Capítulo 24

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Wille.

Wille.

Wille.

Esse era o nome que queria, mas teve que usar a identidade de Linus para comprar a passagem para a Alemanha. De lá iria para a Suécia. Esse era seu plano.

— E o Simon? — perguntou Júlio, enquanto colocava o jaleco para iniciar seu turno no hospital.

— O que tem ele?

— Ele não deu mais notícias.

Não respondeu e continuou tomando o suco, corpo apoiado no balcão da cozinha. Já conseguia mover o ombro após uma semana de repouso e remédio.

— Você acha que ele está bem?

— Eu não sei.

— Vocês eram amigos mesmo?

— Como assim?

— Vocês eram só amigos?

— Por que pergunta?

Júlio deu de ombros. — Ele foi muito atencioso com você.

Entendendo onde ele queria chegar, esclareceu para não precisar lidar com indiretas: — Eu não sou a pessoa que ele gosta.

— Então ele namorava o menino que desapareceu?

— Tipo isso.

De braços cruzados, encostado no batente da porta da cozinha, Júlio ficou em silêncio até soltar: — Eu acho que ele gosta de você.

— De mim? — disse em tom de piada. — Ele só ficou comigo porque achava que eu era o Wilhelm.

— Quando ele ficou do seu lado na cama, todo preocupado e segurando a sua mão, ele sabia muito bem que você não era o Wilhelm.

— Ele estava confuso — respondeu rápido.

— Confuso? — Júlio arqueou as sobrancelhas. — Acho que não.

— Isso não importa agora.

— Por que ele não voltou aqui mais?

— Eu mandei ele ir embora.

Júlio revirou os olhos. — Era isso mesmo que você queria?

— Eu não posso me dar o luxo de querer algo.

— Claro que pode. Caso não tenha notado,  sua vida não acabou ainda.

— Eu não tenho uma vida.

— Não é o fim do mundo — Júlio disse sério. — Você ganhou uma segunda chance. Você vai ser uma pessoa nova, vai ter uma vida nova.

— Eu sei, eu vou ter uma vida nova. Longe dele, de você e daqui.

— Você gosta dele?

Calou-se e a cozinha ficou em silêncio por um minuto.

Enquanto os segundos passavam, marcados pelo tique-taque do relógio, tentava conter o sentimento que ligava todos os alertas vermelhos, um sentimento que não devia existir. Era fútil, descabido e pesado demais. Não podia carregar isso em sua bagagem.

Júlio entendeu, então completou: 

— Você não devia ter afastado o Simon. Ele se mostrou forte o suficiente para ficar do seu lado.

Balançou a cabeça em negação. — Pelo pouco que descobri sobre mim, eu sou violento, traidor e frio. Simon foi a primeira pessoa que me fez sentir algo bom. Erik me mostrou o que era ter uma família. Você é a única pessoa que eu posso confiar. Hoje o Erik está morto, Simon podia ter morrido também e você está correndo perigo. Você acha que eu vou continuar aqui? Com você? E ao lado de Simon? Não, eu não vou.

O Passado Define [Wilmon AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora