Dezesseis

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Marília já estava há cerca de vinte minutos, aproximadamente, velando o sono de Maiara, havia acordado mais cedo do que todas, como de costume, e passou por cima de Lauana, indo escovar seus dentes e lavar seu rosto lá fora. Ainda chuviscava e por isso ela não demorou lá fora.

— Bom dia, Marília! — Lauana acordou ao sentir o banco se remexer e disse ao ver sua irmã voltar para o caminhão.

— Dia — respondeu com a mesma seriedade de todas as manhãs. Guardou sua escova de dentes e voltou para o lado de Maiara.

— Estou morrendo de fome — Lauana disse se sentando no banco, falou um pouco alto demais, o que acabou despertando Maiara. Ela abriu os olhos assustada, mas ao encontrar aquelas esferas castanhas vidradas nela um sorriso nasceu em seus lábios.

— Bom dia, Lila — a garota disse docemente e levemente rouca e no rosto de Marília se formou um meio sorriso.

— Bom dia, Mai — Marília respondeu com um sorriso, Lauana franziu o cenho e olhou confusa para sua irmã. Que carambolas foi aquela? Cadê o "dia!" Seco e sem humor de todas as manhãs? — Dormiu bem?

— Uhum — a garota respondeu, lembrando-se de ter enterrado seu rosto no pescoço de Marília durante boa parte da noite e dormido inalando o cheiro da pele da garota.

— Você está bem? — Marília perguntou ao ver a garota tossir e então notou que ela estava com o nariz levemente avermelhado. Sua mão tocou a testa de Maiara e então bufou irritada ao sentir a temperatura da garota. — Eu sabia que aquela chuva não te faria bem.

— Eu estou bem — Maiara falou se aconchegando mais em si própria.

— Está com frio? Com sede? Fome? Precisa do quê? — Marília perguntou e novamente Lauana arqueou uma sobrancelha.

— Eu estou bem. Não se preocupe, bobona — Maiara disse, segurando a mão de Marília que estava em sua testa e entrelaçando com a sua.

— Você ter saído naquela chuva ontem foi culpa minha. Então me preocupo sim — disse, puxando a coberta de Lauana e colocando gentilmente sobre o corpo de Maiara.

— Mandou Maiara te ajudar a desatolar o caminhão? — Lauana perguntou confusa e Maiara riu, tossindo junto.

— Ao que parece meu caminhão não quer desatolar, Lau. É uma espécie de feitiço — Maiara disse rindo e logo negou com a cabeça quando Lauana franziu o cenho.

— Coma algo, Mai — Marília pediu e Maiara fechou os olhos, sentindo sua cabeça doer.

— Eu vou chamar as meninas para comer, falando nisso. Assim a gente não se atrasa em sair — Lauana informou, abrindo a porta do caminhão e olhando o céu nublado. Correu para a porta traseira para não se molhar com os leves pingos de chuva.

— Deita aqui comigo um pouquinho? — Maiara perguntou fazendo dengo.

— Elas estão prestes a voltar.

— Estou com frio. — Maiara disse colocando um lindo biquinho para enfeitar seus lábios e Marília sorriu.

— Te dei o cobertor, madame — Marília disse franzindo os olhos e rindo.

— Mas calor corporal é mais eficiente — disse, Marília riu novamente, se deitando ao lado de Maiara, finalmente.

Os braços da menor circundaram o corpo de Marília e ela enterrou o rosto no pescoço da maior. Marília ficou afagando os cabelos de Maiara em silêncio, até ouvi-la fungar e soltar uma risada baixinha.

— Do que ri? — Marília perguntou.

— Eu estava me lembrando da sua cara de bravinha ontem — Maiara respondeu, levando uma mão até os botões da frente da camisa que Marília usava e brincando com eles. — Lila, eu tenho uma dúvida.

— E qual seria?

— Eu ainda vou poder te beijar ou aquilo foi só mais um momento de fraqueza?

Marília riu e olhou para a garota, que ergueu a cabeça para vê-la melhor e aspirou ruidosamente pelo nariz.

— Eu acho que você pegou um belo de um resfriado — Marília disse sorrindo. — Vamos tratar de cuidar de você primeiro e depois você pode me dar quantos beijos você quiser, hm?

— Droga! Só temos menos de seis dias para isso — Maiara reclamou e voltou a enterrar o rosto no pescoço da maior. Marília se arrepiou ao sentir o suave beijo que a ruiva depositou um pouco abaixo de seu maxilar.

— Então trate de comer as coisas que eu pedir e tomar o que eu te der — Marília disse e sentiu Maiara assentir com a cabeça.

— Ainda estou com frio — reclamou baixinho e Marília passou seu outro braço ao redor do pequeno corpo, tendo as duas mãos a acariciando. Uma afagava os cabelos, enquanto a outra acariciava as costas.

Quando as garotas voltaram para a frente do caminhão, Marília silenciou elas com um pedido mudo, pois Maiara havia pegado no sono em seus braços.

— Lau, fica aqui atrás com ela para mim? Preciso dirigir — Marília murmurou e Lauana assentiu.

— Posso escovar os dentes antes ou…?

— Claro! Faça as suas coisas e coma, não precisamos de mais ninguém doente aqui — Marília disse e Lauana assentiu.

— E você não vai comer? — Maraisa perguntou baixinho para Marília.

— Não. Vou ficar aqui com ela.

Maraisa sentiu uma extrema vontade de zombar de Marília mas não se atreveu. Sabia que sua irmã era séria demais em relação à sua vida amorosa e não queria deixar ela de péssimo humor tão cedo.

— Tomara que ela melhore logo — Maraisa disse e Marília aquiesceu.

— Claro que ela vai melhorar, vou passar na farmácia da próxima cidade e se ela não melhorar com o remédio eu a levarei ao hospital.

— Isso não vai atrasar toda a sua viagem? — Maraisa perguntou, se controlando muito para sua pergunta não soar de forma sugestiva.

— Vai — Marília respondeu séria e Maraisa deu um meio sorriso, mas nada mais disseram.

Assim que Lauana voltou e comeu, Marília se livrou do toque de Maiara e voltou a tocar sua testa. A expressão séria e preocupada no rosto da loira fez as meninas lhe olharem com anseio, vendo ela entortar a boca e bufar.

— A febre está aumentando — disse, deslizando a mão da testa para o rosto da garota.

— Pode ir dirigir que eu fico aqui com ela — Lauana disse gentilmente e Marília assentiu um pouco contrariada.

Marília se inclinou e tocou seus lábios na testa da garota adormecida de um jeito protetor.

— Você vai ficar bem, Mai — sussurrou e então pulou para a frente, ligando o caminhão e começando a dirigir, mas a cada segundo seus olhos iam para o retrovisor, vendo a figura adormecida na boléia.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora