Capítulo 10

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Wilhelm destrancou a porta, acendeu as luzes do restaurante e ligou o ar-condicionado. Erik entrou em seguida carregando um caixote com ingredientes frescos.

Aos poucos, as lojas da rua abriram e logo as pessoas começaram a circular pelas calçadas arborizadas. As folhas do caminho foram varridas e recolhidas, as mesas foram colocadas para fora, sendo ocupadas, e o burburinho foi aumentando gradualmente.

Enquanto Wilhelm molhava as flores dos vasos da estante, observava o movimento dos transeuntes, que iam e vinham pelas ruas nas imediações do restaurante, tentando distinguir em cada um sua história, seus sentimentos, encontros e desencontros. Todos tinham histórias.

E assim criou seu ritual do dia a dia e, a cada dia que passava, Wilhelm se sentia mais confortável com sua identidade. Lugares antes desconhecidos se tornaram familiares e começaram a fazer parte da sua nova vida.

No restaurante, Wilhelm servia as mesas ao longo do dia e tinha contato com todo tipo de cliente, do mal educado até aquele simpático que conversava mais do que o necessário.

À noite em casa, deitava na cama para ler livros, enquanto escutava as músicas dos seus antigos CDs, sempre com a esperança das melodias acentuarem algo dentro de si, tristeza, felicidade... Qualquer coisa. 

As visitas à livraria eram quase diárias e em todas elas iniciava uma conversa com o livreiro careca para pedir indicações. Não gostava de televisão, mas se divertia ao escutar as gargalhadas de Erik enquanto ele assistia um programa de comédia.

— Moço, eu perdi meu celular. Deixei ele em cima da mesa, mas sumiu do nada — disse um jovem estudante ao se aproximar do balcão e Wilhelm imediatamente esquadrinhou o restaurante com os olhos.

Era meio dia e o espaço estava cheio, quase todas as mesas estavam ocupadas. O jovem ocupava uma, junto com mais outros três estudantes, ao lado da janela. Desde o momento que esse grupo chegou, nenhum cliente pediu a conta e deixou o local.

Próximo a mesa deles, estava um casal abraçado, uma senhora de cabelos brancos e um senhor vestido com um terno caro. Descartou e seguiu para as duas últimas mesas.

Nelas, estavam um homem com um uniforme, que comia seu prato às pressas, provavelmente atrasado para bater o ponto, e uma mulher com seios apontando contra o tecido da blusa decotada.

— Espere aqui.

Wilhelm saiu de trás do balcão e repassou na memória as pessoas que saíram do restaurante nos últimos trinta minutos. Nada suspeito. Já iria subir para o andar de cima, se não fosse por sua intuição, quase compulsiva, de investigar mais as mesas do fundo. Olhou para a mesa limpa da mulher de decote e seu olhar se fixou na bolsa dela ao lado do prato vazio.

Ela ainda não tinha feito o pedido e a atenção dela estava voltada para a entrada do restaurante. Ela não parecia esperar por alguém, pois não havia sinais de impaciência no rosto dela, apenas apreensão.

— Senhora, por favor, levante a bolsa — ordenou, com olhos duros e voz firme.

— O que? — Ela reagiu, assustada, com os olhos arregalados.

— Levante a bolsa antes que eu chame a polícia.

A mulher não demorou meio segundo para obedecer. Com as mãos trêmulas, tirou a bolsa da mesa e fingiu surpresa quando embaixo estava um celular.

— Ô, como isso foi parar aqui?

— Sugiro você sair daqui e nunca mais voltar.

Foi uma questão de um cinco segundos entre a mulher sair da mesa e se retirar do restaurante, se ocultando entre as pessoas que passeavam pela rua.

O Passado Define [Wilmon AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora