— Por que ela teve que sair na chuva? — Maraisa perguntou ao olhar o rosto quase sem cor da garota que dormia no banco de trás.
Maiara usava um pano molhado para colocar sobre sua cabeça, com a intenção de diminuir a febre que havia aumentado drasticamente.
— Eu não tenho dinheiro... — Maiara murmurou, respirando com certa dificuldade. — Ainda não...
— Ela está delirando — Maraisa disse preocupada e Marília sentiu-se ainda mais culpada pela noite passada.
— Estamos quase chegando — Marília informou.
— Na farmácia? — Luísa perguntou e Marília resmungou algo somente para si.
— No hospital, Lu. Febre muito alta é perigoso.
— Você saiu totalmente fora do seu caminho para levá-la ao hospital? — A loira mais baixa perguntou surpresa e ao mesmo tempo orgulhosa.
— Não. Ainda estou na estrada e é você que está alucinando ao invés de Maiara — Marília respondeu rudemente.
— Mamãe... — Maiara voltou a murmurar e Marília se concentrou em orar para que a pobre moça ficasse bem.
Meia hora depois elas chegaram no hospital e Marília estacionou do outro lado da rua. Maraisa pegou Maiara no colo e a colocou no colo de Marília do lado de fora do caminhão com todo o cuidado do mundo.
— Tranquem o caminhão — Marília pediu antes de adentrar o local com o pequeno corpo em seus braços. A mais velha fez uma nota mental de comprar algumas peças íntimas para Maiara, já que a garota estava sem calcinha e só tinha aquela que usara na noite anterior.
O médico não demorou a atendê-las e disse a Marília que ela fez o certo em levar Maiara urgentemente ao hospital, pois a garota beirava os quarenta e um graus de temperatura corporal e havia muitas pessoas que morriam com tal número.
Após os cuidados necessários, Maiara ficara em observação pelo restante da noite e acordara pela madrugada, confusa e perdida, contudo, seu coração se acalmou ao ver o corpo branquelo esparramado em uma cadeira ao lado de sua cama. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios ao ver que a mão de Marília estava entrelaçada com a sua.
A menor começou a acariciar os cabelos loiros com a outra mão e, em um pulo, Marília despertou.
— Heey, calma! — Maiara pediu rindo, sentindo seu nariz funcionar muito melhor naquele momento.
— Mai... — Marília pronunciou, erguendo as orbes castanhas na direção da menor. — Lhe comprei calcinhas! — Maiara lhe olhou surpresa, erguendo ambas as sobrancelhas e segurou o riso.
— Oh...! Obrigada?— Ela disse um tanto sem reação. Marília corou ao perceber o jeito que havia proferido aquilo.
— Oh céus... Eu não quis dizer isso não, diacho! — Ela falou e Maiara sorriu pela forma arrastada que Marília havia proferido e puxado a fala. — É que, bem, você só estava com aquela e o doutor disse que você precisava colocar essa roupa aí... — Começou, meio embaraçada. — Pedi que ele se retirasse da sala e fui comprar calcinhas pelas redondezas. As enfermeiras te vestiram.
— Expulsou o médico da sala? — Maiara perguntou rindo.
— Você não ia fazer nenhuma cirurgia, não havia necessidade de ele te ver nua — Marília disse séria e Maiara riu ainda mais.
— Marília, ele trabalha com isso. Está acostumado.
— Não havia necessidade de ele te ver nua e fim — respondeu tocando sua própria nuca em uma massagem.
— Certo! — Maiara disse sorrindo. — Dores por dormir aí?
— Estou acostumada a dormir em qualquer canto, não se preocupe — disse ela, meio sem jeito.
— Me preocupo sim. Deite-se aqui comigo.
— Não precisa...
— Por favor? — Como raios aqueles olhinhos castanhos cintilantes tinham tanto poder sobre Marília?
— Certo — respondeu em um murmúrio antes de retirar os sapatos e se deitar ao lado de Maiara que se ajeitou sobre o peito dela e acomodou uma de suas mãos na barriga da maior.
— Onde estão as meninas? — Maiara perguntou, sentindo Marília começar a afagar seus cabelos sem sequer perceber.
— Em um hotel. Queriam ficar na sala de espera, mas as dispensei. Só é permitido a permanência de uma pessoa para passar a noite e pensei que seria bom elas descansarem.
— Desculpe te causar problemas — Maiara pediu em um suspiro pesado. — Sei que não gosta de gastar muito em hotéis e que isso irá te atrasar ainda mais.
— Não seja tola. Hoje eu comprei calcinhas — Marília disse rindo. — Se não fosse por você eu jamais teria feito isso na vida.
— O quê? — Maiara perguntou confusa. — Quem compra suas calcinhas?
— Maraisa. Ela sabe todos os meus números e compra, não só calcinhas, como roupas também. Do meu agrado, claro — explicou. — Eu odeio, do fundo da minha alma, comprar roupas. Não tenho paciência!
Maiara sorriu ao imaginar as caretas e os resmungos baixos da mulher caso fosse em uma loja, já estava se adaptando ao jeito sério da garota. A menor apoiou seu queixo no peito de Marília e a fitou sorrindo. Seu dedo indicador pincelou o topo do nariz da loira de maneira doce e suave.
— Você é muito mimada por suas irmãs, mocinha — Maiara disse e Marília quase sorriu; só percebeu isso porque o canto direito da boca da loira se repuxou minimamente.
— É uma rotina nossa — Marília disse. — E eu, particularmente, adoro seguir à risca a minha rotina.
— Oh... Aposto que é por isso que você se incomoda tanto comigo — Maiara disse sorrindo. — Estraguei a rotina de sua viagem — Marília lhe olhou séria por um instante antes de lhe responder.
— Posso ser meio teimosa, mas devo admitir que ver você bagunçar a minha rotina foi, a princípio, assustador — Marília disse, rindo no momento seguinte. — Mas fazia anos que eu não nadava em um rio ou tomava um banho de chuva — revelou. — Especialmente nadar pelada.
Maiara riu alto ao ouvir aquilo e abraçou com mais vontade o corpo abaixo de si.
— Durma, ruivinha! Amanhã teremos um longo dia — Marília disse e Maiara assentiu, desejando um "boa noite" e enterrando sua cabeça na curva do pescoço da mulher.
Maiara sorriu ao constatar que, após dias, ela não iria dormir excitada.
No lugar da excitação tinha outro coisa: Uma sensação de estar protegida; de bem-estar; uma sensação que aquecia seu peito. Maiara não conseguia entender ou sequer explicar aquele sentimento, mas não precisava: Sentir lhe bastava.
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Destino Incerto | Mailila
FanfictionMarília Dias Mendonça é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais duas irmãs ad...