nós precisamos tomar vergonha na cara

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Gente, o negócio é que fiquei preocupado com Ten real sobre a merda que fiz na coxa dele. Já se passaram uns dois dias e não nos encontramos desde quando voltamos, a questão é que eu quero muito vê-lo pra fazer carinho e dar amor como forma de compensar o ocorrido. Mas esses dias têm sido bem difíceis, estou bem ocupado com a floricultura e as entregas. Além de que, aliás, um pirralho do ensino fundamental roubou uma rosa e saiu correndo ontem. Estou de olho nele, ver se volta, pra eu dar uma reclamação. Sabe, se ele contasse para quem iria dar e quais seus sentimentos sobre a pessoa, eu com certeza daria a flor de graça. Mas ele roubou, então vou reclamar. Com sorte, eu passo no restaurante de Ten hoje, mas não vou comer, porque é muito caro.

Sim, mané, é caro mesmo. Da última vez que estive lá pra comer, eu quase chorei ao ver a conta. É comida burguesa para gente burguesa. Aí você pensa: ah, porque tem que apoiar o negócio do seu namorado também e pipipo... Amigo, vai se lascar, eu tremo todo só em pensar em pagar por bebida, comida e sobremesa. É desumano! Ele não é da minha classe social e o negócio dele também não é voltado para a minha classe social, então por que devo forçar? Eu sou pobre, dou um duro danado mensalmente para me manter vivo, além de juntar dinheiro para comprar o apartamento onde moro, não posso me dar o luxo de ir comer no restaurante de Ten sempre que eu quiser ver ele (o que é toda hora, cá entre nós).

Mas hoje eu vou lá e já tenho até um plano: vou pedir só uma sobremesa (que vai sair cara, espia só) e, quando Ten aparecer, ele vai pensar que eu já comi. Eu sou um gênio, né? Sou, sim. Sou brabo demais. O besta vai chegar achando que comi horrores, enquanto isso eu lá lambendo o docinho todo cínico.

— Jaemin vai passar o horário de almoço dele aqui comigo — Renjun estrangula meus pensamentos enquanto repõe as tulipas amarelas nas cestas.

— Nada de baixaria aqui, por favor — aviso logo de antemão.

— Até parece que você não vai ficar de baixaria com seu namorado quando você for ao restaurante dele.

— Eu me arrependo de tudo que falo com você, Renjun. Tudo você esfrega na minha cara... Macho, isso não se faz — eu reclamo, porque sinceramente naquele dia que Ten veio aqui eu passei uma vergonha tão grande...

— Eu sou sincero... — Renjun dá de ombros.

— Mas fique de olho no menino, ok? E atenda os clientes.

— Ok...

Como ele concorda, eu sei que vai dar tudo certo. Ah! Tem algo que acabei me lembrando agora... Eu encontrei meu bullet journal quando estava tirando as coisas da minha mochila. Eu juro que não tinha achado ele lá na Tailândia, eu não sei como ele foi aparecer do nada nas minhas coisas. Sério, eu estou ficando lelé da cuca. As coisas precisam de algum norte, senão vou ficar maluco. Só o fato de eu ter passado o tempo todo com ele na mochila, quando realmente precisava usá-lo e não achava, me deixa todo estressado. Sabe... Porra, eu teria me estressado menos lá se tivesse achado-o antes.

Enfim, bateu horário de almoço e é agora que vou pegar um ônibus para encontrar o meu amor. Preciso conversar com Doyoung também, porque só estamos mandando mensagem ultimamente e preciso sair com ele ou jogar videogame. Não importa, o ônibus acabou de chegar, é nisso que preciso focar agora.

Passo o caminho todo escutando música, porque isso é melhor do que escutar a conversa no telefone do cara que está no banco da frente. Francamente, viu... Ele fala muito alto. Que raiva. Mas não vou me estressar. Não, não. Vou encontrar Ten daqui a alguns minutos e tudo isso não será nada.

Assim que desço do ônibus, atravesso a rua e recordo-me de como eu quase fui atropelado aqui e meu celular foi para o quinto dos infernos. Muita coisa mudou desde aquele dia... Acho que se não tivesse acontecido, talvez não tivéssemos ficado próximos depois e não iríamos à Paris, não iríamos nos apaixonar... Será que sim? Será que a gente iria acontecer de um jeito ou de outro? Isso está na minha cabeça agora e não consigo tirar.

crises et chocolat༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora