Hanna olhou atentamente o rapaz que ainda segurava seu braço. Os olhos azuis brilhavam em expectativa, o cabelo preto caia no rosto assim como o seu e nos lábios tinha um sorriso esperançoso.
Uma tempestade de memórias a invadiu, todas elas eram relacionadas à Harry. Seus aniversários divididos, os amigos confundindo-os de propósito para provocá-los, a casa em que moravam durante a infância. Todas essas lembranças a invadiam, fazendo que se sentisse tonta e com enxaqueca.
— Hanna? Você está bem? - Felix se aproximou ao ver o corpo da pirata despencar em direção ao de Harry. — O que você fez com ela?
— Contei a verdade. - Harry abaixou-se e deitou a irmã, deixando com que sua cabeça repousasse em suas coxas.
— O que aconteceu? - Regina correu até o trio e observou a jovem desacordada. — Ela está bem?
— Vai ficar, acho que escolhi um mal momento para ter feito isso. - ajeitou a gêmea e olhou para atrás de Felix, onde o corpo também desacordado de Peter estava deitado. — Alguém amarra ele?
Hanna se encontrava em uma densa neblina em meio a uma rua na qual ela conhecia. Era a rua em que morava com seu pai e irmão anos atrás.
Naquele momento, todas as suas memórias estavam de volta, ela se lembrava de quem era, quem são seus pais e a sua vida na Ilha dos Perdidos antes de se mudar para a Terra do Nunca.
Começou a andar cuidadosamente, esperando encontrar alguma coisa. A névoa cobria o cenário por completo, era quase impossível enxergar o que poderia estar à sua frente.
— Hanna. - ouviu chamarem seu nome e olhou ao redor, notando uma silhueta ao longe no meio da rua.
— Quem é você? - tentou se aproximar, mas a sombra parecia se afastar ainda mais.
— Ora, não reconhece minha voz? Estou decepcionada com você, filha. - a neblina começou a desaparecer, revelando a figura da mulher. Hanna logo reconheceu sua mãe, sorrindo sarcasticamente. — Não faz tanto tempo que não te vejo.
— Apenas cem anos, tempo o suficiente para eu crescer e esquecer de você.
— Você é realmente igualzinha ao seu pai. Pensei que ao menos puxaria algo de mim além dos poderes.
— Acredito que puxei a insanidade de ambos. - cruzou os braços e olhou para a mãe. — O que quer? Vai me enfeitiçar de novo?
— Eu não faria isso com você, minha querida. Por mais que mereça ser enfeitiçada novamente. Não acredito que conseguiu quebrar com o seu irmão.
— Uma coisa que me ensinaram, mamãe: todo feitiço tem uma brecha. Harry encontrou um no seu. Ele não foi afetado, então conseguiu facilmente me trazer de volta apenas dizendo a verdade. - retribuiu o sorriso sarcástico da mulher que agora a olhava séria. — Você já lançou melhores.
— O amor que eu sentia pelo seu pai me deixou fraca. Uma pena ele não sentir o mesmo por mim. Fiz o que tinha de ser feito!
— Acha mesmo que a coisa certa a se fazer é afastar o meu pai de mim e do meu irmão? Mãe! Isso era entre vocês dois, poderiam resolver de forma diferente! Agora eu estou presa na Terra do Nunca, passei meses em cativeiro e minha vida virou de cabeça pra baixo! Tudo isso é culpa sua!
— A culpa é daquela mulher que roubou o seu pai de mim.
— Eu sei que está magoada, mas o papai amava a Milah. Ela era boa comigo e com o Harry. Poderíamos estar felizes agora se não fosse você e sua obsessão em ser admirada por homens.
— Como ousa dizer isso para a sua mãe?
— Diga logo o que quer e me mande de volta! Não estou a fim de papinho de reencontros.
— Eu poderia mudar o feitiço, pensei por muitos anos em fazer isso para facilitar a vida de vocês. Mas agora que o idiota do seu irmão se enfiou onde não foi chamado, vou ter que continuar com o plano original.
— Como quebro o feitiço? Como consigo o meu pai de volta?
— É bem simples, minha querida. Apenas mate o seu verdadeiro amor e terá a sua vida de volta.
A mulher riu e um raio de luz iluminou o local, forçando Hanna a fechar os olhos e colocar a mão na frente do rosto para se proteger.
Acordou de volta na Terra do Nunca, com Harry sentado ao seu lado, acariciando seu cabelo. Sentou-se lentamente e massageou a cabeça, a sentindo latejar pelo sonho que tivera.
— Você está bem? - ajudou a irmã se levantar e assustou-se ao sentir os braços lhe envolver em um abraço fraco. — O que aconteceu?
— Senti a sua falta, Ganchinho. - apertou o abraço conforme ganhava forças e Harry sorriu, escondendo o rosto no ombro da irmã e permitindo-se chorar.
— Nunca pensei que ficaria feliz em te ouvir me chamar assim. - afastou e secou as lágrimas que teimavam em correr por suas bochechas. — Não achei que daria certo.
— Tinha uma brecha no feitiço da mamãe, você não foi atingido por ele então poderia me contar a verdade a qualquer momento.
— Se eu soubesse disso antes, teria falado assim que te vi. Desculpe por tudo isso.
— Nada disso é culpa sua, Harry. Estamos juntos agora e eu sei como quebrar esse feitiço para nos juntarmos ao papai.
— Como? - Hanna travou por alguns segundos, segurando o choro. Não queria perder seu amor tão cedo, muito menos sabia se Felix era esse tal verdadeiro amor, mas tinha medo de ter de matar alguém para poder viver com a família.
Puxou o irmão para um lugar mais reservado e explicou tudo, desde a visão que teve da mãe quando desacordada até o relacionamento que estava formando com o Menino Perdido.
Harry ficou alguns minutos parado, olhando para o chão com um semblante irado, mas não era por saber do caso da irmã. Sua raiva era toda voltada para a sua mãe. Como ela poderia ser tão cruel ao ponto de forçar sua própria filha a tirar a vida de alguém que ama em troca de permitir que seu pai se lembre dela?
Pensou por mais alguns minutos e depois foi até o pai, se afastando novamente e deixando Hanna confusa e sem ter o que fazer.
— Está tudo bem? - Felix se aproximou e a menor apenas assentiu silenciosamente, secando os olhos marejados com a manga da jaqueta. — O que Harry está fazendo?
— Contando para meu pai que estou viva, mas não pode falar que sou a garota que ele acabou de resgatar, não agora. - sentou-se novamente, sentindo a cabeça latejar em dor.
— Espera, você é realmente filha do Capitão Gancho? - a garota assentiu novamente, o Menino Perdido riu sem graça. — Peter vai adorar descobrir que a garota do desenho é ninguém mais que Hanna Gancho.
— Só Harry tem esse sobrenome, eu continuo me chamando Hanna Beatrice Jones. E acho que Peter já deve saber, todos sabiam.
— Eu ouvi você comentando que viu sua mãe. Posso saber quem ela é?
— Foi um casinho que meu pai teve anos atrás que acabou gerando eu e meu irmão. - riu enquanto via Henry se aproximar. — Eles ficaram alguns anos juntos por nossa causa, até meu pai conhecer a minha falecida madrasta e se apaixonar por ela. O resto da história todos já sabem.
— Ela era minha trisavó. - Henry se sentou ao lado da pirata e a olhou confuso. — Isso faz de você minha tia-bisavó e ao mesmo tempo tia?
— Não complique as coisas, baixinho. - bagunçou os cabelos do garoto e olhou para Felix. — O nome dela é Cora, mas deve conhecê-la como Rainha de Copas.
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Centuries
FanfictionPeter Pan, o garoto que se nega a crescer, encontra o desenho de uma garota datado cem anos mais tarde na Ilha da Caveira. Determinado a encontrá-la, Peter faz um juramento que a tornará mãe dos Meninos Perdidos. O que ele não imagina é que o seu re...