Capítulo 4: Refém ou Tripulante?

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O pequeno pontinho de luz continuava a explorar o local, jogando livros para o chão, abrindo gavetas e portas a procura de algo que não sabia exatamente o que era, apenas sabia que Peter Pan queria algo daquele barco e queria rápido.

Tentou abrir um baú aos fundos do quarto, mas com as correntes e o cadeado por combinação tudo ficava mais difícil. Foi então que resolver explorar ao redor da cama onde Hanna dormia profundamente, enfiando-se embaixo dos lençóis e do travesseiro.

Assim encontrara a adaga de Hanna com suas iniciais cravadas no punho de ouro escondida embaixo de um assoalho solto perto do carpete da escrivaninha da Capitã. Logo a luz se transformou em uma mulher alta e loira ainda segurando a arma com força. Poderia ser uma pista sobre quem estaria no comando daquele navio pirata.

Parou na observar mais atenciosamente a jovem deitada na cama a sua frente e percebera o colar com essência de fada, muito usado naquela terra para proteger qualquer um de magias poderosas, algumas vezes feiticeiros e bruxos de outros lugares do mundo a compravam para conseguir controlar os poderes de crianças mágicas que despertaram cedo suas habilidades.

— Perdoe-me por isso, minha jovem. - a fada pegou o colar e o puxou, arrebentando a corrente. — Você precisará ficar sem isso para que Peter lhe proteja desses sequestradores nojentos. - então saiu da sala, andando pelo convés calma e atentamente atrás de mais sinais.

— E se ela acordar? O que vamos fazer? - ouvira algumas vozes conversando sob a madeira do convés e se agachou para poder ouvir melhor.

— O que fazemos desde sempre com ela. - mais uma vez as vozes se embaralharam, dificultando o entendimento sobre o que era aquela conversa, porém, assustada e preocupada com a refém, Sininho voltou a diminuir e voou de volta ao ombro de Peter, que se escondia atrás de uma árvore e observava a cena cuidadosamente.

— Então? O que descobriu? - ela escondia o colar de Hanna no bolso, não queria que ele soubesse que a jovem sabia como impedir a magia da Terra do Nunca em si.

— Tem uma refém no quarto do capitão, e parece que pretendem fazer algo com ela enquanto dorme. Não consegui entender muito bem, mas parece que já fizeram isso e que o Capitão do navio deu as ordens.

— O que sabe sobre esse Capitão?

— Pouca coisa, mas parece que ele é como você, o pai deles.

— O que faremos, Peter? - Felix se aproximou segurando o arco fortemente com as mãos, preparado para receber a ordem de atacar o navio e proteger sua casa.

— Eles tem uma refém, precisamos tirá-la de lá antes que se machuque.

Felix apenas assentiu e se afastou novamente, já sabendo o que Peter estava prestes a fazer. Sininho também sabia, mas estava hesitante se o deixaria fazer aquilo novamente, pois seria perigoso deixá-lo entrar em um navio desconhecido. O capitão poderia ser o Gancho ou alguém pior que veio até a Terra do Nunca para atacá-lo.

Peter sacou a própria adaga e começou a se aproximar lentamente do navio, aos poucos os Meninos Perdidos foram o seguindo, tomando o máximo de cuidado para não alertarem os piratas que estavam naquele transporte. Contudo, parecia haver uma movimentação no convés que os deixaram em alerta.

Algumas lamparinas foram acessas e começaram a se movimentar pelo navio de um lado para outro, às vezes arrastando algo, outras carregando o que pareciam ser cestas grandes o suficiente para caber uma pessoa lá dentro. Toda essa movimentação estava deixando os habitantes da Terra do Nunca confusos, pois não sabiam se estavam planejando algo contra a refém, se estavam preparando uma festa no navio ou arrumando para atacar a ilha assim que possível.

— Tem certeza de que a garota é uma refém, Sininho? - Peter perguntou e a fada engoliu em seco. Realmente não tinha certeza, só a viu deitada em uma cama na sala do capitão sem a presença deste, ela poderia ser uma tripulante ou a própria capitã, mas Sininho se agarrou ao desespero ao encontrar uma adaga escondida sob o chão que pensara que a jovem poderia estar presa com os outros piratas.

— Tenho sim, Peter. Encontrei várias coisas que podem a manter presa na sala do capitão, incluindo cordas e tábuas de madeira mantendo a porta fechada.

— Estão em quantos no convés?

— Não sei ao certo, vi apenas quatro subindo antes de sair, mas parece que são muito mais. Era uma mistura de no mínimo dez vozes lá em baixo.

Peter deu um leve impulso com o pé e começou a flutuar, procurando uma vista melhor do navio parado na baia. Ele conseguia ver os quatro piratas ainda andando de um lado para o outro, mas dessa vez eles carregavam coisas menores, como toalhas de mesa, garrafas de bebidas, alguns pratos feitos a mão e taças que com certeza haviam sido saqueadas de outros navios.

A porta da sala do capitão se abriu, então Peter se escondeu em meio as folhas de uma árvore para não chamar atenção de nenhum dos tripulantes. Uma figura mediana, vestindo uma capa grande e vermelha se aproximou do grupo, que pareceu se desculpar com alguma coisa. Pan logo teve certeza de que era o capitão do navio dando um sermão nos companheiros por estarem chamando a atenção com as luzes, pois logo o quarteto começou a apagar as lamparinas, deixando acesa apenas a que a figura misteriosa segurava a sua frente.

Curioso, Peter tentou se aproximar, mas fora impedido por Sininho. Era perigoso demais se aproximar de um lugar desconhecido, não sabiam se eram pessoas comuns ou se tinham magia e estavam ali para sugar a da Terra do Nunca em busca de mais poder.

— O que faremos? Eles parecem estarem querendo chamar nossa atenção para o navio. - Felix escalou a árvore e se sentou no galho ao lado de Peter que se esforçava para enxergar em meio à escuridão.

— Não podemos dar o que eles querem tão facilmente. - Pan olhou para baixo e depois de volta para o grupo de piratas conversando no convés. — Estamos em maior número, mas poucos conseguem chegar até o navio.

— E se forem mágicos, assim como aquela mulher que veio com Capitão Gancho na última vez?

— A magia da Terra do Nunca estará a salvo. Nós temos muitas criaturas mágicas ao nosso lado, eles são nada comparados à nós.

O sol começava a nascer, já estava ficando impossível se esconder nas árvores sem ser visto pelo grupo ao mar. Peter fez sinal para que todos recuassem e ficassem alertas, mas ele ficou mais um tempo ali na companhia de Felix, observando atentamente a figura chamativa que ainda usava a capa vermelha. O chapéu dificultava ver o rosto, mesmo com a pessoa virada de lado.

Mas foi então, que a figura se virou em direção à árvore como se soubesse que estivesse sendo observada e seu olhar pareceu se encontrar com o de Peter. Um arrepio percorreu sobre seu corpo.

Era impossível ser a garota do desenho, ele estava datado cem anos mais tarde, mal se passara uma semana desde o momento em que o encontrou. Era impossível ela ser a capitã do navio.

Ou seria possível? Ela parecia ter uma posição de comando entre os rapazes, que a obedeciam sem a desafiar.

Mas se ela é a capitã, quem seria a refém que Sininho vira em seu quarto? Teria ela visto a própria descansando e a confundiu?

Peter não tinha certeza de mais nada além de que tinha que a tirar daquele barco o mais rápido possível.

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