Lauana, como sempre, foi a primeira a acordar dentre ela, Maraisa e Luísa. A mulher abriu a grande porta traseira do caminhão e foi fazer sua higiene bucal. Um miado lhe assustou enquanto enxugava seu rosto e então seus olhos foram para baixo, de onde provinha o mesmo.
— Hey, o que faz aqui fora? — Perguntou docemente, vendo Garfield miar novamente antes de se sentar e fechar os olhos. Parecia sereno.
Lauana sorriu ao escutar que o animal ronronava. Descobriu então que o gato aproveitava o calor, afinal a sensação do sol da manhã tocando sua pele era mesmo confortável.
Risadas altas chamaram a atenção de Lauana enquanto ela desfrutava do sol da manhã e caminhou alguns passos, reconhecendo de longe sua irmã do outro lado da rua.
— Bisbilhotando, huh? Que feio! — Maraisa gritou, assustando Lauana, que desferiu três tapas no braço de sua irmã mais nova. — Ouch! — Disse, esfregando o lugar do tapa. — O que tanto vê?
— Marília está se divertindo — Lauana disse como se fosse um segredo de estado.
Luísa e Maraisa arregalaram os olhos e olharam na direção do rio. Dali só se escutava risadas e, por esta razão, as garotas atravessaram a rua sorrateiramente, ficando apreciando o momento de um canto escondido, com sorrisos bobos nos lábios.
— Não vale! Você tem os braços mais compridos — Maiara dizia enquanto jogava água em Marília. A mais velha ria alto diante da fúria da ruiva por ter perdido mais uma corrida.
— Maiara... Para! — Marília gritou ainda rindo enquanto virava seu corpo para não ser atingida por tanta água.
— Havia anos que eu não a via desta forma — Lauana sussurrou e o casal com ela suspirou bobamente.
— E olha que a garota só passou três noites com a gente — Maraisa disse, vendo Marília afundar na água e se levantar novamente atrás de Maiara, abraçando-a por trás para segurar seus braços. — Eita, que elas estão de intimidade — proferiu em um sussurro surpreso.
— Me solta! — Maiara disse rindo e se debatendo. — Marília, não tem graça.
— Te solto se prometer parar de tentar me afogar com esse monte de água — Marília disse firmemente, se controlando para não prestar atenção na pele macia de Maiara sob seu toque.
— Não vou prometer nada. Agora me solta! — Pediu entre um riso e Marília não soltou. — Seus seios estão tocando as minhas costas e eu não responderei por mim se não me soltar — disse de propósito, tendo o resultado que esperava: a mulher lhe soltou no mesmo momento.
— Acho melhor irmos, as garotas já devem estar acordando — Marília disse se esquivando do assunto e Maiara assentiu, nadando até a beira do rio.
— Se divertiram? — Maraisa perguntou quando ambas saiam completamente nuas do rio.
Marília se apavorou, empurrando Maiara na água novamente. A mais nova afundou e voltou à superfície irritada.
— Marília! — Maiara gritou, passando uma das mãos no rosto para retirar o excesso de água e Marília olhou sorrindo amarelo para a garota.
— Certo. Virem-se todas! — Marília disse e Maiara riu.
— Pra que se você está aí pelada na nossa frente?
— Para que Maiara possa sair — respondeu enquanto se secava com a blusa xadrez que usava por cima da outra.
— Eu não me import... — Maiara tentou dizer algo, mas Marília lhe olhou feio.
— Vamos lá! Não temos o dia todo — Marília disse séria e as garotas se viraram.
— Você a viu pelada. Por que está fazendo disso um teatro todo caso nós também a víssemos? — Lauana perguntou rindo, já virada de costas.
— É diferente — Marília disse, vestindo a calcinha e estendendo a mão para ajudar Maiara a sair do rio.
— Obrigada — sussurrou, vestindo sua calcinha e passando o vestido por seu pescoço desajeitadamente.
— Vocês estão transando? — Maraisa perguntou confusa e Marília arregalou os olhos.
— O quê? É claro que não! Por que pensaria algo assim? — Marília respondeu prontamente, meio aturdida.
Maiara sentiu uma pontada de decepção naquela fala. Por que seria claro que não? Ela era tão feia assim aos olhos de Marília?
— Foi só uma pergunta, loirona. Calma!
— Está na hora de irmos. Já comeram? — Perguntou.
— Ainda não — Maraisa informou.
— Mai, você comeu? — Marília perguntou e ganhou um sorrisinho contente de Maiara pelo novo apelido.
— Na verdade, não.
— Vamos lá então, te preparo algum sanduíche e então partimos.
— Por que só vai preparar para ela? — Maraisa questionou.
— Ela é a convidada. Vocês são de casa — respondeu séria.
— Tem certeza de que não estão transando? — Luísa perguntou confusa. Marília nada respondeu, apenas saiu resmungando algo dali e foi para o caminhão.
— Hey... — Maiara disse ao entrar no caminhão atrás dela. — Obrigada pelas risadas — a loira apenas sorriu-lhe contida. — E acredite ou não, este está sendo o melhor aniversário da minha vida em muito tempo — a mulher franziu o cenho e lhe encarou.
— Aniversário? — Perguntou surpresa. — Hoje é seu aniversário?
— Sim — Maiara assentiu. — Parece que alcancei seus vinte e sete, hm? — Brincou rindo.
— Por que não me disse?
— Disse o quê? — Maraisa invadiu o caminhão, passando por trás de Maiara para ir para a boléia.
— Hoje é o aniversário da Maiara — informou.
— Glória a Deus! — Maraisa disse entusiasmada. — Já sabe, não é, Marília? Pare em algum ponto de venda e compre algumas bebidas e algo gostoso para comermos. Ah, você parará de dirigir hoje por volta das sete.
— Gente, não precisa disso tud...
— Você realmente não conhece nossa família — Maraisa a cortou rindo. — Se tem uma coisa que fazemos é ter consideração pelos aniversários e esse foi o único motivo de Marília nunca ter desaparecido de vez de nossas vidas — falou em meio ao riso.
— Já agradeceu à Virgenzinha por mais um ano de vida? — Marília perguntou animada. Era estranho, a mulher nunca estava animada.
— Eu, uh, meio que não acredito nisso. Mantenho a minha fé somente em Deus, mesmo — disse, recebendo olhares surpresos.
Lauana e Luísa conversavam animadamente algo do lado de fora do caminhão e Maiara desejou poder sair dali e ir conversar com as garotas. Ela se sentiu intimidada pelos olhares das irmãs dentro do caminhão.
— Bem, agradeça à Deus então — Marília disse sorrindo docemente.
— Garotas, hoje tem festa! — Maraisa gritou.
— Festa? — Luísa perguntou com uma interrogação no meio da testa.
— Maiara está completando vinte e sete anos — Marília disse sorrindo.
— Oh, meu Deus. É dia de festa! — As garotas disseram animadas, subindo às pressas no caminhão, Lauana segurou o gato em seu colo, subiu e fechou a porta.
— Pois é. Subam porque hoje a noite promete — Marília disse rindo e Maiara se viu em uma espécie de universo paralelo onde a mulher agia daquela forma.
Quem era aquela e o que tinha feito com a Marília séria e grosseira?
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Destino Incerto | Mailila
FanfictionMarília Dias Mendonça é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais duas irmãs ad...