capítulo I

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Vitória

O meu mundo foi desmoronado à 1 ano atrás, fui aí que eu percebi que perdi. Mas uma vez, eu perdi a merda, eu perdi a minha felicidade. Eu perdi ele.

Foi como uma bomba que jogaram na minha frente e não morrer mas você sai com sequelas por conta da gravidade. Foi como eu ter perdido as minhas forças e vontade de viver a vida.

Ele a levou junto com ele. Meu melhor amigo, companheiro, marido, a minha única família. Quando ele se foi eu perdi mais uma pequena pessoinha que nem tava sendo formada direito em meu ventre, não sabia o que estava se passando.

E foi outra bomba que jogaram e se chocou contra mim de uma vez, levando tudo que existia, a minha alma e felicidade.

Agora cá está eu, sozinha vagando pelas ruas geladas de Fox indo para casa com lágrimas nos olhos e segurando o soluço que insistia em sair da minha garganta.

A ferida ainda estava aberta, não estava nem no processo de cura e de cicatrizar. A cada batida de vento em meus cabelos  a dor cada vez doía mais e me machucava mais. Cada dia que se passava piorava e me deixava mais para baixo. Ao ponto de eu ter que fazer cortes em mim mesma.

Ao ponto de eu ter que tomar remédios para dormir e controlar a ansiedade que existe em mim, que mora em mim. Ao ponto de eu ter que fazer terapia todo mês sem falta.

Ao ponto de eu chorar todas as noites com a cabeça no travesseiro. Esse ponto nunca muda o parágrafo, ele sempre fica ali. Desejando que acabe tudo e pule para outra página, para outro dia.

Abro o portão de casa sentindo os meus pés cansados e minhas costas só agora doendo de tanto pegar aquelas crianças no colo e correr atrás delas.

Fecho e tranco o portão, subo as escadinha pequena e abro a porta, entro e logo fecho a porta atrás de mim. Jogo a chave na mesinha e tiro o meu casaco pendurando ele.

Olho em volta, minha casa é bem grande. Ele me deixou de herança tudo que ele tinha, já que a família dele já é rica e tudo mais. Mas se fosse por mim nunca teria aceitado tudo isso, eu gosto das coisas quando é do meu esforço e não quando vem de mão beijada.

Caminho até a cozinha, ela é daquelas modernas e bem chique, ando até a pia e pego um copo de vidro e coloco um pouco de água da torneira mesmo. Tomo líquido transparente me acalmando aos pouco, trêmulo da minha mão não parou e nem vai parar sem eu tomar o meu remédio que já está na hora.

Vou até a minha caixa de remédio e pego a cartela, faço uma careta quando vejo que já é o último. Amanhã antes de ir para a escola terei de comprar mais uma caixinha. Tomo o remédio sem água e nem nada, já estou acostumada com isso.

Ando até a sala, a mesma contém, um sofá grande preto com algumas almofadas coloridas no mesmo, a tv pendurada na parede e um tapete no chão de pelos amarronzado. E apenas isso, com alguns quadros pendurado na parede só para dar uma cor no local.

Me jogo no sofá gemendo quando eu sinto a maciez, mas eu preferia a minha cama mesmo. Suspiro quando a minha mão para de tremer e se acalma. Me levanto contra a minha vontade e subo as escadas indo para o quarto. Empurro a porta e entro já tirando os meus tênis do pé e aliviando eles.

Depois que ele se foi eu joguei tudo que era dele, camisas... Tudo mesmo, fotos nossas, eu não podia ver nada dele nessa casa que eu entrava em desespero, me sentia sufocada com as coisas dele aqui. Agora eu me sinto um pouco mais leve e mais tranquila.

Jonathan foi o meu melhor amigo em todos os momentos, o nosso casamento foi por pura pressão da família dele, já que a família dele era muito apegada em religião e essas coisas. Aí eu fui a escolha mais certa na mente deles, já que eu era inseparável de Jonathan.

Não teve amor de marido e esposa, mas teve muito carinho e afeto nas duas partes, eu amei ele do meu jeito e ele do seu. Trasavamos as vezes, mas era isso. Fora da cama éramos melhores amigos e dentro dela fazíamos um sexo casual. Com os pais dele éramos um casal apaixonado desses filmes cliches de romance. Mas longe éramos nos verdadeiros.

Meu celular vibra no meu bolso e eu o pego ligando a tela e vendo que a prefeita que me mandou mensagem. Já que a cidade é muito pequena todo mundo se conhece e conversa. Eles são muito gente boa e me ajudaram no meu pior momento da minha vida.

A prefeita Débora, é a minha melhor amiga e quase uma mãe para mim, ela é solteira e bem decidida e um pouco sensata demais.

Vejo que ela me perguntou se amanha irei trabalhar e respondo com um "sim". Faço um coque no cabelo colocando o celular encima da cômoda. E caminho até o quarda roupa pegando um pijama de frio e tirando aquela roupa do corpo. Me visto rapidamente e pego novamente o celular e corro para debaixo das cobertas depois de apagar a luz.

Tenho muito medo do escuro, é nessas horas que os demonios atacam. Minha vó me falava quando eu era menor que quando ela era menor ela já viu um demônio parado a olhando e a seguiu até a sua morte, só por que ela não correu para debaixo das coberta e não tampou o pé.

Naquela época eu me tremia igual uma vara verde, mas hoje em dia eu não me arrisco tanto, porque o trauma que minha vó colocou quando eu era menor ainda está em mim e me deixa apavorada.

Ligo o celular e fico um pouco no Instagram vendo pessoas felizes e contente com alguma coisa da vida deu. E eu aqui mofando com algo que a vida me tirou e nunca mais irá devolver para mim.

Afasto os pensamentos quando lembro dos pequenos que eu tanto gosto, trabalhar naquela creche me deixa um pouco feliz quando estou lá. Me faz esquecer dos problemas mas também me faz lembrar que talvez eu nunca consiga ter um filho.

Ter 10% de chance de engravidar me desanima muito, já que eu não tenho ninguém neste momento. E todo homen quer transformar uma família e ter filhos, eu não posso dar isso para ele.

Com Jonathan nos tentamos mas quando eu descobri a sua morte eu entrei em desespero e acabei tendo um aborto espontâneo na hora. Eu estava de 4 semanas, estava tão feliz e me sentindo realizada com isso. Aí jogaram a bomba em mim e eu não aguentei com a pressão.

Ela levou tudo que me restava, minha felicidade e minha esperança. Só deixou eu com traumas e uma depressão horrível que não sei se irei ser libertada desta corrente.





































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A besta- Série, Cosa NostraOnde histórias criam vida. Descubra agora