Três

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Me ajudem dando estrelinhas <3

*

A noite já havia chegando e com ela a brisa fria chocante. Os vidros do caminhão estavam embaçados e Marília só enxergava algo devido ao farol que iluminava a estrada deserta. Suas irmãs não fecharam a matraca nem por um minuto sequer, bombardeando Maiara com perguntas impessoais.

Foi de forma estressante que Marília descobriu que a garota, infelizmente, falava demais e deduziu que colocar quatro garotas falantes no mesmo lugar não era, definitivamente, uma boa ideia.

Lauana coçou seus olhos e bocejou logo após um momento de silêncio e Marília agradeceu mentalmente por isso, já sabendo o que viria a seguir.

— Marília, será que eu poderia ir dormir? — Lauana questionou. Marília apenas assentiu e estacionou assim que pôde. A enorme porta foi aberta e Luísa e Maraisa aproveitariam para ir também, no entanto as garotas congelaram no lugar ao lembrarem de Maiara.

— Droga. Não tem onde ela dormir lá atrás — Maraisa disse, fazendo Maiara franzir o cenho.

— Vocês dormem lá atrás? — Perguntou surpresa.

— Sim. Temos três palheiros lá atrás. Aqui na frente não tem condições de dormirmos todas — Maraisa disse.

— Ela pode dormir aqui na frente comigo. Ela dorme na boléia enquanto dirijo e quando eu estacionar durmo no banco — Maraisa sugeriu.

— Ótimo. Então boa noite, meninas — Maraisa disse.

As três se despediram, indo para a caçamba do caminhão. Marília fechou a porta e reparou que Maiara tremia e, por esta razão, se inclinou e pegou uma blusa de frio sua, que estava na boléia e estendeu a peça para a jovem logo ali.

— Tome isto. Fará ainda mais frio pela madrugada — a mais nova aceitou e colocou a blusa em si no mesmo momento. Estava congelando de frio já tinha umas boas horas e agradeceu a mulher pelo gesto, afinal a blusa fina que estava em sua cintura no momento em que conheceu Marília havia sido posta e nem assim o frio havia ido embora.

— Quantos anos tem? — Maiara perguntou aflorando sua curiosidade e sentiu o cheiro gostoso, que estava na blusa que Marília lhe ofereceu, adentrar-lhe os sentidos.

— Vinte e sete e você? — Marília perguntou, voltando a ligar o caminhão, andando bem devagar dessa vez, pois as garotas estavam sem cinto lá atrás.

— Vinte e seis — os olhos castanhos da motorista se desviaram para a garota, analisando meticulosamente seus traços.

— Não parece — disse solenemente. — Poderia, por favor, pegar a caixa de isopor onde estão os líquidos para mim? — Pediu, apontando para a boléia. Maiara assentiu e se debruçou no banco, puxando a caixa para mais perto de si.

Os olhos de Marília foram para o belo traseiro da moça; seu vestido havia subido alguns poucos centímetros e a mais velha balançou a cabeça, desviando os olhos no mesmo instante.

— Aqui está — Maiara disse, se sentando direito novamente no banco.

Marília abriu a caixa com uma das mãos, sem tirar a vista da estrada e pegou algo no canto de sua porta; logo o colocou sobre seu colo e agarrou algumas pedras de gelo com sua mão. Levou o preparado até o rosto de Maiara e o pressionou suavemente sobre o olho arroxeado.

— Mantenha ele aí. Ajudará a melhorar — ela disse, olhando para a estrada novamente. Os olhos castanhos encararam a caminhoneira e um pequeno sorriso brotou em seus lábios.

— Muito obrigada — ela pediu de forma doce, segurando o preparado em um de seus olhos. — Por tudo.

— Não tem de quê — proferiu batendo seus dedos no volante como se estivesse reproduzindo o som de alguma música. — Pode descansar quando quiser, dirigirei por mais umas duas horas. — Maiara assentiu, sentindo seu corpo agradecer mentalmente, pois a moça beirava a exaustão.

Ela foi para trás e se deitou ali. Seus olhos passearam pelo lugarzinho; não era tão pequeno quanto parecia. Caberiam duas pessoas ali tranquilamente, por isso as meninas usavam como assento durante o dia sem se sentirem sufocadas ou desconfortáveis.

Maiara se aninhou mais em si, ainda segurando a bolsa de gelo e logo a sua bola de pelos subiu ali com ela, dando duas voltas no próprio corpo antes de se deitar junto à dona, ronronando satisfeito.

Os olhos castanhos da motorista eram curiosos e vez ou outra pousavam na expressão serena da garota atrás de si através do retrovisor. As duas horas passaram até que rápidas e Marília então desligou o caminhão, se certificou de trancar as portas e se virou para Maiara.

Ela observou os traços delicados de seu rosto, apesar dos ferimentos. Havia tempos não via uma garota tão linda quanto aquela. Se perguntou o que ela estaria fazendo indo tão longe, se estava de carro. Alguma aventura, talvez? Visitar algum namorado? Não tinha como saber apenas imaginando.

Retirou delicadamente a bolsa de gelo da pequena mão e a colocou no canto, fechando as cortinas para a garota ter mais privacidade e apagou as luzes do caminhão. Suspirou se lembrando que havia programado para aliviar-se aquela noite, no entanto não seria capaz de fazer isso até chegarem em um hotel.

Marília percebeu que a temperatura estava realmente fria, mesmo dentro da cabine, e quando estava prestes a se cobrir com seu pequeno cobertor ouvir um murmúrio lá atrás. Preocupada, a garota de cabelos loiros abriu a cortina, se deparando com Maiara abraçando o próprio corpo. Mordeu o próprio lábio e suspirou derrotada, pegando sua própria coberta e a colocando sobre o pequeno corpo ali.

Como poderia ser tão trouxa por uma completa desconhecida? Deveria usar o cobertor e deixar que a garota se virasse com a blusa, contudo, não importava a carranca que vestia em seu rosto, ela sempre seria trouxa, de fato. Pensou.

Voltou a fechar as cortinas e se aninhou no próprio corpo, se deitando nos bancos da frente, que eram unidos e por isso pôde se deitar tranquilamente. O banco não era tão macio quanto sua cama ali atrás, e provavelmente aquele estúpido gesto de gentileza acarretaria em uma bela de uma dor nas costas.

Analisou as estrelas por alguns instantes através do vidro do caminhão e fez seu agradecimento a Deus diário antes de se entregar ao descanso.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora