|Capítulo 41|

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“Está bem”
 
A voz dela me tirou dos meus devaneios e abri um sorriso de orelha a orelha. Finalmente algo estava correndo como eu queria nesse casamento. Gostaria de conversar comigo de um ano atrás e saber o que a Heyoon completamente contra o casamento diria sobre tudo isso. Ser submissa de Sina não estava nem nos meus planos mais profundos, mas estou aqui e não tem outro lugar aonde eu quero estar.
 
— Como uma garota animada como você foi escolher justo minha irmã pra se casar? - Ela perguntou rindo ainda sem acreditar — Não acredito que Sina tenha conquistado alguém como você.
 
Sorri sem jeito vendo ela se aproximar e cruzar os braços. Sofya era muito linda, mas ainda sim uma menina e pelo o que eu notei era bem madura pra idade. Talvez seja o fardo de perder tudo na idade em que perdeu.
 
— Mas eu conquistei. - A voz de Sina se sobressaiu e ela passou pela irmã e me puxou pela cintura. — Vamos entrar, vai escurecer e você pode pegar um resfriado.
 
Afirmei fazendo Sofya nos olhar e revirar os olhos.
 
— É sério? Vocês duas parecem que saíram de um filme romântico.
 
Se você soubesse.
 
Segurei na mão de Sina e caminhei para entrar junto com ela. Sofya ficou para trás alegando continuar seu treinamento e não poderia parar naquele momento. No caminho de volta para casa, Sina parou em frente a uma enorme árvore perto da casa.
 
— O que tanto falava com a Sofya?
 
A voz de Sina estava mais grave que o normal, eu desconfiava que talvez o ambiente estivesse afetando ela psicologicamente.
 
— Eu apenas a convidei e ela aceitou. - Sina afirmou parecendo entender e segurei nas mãos dela, a fazendo me olhar diretamente. — Preciso te perguntar uma coisa.
 
Sina me analisou e assentiu brevemente, para que eu fizesse a pergunta.
 
— É sobre aquela noite. - Senti Sina ficar tensa, mas ela não me interrompeu. — A casa onde tudo aconteceu... Ainda existe?
 
Talvez eu estivesse curiosa demais, mas em algum ponto eu passei a imaginar os acontecimentos daquela noite mais do que eu gostaria.
 
— Existe.
 
A resposta de Sina foi curta, tão curta que senti naquele instante que ela não queria mais falar sobre o assunto. Ainda que mesmo assim continuasse bem vago, eu ainda tinha algumas coisas a perguntar. Resolvi guardar as perguntas para outra ocasião e abracei Sina, fazendo a tensão do seu corpo ir embora.
 
— Me desculpa por perguntar.
 
Sina nega com a cabeça e segura em minha mão.
 
— Apenas vamos entrar, antes que você fique doente.
 
Ela disse entrando em casa junto comigo e de cara já vemos sua tia sentada no sofá com um livro em mãos.
 
— Olá moças, estamos esperando o jantar ficar pronto. - Ela diz com um sorriso de orelha a orelha no rosto — Enquanto isso, porque não nos conta como foi que isso aconteceu? Foi tão repentino Sina.
 
Estava claro o que a mulher queria saber. Ainda sim era demais a resposta. Ainda que minha história agora estava feita e acabada com Sina, eu sabia que a forma como tudo começou foi catastrófica.
 
Sina ficou branca... Minha noiva virou um fantasma, então eu virei rédeas da situação e segurei na mão dela.
 
— Eu não estava certa sobre isso... Sobre me casar e dividir a minha vida com alguém. - Falei brevemente, fazendo a mulher me analisar. — Eu tenho 18 anos, ainda tenho muito o que viver e aprender e bom... Sina chegou de surpresa na minha vida e não poderia estar mais... Encurralada. - Falei enquanto sentia os olhos da minha noiva em mim. — Mas não levou muito tempo pra eu notar que a cada vez que eu a tinha longe de mim, era como perder pequenos pedaços meus aos poucos. Em poucos meses eu me vi presa na vida dela, ou pelo menos era isso que eu pensava. Quase um ano depois de nos conhecermos, eu ainda não conhecia a verdade sobre ela.
 
Tomei um ar.
 
— A verdade sobre quem era a mulher que chegou tão rápido na minha vida e fez toda a diferença. - Falei sentindo meu coração palpitar — Foi numa noite, uma noite com uma memória tão traumática pra ela que eu a conheci. Foi quando eu a vi em seu maior momento de fragilidade que eu soube. - evitei olhar Sina — Eu soube naquele instante que eu tinha que protege-lá. Que eu tinha que cuidar da grande Sina Deinert... A mulher que por muito tempo me fez questionar tudo. - Olhei nos olhos dela. — Naquela noite eu soube que ela havia sido feita pra mim.
 
A senhora a minha frente tinha os olhos cobertos por lágrimas e quando virei meu rosto para Sina, ela estava da mesma forma. As lágrimas faltavam em seu rosto, mas seu nariz estava vermelho e ela estava visivelmente abalada com o que eu havia acabado de contar.
 
— Sina eu juro que se deixar essa garota sair da sua vida... Eu quebro seus dentes.
 
A voz de Sofya preencheu o lugar, olhei para a irmã da minha noiva. A mesma estava a vestida com roupas quentes, mas confortáveis.
 
— Não se preocupe com isso, eu jamais vou deixar ela sair da minha vida.
 
O tom de Sina era leve, mas isso não diminuía o significado daquelas palavras. Eu havia acabado de me declarar pra ela, mas não havia dito o que eu queria, ainda que estivesse claro.
 
— O que foi meu amor?
 
O homem entrou na sala surpreso, pois sua esposa estava limpando o rosto que agora pouco estava coberto por lágrimas.
 
— Nada querido, eu que sou uma velha chorona mesmo. - Ela tentou se recompor, e com isso uma senhora mais velhinha apareceu. — Bom, vamos jantar.
 
Sina afirmou e se levantou. Caminhei junto com ela e me sentei ao lado da minha noiva enquanto a senhora servia o jantar. O jantar correu tranquilamente, a tia de Sina me contava o que pretendia fazer com seu lindo jardim, e eu prestava atenção tranquilamente, mas acabava rindo de alguma piada de Sofya sobre o quanto ela estava insatisfeita com o jardim. Era óbvio que ela só fazia isso para atrapalhar a tia.
 
— Vou atirar uma flecha no canteiro qualquer dia. Tenho certeza que ficará perfeito.
 
A mulher já acostumada com as brincadeiras aparentemente riu e negou com a cabeça.
 
— Sabe o que deveriam fazer? - Olhei para o homem que nos interrompeu. — Uma competição de pontaria...
 
A mesa se calou e foi a vez de Sofya falar.
 
— Sina é medrosa demais pra passar por isso.
 
A fala da minha noiva a seguir me deixou surpresa.
 
— Não precisa falar por mim se estiver com medo de perder maninha. - aquele tom, o mesmo usado com Joalin. Quantos tons eu iria ver dessa mulher em? — Eu não vejo problema nenhum em uma competição amigável. Você vai ficar até na vantagem, já que não prático a bastante tempo.
 
Os olhos de Sofya brilharam com o evidente desafio
 
— Amanhã de manhã e não se atreva a correr pra saia da noivinha.
 
A voz de Sina cortou completamente a conversa, nos trazendo de volta realidade daquela situação. Minha noiva também praticava aquela arte não tão conhecida por mim. Esse primeiro dia me mostrou um lado de Sina que eu não conhecia, algo que talvez tenha passado despercebido diante dos meus olhos. Talvez fosse o calor de uma família... Sina não me passava em segurança de uma família, e agora aqui sentada com ela e com o que sobrou da família dela, eu possa afirmar com convicção que sinto esse calor.
 
Olhei para o prato o ensopado quente de frango e os pequenos pedaços de abobrinha e soltei um suspiro longo, fazendo os olhos da minha noiva irem diretamente pra mim.
 
— Você está bem?
 
A voz de Sina me tirou dos meus devaneios e eu pude finalmente encara-lá de forma direta, desde a minha conversa com a sua tia. Toquei a mão dela e mantive a atenção nos olhos lindos e profundos que ela tinha.
 
— Nunca estive melhor.
 
Falei arrancando dela um sorriso sincero e comecei a comer.
 
Vesti a camisola roxa que caia bem em meu corpo e deixei meus cabelos soltos caírem sobre meus ombros. Ajeitei a manga da minha camisola e andei tranquilamente para cama, afim de espantar o frio e me aconchegar ali mesmo. A luz que vinha da porta entre aberta do banheiro chamou minha atenção, pois era a única iluminação presente ali fora a luz da lua. Sina saiu do banheiro chamando a minha atenção. Ela estava com os lábios roxos por conta do frio e vestia um conjunto de pijama de cor verde, era até fofo de se ver.
 
— Você tá parecendo uma criancinha inofensiva agora.
 
Sina olha na mesma hora para mim e caminha lentamente até a cama. Sinto o colchão diminuir com seu peso, mas logo a sensação é substituída pelo calor do seu corpo ao meu. Agora estou deitada sobre o peito da mesma, enquanto sinto e escuto as batidas leves do seu coração.
 
— Não tenho nada de inofensiva. - Suas mãos descem até meu rosto. Ela puxa meu queixo, fazendo eu olhar diretamente pra ela — O que disse pra minha tia... É verdade?
 
Ela já havia me dito que me amava, mas não obteve resposta por minha parte. Talvez fosse por instinto, mas Sina duvidava do que eu realmente sentia por ela, e eu não poderia culpa-lá. Mas tão rápido como um raio eu me apaixonei por ela. Eu sinto que desde o início estávamos destinadas a nos encontrar naquela bendita festa.
 
Ironia do destino eu me encontrar nessa situação. Agora enroscada nos braços da pessoa que era pra ser meu maior pesadelo, acabou se tornando a maior protagonista dos meus sonhos. Não era um caminho a seguir... Ninguém é obrigado a chegar a amar alguém, mesmo que as coisas e as circunstâncias te levem a pensar nisso. Um amor vem calmo e sublime. Você não espera, você não impede... Ele apenas acontece. Não inseguro ou afobado. Está longe de te tirar a paz e perto de te fazer sentir nas nuvens. A questão é que eu a amo desde o primeiro instante que soube como era seu verdadeiro “eu”. Eu a amei assim que sua máscara caiu.
 
— É sim. Você foi a pior e a melhor que me aconteceu. - falo passando meus dedos pelos cabelos dela. — Eu não pensei que fosse estar tão entregue a você. E eu não tô falando de ser sua submissa. - Rio e a beijo com carinho, passando a provar seus lábios com mais intensidade e sentir o gosto de menta neles — É mais do que isso. Seus toques, seu beijo, suas carícias, seu calor. Tudo isso contribuí pra essa sensação enorme que eu não consigo descrever e nem explicar. - Rio de lado — Eu não vou a lugar algum, porque não tem lugar pra mim no mundo sem você.
 
Se antes eu não havia visto ela chorar, agora minha recompensa foi a melhor. Sina segurou em meu rosto e passou os dedos pela minha bochecha. Sua pele branca estava levemente avermelhada e seu nariz denunciava o que seus olhos não podiam mais esconder. Eu me aproximei e passeei meu polegar pela bochecha dela, limpando suas lágrimas.
 
— Você me tirou do escuro. - ela encostou sua testa na minha e sussurrou — Você é sol que chegou pra iluminar minha vida. Antes de você eu só via cinza... Eu não pensei que pudesse ter algo bom no meu caminho, não até te encontrar. Assim que te vi pela primeira vez... Eu pensei “preciso dessa luz na minha vida”

Beijei minha noiva não a deixando terminar de falar. Cada parte minha vibrava em conjunto com aquele momento tão único e repentino. Eu podia sentir meu coração batendo de forma frenética e ritmada, mas não era só isso. O coração de Sina estava em sintonia com o meu, como se uma batesse com o outro, causando ali mesmo um encontro de almas. Eu não precisava dizer que amava, não naquele momento. Meus toques delicados em seu pescoço, junto ao calor do meu corpo contra o seu já diziam tudo... Tudo que as palavras não seriam capaz de expressar com clareza. A boca gelada e macia dela girava em sintonia perfeita com a minha, como se o encaixe perfeito tivesse sido encontrado naquele momento.

Sina separou nossas bocas e me puxou para mais perto. Afundo meu rosto no peito dela e abracei seu corpo, aproveitando o quentinho que era tê-la por perto.

Eu fechei meus olhos e dormi plenamente naquela noite.
 

— Eu sabia, sabia que não podia confiar nessa situação Brittney. Eu soube no instante em que Sina me contou sobre a família dela que o mundo dela era extremamente perigoso.
 
Falei enquanto tremia de medo e com a xícara em mãos. Olhei para minha bolsa onde estava o pequeno revólver que foi entregue a mim por Sina.

— No que tá pensando em fazer? Agora já sabe quem Sina é de verdade e o que acontece com quem se mete com ela Heyoon.

Respirei fundo tentando buscar coragem dentro de mim.

— Eu tenho que me afastar... Mesmo que me magoe... Eu preciso me manter longe disso até decidir o que fazer. - Falo engolindo seco — Minha família pode sair machucada disso tudo. Exatamente como aconteceu com Sabina
 
— Então é nisso que pensa? Você ainda culpa Sina pelo o que aconteceu?

Bato com meu punho na mesa.
 
—Você não entende Brittney . Está tudo conectado. Se eu não tivesse conhecido Sina, não teria acontecido o que aconteceu com a Sabina. Eu ainda teria a minha amiga e estaria começando uma vida adulta normal. Eu a culpo sim... Por me roubar o direito de ser quem eu sempre quis ser.
 

My Domme「𝑺𝒊𝒚𝒐𝒐𝒏▪︎𝑯𝒆𝒚𝒏𝒂」G!POnde histórias criam vida. Descubra agora