.

Meus calcanhares giram. A princípio, não sei para qual lado, estou no automático. Mas eu suspiro e desse suspiro vem uma lágrima. Uma segunda e terceira, então esfrego as palmas das mãos no rosto. E meus olhos começam a arder, mas eu acho que a culpa é das lentes. Tem que ser.

Quem eu quero enganar esta noite?

Quem eu quero me tornar esta noite?

E eu caminho, como se pudesse encontrar uma coisa boa para orbitar ao redor de mim. E o que me deparo, talvez , seja alguém que possa orbitar comigo. As formidáveis primaveras futuras, os verões recheados de calor, outonos amenos e invernos cansativos... Tudo isso rasga minha consciência, eu tenho que parar por aqui.

Taeyong está parado no batente da porta, estava assistindo-me partir. Agora engole em seco e nem as lágrimas me impedem de enxergar a decepção e dor nas suas feições. Eu sei que deveria ser melhor que isso, mas não sei quando foi que as coisas começaram a dar errado e se é que deram tão errado assim. Mas tudo que quero é abraçá-lo, porque eu nunca quis fugir. Não é sobre aquela merda que fiz antes de ir para a Itália, é algo que surgiu bem antes disso. De quando ficávamos até tarde da noite no restaurante e eu me sentia ansioso para a noite seguinte, porque sabia que teria sua risada outra vez, e seus olhos brilhantes com qualquer coisa que eu falasse. Eu quero resgatar isso. Eu não quero dar adeus.

— Porra, Ten... — ele abre os braços, como se soubesse exatamente no que estou pensando.

Eu não penso nem um pouco. Meus pés tomam a decisão por si só, já estão crescidos, são independentes. Não vale a pena chorar e resmungar. Ele envolve meu corpo com seus braços e eu sinto muito, sinto muito mesmo por tudo. Um beijo no topo da minha cabeça e um carinho na nuca: ele sabe bem como me tratar.

— Tá tudo bem, docinho... — sua voz parece rouca e grave, porque ele quer chorar mais do que eu e quer mostrar que não.

— Desculpa, eu quase fui embora... Eu não quis ir embora, eu juro. Eu não quero...

— Shh... — e deixa outro beijo, dessa vez mais demorado, no topo da minha cabeça. Me pergunto se meu cabelo está tão cheiroso assim, porque percebo como inspira fundo. — Caramba, Ten, eu não suporto pensar na ideia de não estar com você. Vamos entrar, vamos entrar...

Ele segura minha mão, entramos juntos no apartamento. A porta se fecha atrás de mim.

— Desculpa, Taeyong.

crises et chocolat༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora