Cinco

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A noite estava se aproximando e as meninas rumavam para o hotel; o ruído do caminhão enquanto andava era quase inaudível e as garotas tagarelavam sem parar. Marília apenas assentia quando alguma das meninas lhe perguntava algo ou resmungava a resposta baixinho.

— Podemos ligar a rádio? — Maiara perguntou tímida e Maiara lhe olhou de soslaio. As outras três garotas puseram suas atenções no momento esperando uma resposta diferente da habitual.

— Não — a resposta foi seca e Maiara corou pela rejeição. — Chegamos — Marília estacionou na rua mesmo e desceram, trancando o caminhão antes de seguir para o hotel.

— Dois quartos, por favor — Marília pediu e o rapaz assentiu, digitando algo em seu computador. Quando foi dar alguma informação para a loira, os olhos do rapaz encontraram Maiara na porta, distraída brincando com seu gato, e o rapaz, por alguns segundos, esqueceu o que estava fazendo.

— Será só por esta noite, moço — Marília explicou, em relação ao gato. A loira voltou a olhar na direção do olhar do homem para constatar que ele não olhava para a gata, senão para Maiara. — Temos um pouco de pressa — o homem nem se moveu e a mulher enrijeceu o músculo do maxilar. — Estou invisível agora?

A risadinha de Maiara foi anasalada e então ela se aproximou, tocando respeitosamente as costas de Marília.

— Deixa comigo — ela disse a Marília. — Olá, será que poderia nos dizer se tem os dois quartos que minha colega aqui pediu? Eu realmente preciso muito de um banho e descansar — o olhar do garoto passeou pela expressão doce no rosto de Maiara e sorriu abertamente.

— Claro. Estão em alguma espécie de viagem entre amigas? Posso mandar uma champagne para lá por conta da casa. Em qual quarto ficará? — Marília iria dar uma resposta bem malcriada, no entanto Maiara pressionou os dedos no braço dela, sem fazer muito força.

— Você ainda não disse o número de nossos quartos e tampouco nos deu a chave — o sorriso de Maiara falava por si só; a leveza de sua expressão e a paciência de proferir tudo tão calmamente estavam irritando Marília.

— Oh, meu Deus. Sinto muito, senhorita. Digo, senhorita, não é? — Ele perguntou de forma galante enquanto pegava duas chaves e entregava na mão de Maiara, aparentemente seu rosto machucado não impedia o rapaz de achá-la atraente.

— Sim. Senhorita — ela respondeu, agarrando a chave e sorrindo gentilmente para ele. — Obrigada. Não precisaremos preencher a ficha de cadastro, não é? Eu realmente estou tão cansada.

— Não se preocupe com isso, eu dou um jeito — o homem piscou e Maiara voltou a sorrir.

— Fico muito grata. Estarei no vinte e dois com duas delas e minhas amigas no vinte e três — apontou para Maraisa e Luísa.

— A champagne será providenciada — ele respondeu. — Como se chama?

— Mais tarde eu te falo — ela disse, jogando uma piscadela e indo em direção ao elevador. O garoto suspirou bobamente e as meninas lhe seguiram.

— Você deixou o garoto de quatro — Maraisa disse enquanto via Garfield subir junto no elevador.

— A champagne fica para vocês, vocês ficam com o vinte e dois, tem problema? Um presente para o casal — disse quando o elevador começou a subir.

— Quanta bobagem! — Marília resmungou baixinho.

— Não acredito que ganhou uma garrafa de champagne por flertar com ele — Lauana disse, vendo as portas do elevador se abrirem ao chegarem no andar de cima.

— Acredite, eu não flertei com ele. Apenas sorri.

— Você flertou sim — Lauana disse rindo. — Não pode ter tanto poder sobre um garoto sem fazer isso.

— Você reconheceria meu sorriso, na hora, se eu tivesse flertado, acredite em mim: Não flertei.

— De todo o modo, eu quero um pouco de champagne — Lauana disse rindo.

— Sairemos cedo, Lauana — Marília avisou com veemência.

— E daí? Quem dirige é você, querida irmãzinha — Lauana disse em um tom zombeteiro, indo para o quarto vinte e dois com suas irmãs.

— Se quiser pode ir também — Marília disse enfiando a chave na fechadura. — Afinal foi seu presente.

— Não, obrigada. Eu não bebo champagne — Maiara disse, analisando o quarto assim que a porta foi aberta. Era simples o lugar, afinal era beira de estrada e não se encontraria algo melhor do que aquele hotel, no entanto era bastante aconchegante.

— Pode ir tomar um banho. Eu trouxe algumas roupas e você pode usá-las para não ter que colocar o mesmo vestido outra vez. Já a peça íntima... — Maiara sorriu com nítido divertimento por Marília ter enrubescido.

— Você é alguma espécie de virgem? Temos quase trinta anos e você corou por mencionar uma calcinha — Maiara disse rindo e Marília fechou a cara.

— Lave ela no banheiro que com este calor estará seca pela manhã.

Após ambas tomarem seus respectivos banhos e lavarem suas roupas embaixo do chuveiro, Maiara teve a ideia de juntar as duas camas, pois não queria que Marília dormisse no chão. Enfiaram um cobertor no vão dos colchões para ficar confortável e quando iriam se deitar a porta foi aberta bruscamente, tendo três mulheres alcoolizadas adentrando o ambiente.

— Lauana disse que aquele quarto é assombrado — Maraisa disse se sentando na cama. — Eu não quero ficar lá. Imagina se algum espírito resolve aparecer enquanto estou transando?

— Ele sairia correndo de susto por te ver pelada — Marília disse, soltando uma risada rouca que encantou os ouvidos de Maiara.

— Preciso de um banho — Lauana disse, indo para o banheiro sem dizer mais nada.

Maiara se permitiu analisar Marília enquanto sua atenção estava em Maraisa e Luísa. Seus cabelos molhados, agora sem boné, estavam caídos por seus ombros. A garota possuía a pele bem clara e as sobrancelhas perfeitas, o nariz era gordinho e a boca deliciosa, pensou Maiara, rindo internamente de seu pensamento. Tinha quase certeza que a mulher também gostava de garotas, aquele sexto sentido dela nunca falhava.

— Ela é sempre tão quieta assim? — Maiara perguntou à Maraisa assim que Marília se levantou para pegar algo em sua mochila.

— Sim. Ela se faz de durona, mas é mole feito gelatina, por isso não estranhamos quando ela aceitou te dar carona.

— Ela sempre dá carona? — Maiara perguntou em um sussurro, curiosa.

— Não, ela nunca dá, mas ao ver você entendi o porquê ela deu — Maraisa disse com um sorrisinho no canto dos lábios e viu Maiara lhe olhar atentamente, esperando uma explicação. — Você era a mocinha indefesa e inocente em apuros — os olhos da ruiva se direcionaram para Marília outra vez, que usava um short colado e uma blusa um pouco larga, que quase cobria o short, chegando um pouco acima da altura de suas coxas.

— Posso não ser tão indefesa ou inocente assim — ela disse em um longo suspiro.

Destino Incerto | MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora