Capítulo 10: Caçada

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Dias se passaram, Hanna estava finalmente livre da jaula, mas ainda continuava sob vigias de Felix, Peter e Devin. Eram poucas as vezes em que a pirata tinha privacidade, já que os rapazes sempre ficavam checando a cada dois minutos se ela ainda estava no lugar em que a deixaram e insistiam que um deles deveria dormir por perto dela toda noite.

Porém, por outro lado, Peter parecia estar começando a confiar mais na Jones. Ele deixava com que ela ajudasse na caça para a janta e a patrulhar a Árvore do Nunca durante a madrugada junto a Felix. Era perigoso demais deixar apenas uma pessoa cuidar da entrada, afinal, eram muitas feras que vivem procurando por comida ao anoitecer.

— Como consegue se proteger usando apenas uma adaga? - Felix provocava Hanna. Eles haviam se tornado bons amigos com as visitas secretas dele à jaula e as caças e vigias noturnas.

— Do mesmo jeito que você se protege com esse bastão, ou seja lá o que era pra isso ser. - a pirata sorriu ao ver o amigo a olhar sério. — Vamos logo, devemos estar próximos de algum animal.

Voltaram a seguir o caminho, tomando cuidado para não fazerem barulhos altos e chamar a atenção de feras ou qualquer outra coisa que estivesse passando por ali.

Quem os visse nesse momento, diria que seria impossível não notar os olhares se cruzando o tempo todo. Felix alternava o olhar entre os olhos azuis de Hanna e as cicatrizes em sua mão. Já ela, alternava entre a cicatriz no rosto do amigo que atravessava o nariz e a bochecha direita, e o cabelo bagunçado e embaraçado.

— Ok, isso já está ficando estranho. - Hanna parou e agarrou um pedaço do manto de Felix, o forçando a olhá-la. — O que tanto olha?

— Eu deveria perguntar a mesma coisa. - riram e ficaram em silêncio por poucos segundos, que pareciam ser uma eternidade para eles.

— Essa cicatriz no seu rosto, o que a causou?

— Aquele erro que comentei com você, foi o que me causou essa cicatriz. - abaixou o capuz, dando uma vista melhor para a pirata. — E a sua? Você se lembra o que a causou?

— Não me lembro ao certo. - observou a marca na mão direita e se esforçou para lembrar. — Só tenho flashes de um crocodilo gigante atacando o barco quando ele ainda era do pai do Louis e eu me coloquei na frente de um velho amigo. Acho que o nome dele era Carlos, algo assim.

— Que tipo de estímulos podem ajudar a sua memória? - Felix se sentou e Hanna o acompanhou, tomando lugar no chão na frente do rapaz.

— Podem ser coisas comuns. Minhas primeiras memórias voltaram quando eu toquei meu chapéu, depois quando eu despertei meus poderes e agora olhando a cicatriz. Acredito que qualquer coisa relacionada a minha vida antes de ser quem sou hoje pode me trazer memórias de volta.

— Tem alguma pista sobre seus pais?

— Só o sobrenome e que eram da Ilha dos Perdidos. - suspirou e passou a mão pelo rosto, ignorando o fato de ter manchado a bochecha com terra. — Eu espero que Pan me liberte logo para eu voltar para a minha família. Não quero viver assim para sempre. Posso estar viva há quarenta anos, mas ainda sou uma adolescente, não estou pronta para ser mãe.

— Acredito que nenhum de nós te vê como nossa mãe. - Felix se inclinou para observar melhor a reação da pirata, que evitava em olhá-lo. — Você parece mais uma irmã mais velha para eles, principalmente para o Devin.

— Devin? Me vendo como uma irmã? Não sei o que tem na flauta do Pan, mas acho melhor você tampar os ouvidos quando escutar. - riram novamente e Hanna finalmente olhou para o mais alto.

— Seu rosto está sujo. - passou a mão delicadamente na bochecha da menor, percebendo a pele arrepiar pelo toque repentino.

— Melhor voltarmos à caça, logo vai escurecer e está ficando frio. - Hanna se levantou, sentindo as bochechas esquentarem e virou de costas para o amigo.

— Você precisa disso mais do que eu. - Felix tirou o manto e envolveu a pirata nele. O cheiro de grama e madeira invadiu o olfato da menor junto a sensação da lã em seus braços. — Pode ficar com ele. - o loiro passou pela amiga, voltando a seguir caminho. Foi assim que ela percebeu os braços do maior com cicatrizes parecidas com a de seu rosto e algumas pinturas que pareciam tatuagens. — Você vem ou vai ficar me encarando?

— Eu tenho tantas perguntas...

— Responderei todas depois de termos o que comer essa noite. - fez sinal para que a garota seguisse à frente, esta obedeceu sem pestanejar.

A caçada foi um sucesso, não demorou mais de vinte minutos, logo Felix e Hanna carregavam uma fera com sorrisos orgulhosos no rosto. Eles concordavam, formavam uma boa equipe quando juntos. Felix conseguia correr rápido para chamar a atenção do alvo e Hanna tinha uma mira espetacular, nunca errava.

Chegaram ao acampamento e derrubaram o animal de seus ombros, o jogando na frente da fogueira e massageando os lugares doloridos em seguida. Peter recebeu o companheiro com um sorriso orgulhoso no rosto e afastou a pirata, que entrou na Árvore do Nunca para guardar a adaga.

Assim que saiu, mais uma festa já havia começado. Hanna estava farta de toda noite ouvir Peter tocar sua flauta e ver todos dançando ao redor da fogueira, então apenas foi se sentar longe da bagunça, ficando em alerta caso os barulhos chamassem atenção de algum inimigo.

— Se escondendo da festa de novo? -  Felix estendeu o braço, lhe dando um pequeno prato com pedaços de carne. — Peter me mandou ver se está bem.

— Eu achava que os piratas eram fãs de festas, até conhecer vocês. - Hanna riu e mordeu um pedaço da carne, sentindo o gosto invadir seu paladar. — Pelo menos não queimou a comida como da última vez.

— Ele está melhorando na culinária, mesmo sabendo que consegue invocar qualquer tipo de comida com o pensamento. - deu de ombros e olhou por cima do ombro. Peter observava atentamente a cena, ele havia mudado de lugar para poder ver melhor a dupla atrás dos arbustos.

— Sobre o que aconteceu durante a caça. - Felix olhou confuso para a amiga que se levantou e ficou na sua frente. — Não acha que o clima ficou estranho entre nós depois?

— Do que está falando? Para mim tudo está normal.

— Não está, Felix! Eu vi o jeito que me olhou quando limpou o meu rosto! Conheço aquele olhar.

— E que olhar era? - aproximou-se da pirata, seus olhos brilhavam enquanto a analisava cuidadosamente. Aquele olhar fazia Hanna se lembrar de alguém, um velho amigo que a olhava do mesmo jeito. Ela sabia que se cedesse àquelas belas orbes azuis estaria cometendo um erro terrível.

Contudo, era impossível escapar, Hanna não queria escapar. Ela admitira para si mesma que gostava da forma que Felix a olhava, pois sabia que o olhava da mesma forma. Talvez ceder aos encantos dele seria o erro mais doce que ela cometeria.

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