Simon acordou estranho, meio entorpecido, como se tivesse acabado de perder algo. Mas já fazia um tempo que havia perdido, então, por que sentia aquele estranho tipo de adeus nas entranhas?
Talvez esse sentimento nunca tenha deixado seu peito, talvez só estava mais presente, forte, sufocante. Wille era o causador de tal emoção, que já deveria ter desvanecido.
- Ele pediu para nos encontrarmos - disse sua mãe na cozinha.
Naquele dia estava na casa dos pais para um almoço em família. Um evento que só piorou seu estado de torpor.
- Quem?
- O Wilhelm.
Simon tinha certeza de que assentiu após ouvir essas palavras, mas teve que abaixar a cabeça para não deixar tão óbvio o quão afetado ficou. Continuou a cortar as batatas para a maionese enquanto Célia explicava.
- Ele disse que está pra vender a casa e quer alguns conselhos do seu pai.
Desde quando seu pai e Wilhelm eram amigos? - Eles são próximos o suficiente para isso?
- Seu pai ficou bem emotivo com a volta dele e se disponibilizou para ajudar com qualquer coisa que ele precisasse.
Desde quando seu pai era emotivo? - Legal.
- Eu chamei para ele vir no feriado - ela avisou. - Vou preparar um bacalhau bem gostoso.
- Ele pode não gostar, mãe.
- Ele comeu da última vez... - a voz dela foi sumindo quando percebeu o que estava dizendo.
- Mãe, não era o verdadeiro Wilhelm - disse o óbvio e sua mãe soltou um som qualquer com a garganta.
Iria ter uma refeição com Wilhelm em sua casa. De novo, como se fosse a primeira vez. Era como se estivesse fazendo uma regressão ao passado. Seu olhar foi atraído para o piano de cauda longa. Não tinha ideia de como iria ser esse encontro, mas deveria se preparar.
A semana deveria ser curta por conta do feriado, mas arrastou-se lentamente para sua mente inquieta. Antes mesmo do amanhecer de sexta-feira, seus olhos já estavam estatelados. Sua mãe o manteve informado das novidades através de mensagens. Wilhelm não teve dificuldade em vender o restaurante e, pelo que parecia, ele iria morar na casa dos pais por enquanto.
Ele realmente estava voltando.
De volta a cozinha da casa dos seus pais, Simon picava o tomate. O prato servido seria bacalhoada. Não lembrava se Wilhelm gostava de bacalhau, na verdade, não sabia mais o que ele gostava de comer, o que ele gostava de fazer, o que o fazia rir.
Havia tantas perguntas a serem feitas. Tantas coisas a descobrir. A única questão que restava era: queria realmente conhecê-lo novamente?
À mesa, Simon observou Wilhelm servir arroz, salada... Ele pulou a assadeira fumegante. Sorriu com o canto da boca. Ele de fato não gostava.
- Não gosta de bacalhau? - sua mãe perguntou.
- Sou alérgico.
- Perdão, não sabia.
- E o que você pretende fazer com o dinheiro do restaurante? - seu pai perguntou.
- Eu vou dividir o valor do restaurante com a Ana.
- Muito justo da sua parte, meu jovem.
Wilhelm continuou sério, algo que não passou despercebido por Simon. - Eu queria conversar com você sobre o melhor investimento para a minha idade.
- O que você pretende fazer daqui uns cinco anos?
A sala de jantar ficou em silêncio. Dava para ver que Wilhelm foi pego de surpresa com a pergunta.
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O Passado Define [Wilmon AU]
RomanceSem passado e com futuro ameaçado. É dessa forma que Wilhelm se sente depois que é encontrado ferido e sem memória na rodoviária de uma pequena cidade. Quem ele é? Para onde ia? Onde está sua família? Wilhelm não sabe a resposta para nenhuma dessas...