Vinte e um

2.6K 234 38
                                    


Marília sentiu seus músculos completamente doloridos, por outro lado, também estavam excepcionalmente relaxados, se espreguiçou e percebeu que não tinha acordado sozinha, senão pela cutucada em seu ombro.

— Hey, delícia... — A risadinha fina escapou por entre os lábios de Maiara assim que as orbes castanhas se abriram. — Se veste rápido... — A menor sussurrou, depositando um doce selinho em seus lábios. — Suas irmãs estão batendo na porta.... Já vai! — Gritou, finalmente.

Os olhos da loira se arregalaram e ela levantou em um pulo, vestindo suas roupas em um piscar de olhos. Ao constatar que Maiara também estava devidamente vestida, ela destravou a porta, abrindo-a e bocejando.

— Bom dia, Lila — Lauana diz animada.

— Bom dia, Lau! — Em anos, aquela foi uma das poucas vezes onde Marília empregou o "bom" junto com o "dia" para Lauana, e ela logicamente percebeu.

— Se chover de novo eu vou te assassinar, sua vagabunda — Maraisa disse irritada. — Você nunca acorda esse horário.

— Dirigi até mais tarde ontem — Marília explicou e as três assentiram sérias, ela pegou sua escova de dentes, sua toalhinha, a garrafa de água, como em toda manhã, e saiu para escovar seus dentes.

Os três sorrisos sugestivos subitamente se abriram na direção de Maiara e então ela soube: elas ouviram Marília gemer na noite passada.

— Eu já te amo só por isso — Luísa sussurrou fazendo Maiara corar.

— Não sei do que vocês estão falando.

— Não há razão para se envergonhar. Gozar é bom — Maraisa disse e Maiara ergueu a cabeça, lhe fitando.

— Não acredito que fez Marília gritar feito uma mocinha... — Lauana falou baixinho, levando uma mão à própria boca para abafar uma risada. — Ela...

Lauana foi interrompida por uma tosse seca de Maraisa e, ao se virar, viu Marília voltando. Todas se ajeitaram nos bancos, averiguando se não tinha gozo por alguma parte; não queriam se sujar com a porra de sua irmã e, no caso de Luísa, cunhada.

— Estão muito quietas hoje — Marília disse, vendo Maiara sair para escovar seus dentes.

— Sou um zumbi antes do meio-dia. Não fale comigo — Maraisa disse séria e mal humorada.

— Ainda estou com sono — Lauana resmungou e Luísa apenas se deitou sobre o peito de Maraisa.

Marília suspirou internamente por ver que suas irmãs e cunhada não desconfiavam de nada e abriu a tampa do isopor.

— Precisamos parar em algum canto e comprar mais gelo e mais coisas para nossas refeições.

Assim que Maiara voltou todas comeram em total silêncio, mas quando Marília terminou primeiro ela a olhou surpresa.

— Uau, estava mesmo com fome — ela disse a loira sorriu.

— Depois de ont... — Paralisou ao notar o que iria dizer, mas foi surpreendida por um grito de Luísa.

— Céus! A porta... Vem Maraisa, me ajude a fechar direito! — A mulher falou, saindo rápido do caminhão.

— Lauana, pode vir também sua folgada! — Maraisa gritou e Lauana sorriu amarelo.

— Eu... estou indo. Licença meninas — e seguiu as garotas.

— O que deu nelas? — Marília franziu o cenho olhando para Maiara.

Maiara riu e encostou de costas entre as pernas de Marília, que escorou suas próprias costas na porta.

— Não sei, mas que tal me dar um beijinho gostoso de bom dia? — Maiara sussurrou, inclinando e virando um pouco o rosto para olhar para Marília.

— Elas já devem estar vindo — sussurrou de volta, a vendo se levantar um pouco e aproximar as bocas.

— Não estão não. Dá tempo de me dar um beijo — sussurrou com a boca já colada na da loira.

Marília respirou fundo, sentindo o cheirinho de hortelã da pasta de dente, mesmo Maiara tendo comido uma fruta depois de escovar os dentes, se inclinou ligeiramente e tocou seus lábios nos lábios geladinhos, macios e refrescantes. A menor introduziu a língua na boca da loira e sentiu a garota sugar seu lábio inferior com gana, antes de finalizar com um selinho.

— Precisamos ir, mademoiselle — Marília disse em um sorriso, buzinando no momento seguinte. As três garotas entraram no caminhão e começaram a conversar entre si.

Marília ligou o caminhão e começou a dirigir, deixando um sorriso enfeitar seus lábios ao sentir Maiara encostar a cabeça em seu ombro. A mais velha não resistiu e se inclinou, depositando um doce beijo na testa da ruiva antes de olhar para trás para verificar se estava sendo observada, encontrou as três garotas olhando para o teto e voltou a olhar para a frente.

Maiara riu internamente, não entendendo como era possível Marília não perceber que suas irmãs sabiam.

Elas não queriam contar que sabiam à Marília porque a garota ficava bem mais à vontade quando pensava não estar sendo observada e, se dependesse delas, não contariam o que sabiam.

— Lila, posso ligar a rádio? — Maiara perguntou.

— Claro, Mai — as três garotas vibraram internamente, afinal, era dia das quarenta mais.

— Adoro essa música! — Maiara afirmou ao ver que tocava uma música antiga que ela amava.

— Eu também — Marília isse, abrindo o vidro do seu lado e sentindo o vento esvoaçar seus cabelos e refrescar o interior do veículo. — No fundo dos meus olhos, pra dentro da memória te levei. Amor, você me tentou. Ô, Carla! — Cantarolou junto com a música.

Maiara suspirou bobamente, virando seu rosto para contemplar a vista de Marília cantando, com a voz grave e rouca.

— Sabia que o meu segundo nome é Carla? — Ela informou animada.

— Nome muito bonito. Realmente você combina com a música. — disse gentilmente, com um sorriso nos lábios. O coro das três meninas interromperam a troca de olhares e a maior voltou seus olhos para a estrada.

— Eu te amei como jamais um outro alguém vai te amar. Antes que o sol pudesse acordar... Eu te amei, ô, Carla! — As três cantaram, sendo acompanhadas por Marília.

Maiara sorriu diante da cena, era cômodo, confortável e gostoso estar ali entre elas. A sensação de pertencer à uma família, que ela nunca tivera, dava as caras naquela altura de sua vida. A moça sorriu tristemente ao lembrar que sua viagem estava quase no fim.

Estúpido coração e sua mania de se apegar tão rápido.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora