Capítulo 26

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Simon abriu a pesada porta de aço e acendeu as luzes do Transato, revelando um cômodo repleto de livros usados e discos de vinil.

Na estreita cozinha no fundo da loja, ligou a máquina de café. Enquanto duas xícaras eram preparadas, acessou todos os portais de notícias possíveis Fazia isso todos os dias, mas, diferente dos outros dias, naquela manhã, ele encontrou o que procurava.

Após três meses de investigação, a líder da gangue Beco Número 9, Renata Sorntast foi finalmente presa pela polícia, acusada por formação de quadrilha, porte ilegal de arma de fogo, homicídios e sequestros...

Suas pernas cederam, procurou um lugar para se sentar e sugou ar para dentro dos seus pulmões, como se nunca tivesse realmente respirado antes.

... Foram presos também mais cinco homens envolvidos... A polícia ainda está apurando o caso de Wilhelm e o jovem conhecido como Linus.... De acordo com a investigação, ele foi visto pela última vez próximo a ponte... Segundo fontes, ele foi visto pulando no rio após um tiroteio. Ele continua desaparecido até o dia de hoje...

Júlio passou pela porta e olhou para Simon, inerte, recostado na poltrona antiga, totalmente alheio à sua presença. Então, ele bateu com os dedos na superfície de vidro do balcão para chamar sua atenção.

— Alguma notícia? — ele perguntou e Simon ergueu a cabeça, rosto sufocado. — O que foi?

— A Renata foi presa.

Júlio franziu a testa, o choque tomando conta da sua feição. — Ele?

A cabeça de Simon pendeu para baixo e suas duas mãos serviram de suporte para ela.  — Nada.

Júlio se aproximou e pôs uma mão no ombro do amigo.

A princípio, a esperança de escutarem boas novas era o motivo pelo qual mantinham contato, mas ao longos dos meses, uma afeição genuína foi criada entre eles e uma inesperada amizade nasceu.

— Simon, já vão fazer três meses.

— Eu não devia ter ido embora — murmurou, ainda cabisbaixo. — Devia ter ficado com ele.

— Não pense nisso agora.

— Por que ele não volta?

— Ele pode não ter sobrevivido.

— Eu não acredito.

— Você tem que começar a pensar nessa hipótese.

— Ele não merecia isso.

O olhar ressabiado de Júlio caiu para o chão. — Nada disso teria acontecido se eu tivesse pedido um teste de DNA.

Simon sacudiu a cabeça, recusando essa possibilidade. — Se tivesse feito, eu não teria conhecido ele.

Júlio torceu a boca. — Quem lida com gangue e facção, corre um risco muito grande, infelizmente, ele não sobreviveu.

— Eu já disse que não acredito nisso — Simon repetiu, com mais firmeza.

Júlio suspirou e foi pegar uma xícara de café na máquina expresso. — Ele tinha uma vida difícil.

— Ele queria tanto que fosse diferente.

— Ele quase teve uma segunda chance.

— Eu não fiz nada, eu podia ter feito tanta coisa.

— Não se culpe.

— Ele quase morreu nos meus braços, você tem ideia do que é isso?

— Eu sei.

— Não, você não sabe — Simon disse, sentindo o peso do seu coração. Cada fibra do seu corpo o cobrava. Ele estava em seus braços no dia em que descobriu sua terrível identidade, ele estava em seus braços quando quase morreu, ele deveria estar nos seus braços nesse exato momento.

O Passado Define [Wilmon AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora