Capítulo 34 - Colocando a cara no sol

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Enquanto dirigia de volta, fiquei pensando no que mais poderia fazer para superar este acontecimento. Já sabia que pagaria mais caro pela terapia no final do mês, mas, o que mais? Queria algo que calasse logo a boca de todas aquelas pessoas que estavam me xingando, que aquietasse a boca dos vizinhos e dos familiares mais tradicionais. Não há nada de errado no que eu faço no blog. Sou uma mulher adulta e livre - também responsável - para fazer qualquer coisa, desde que não prejudique outra pessoa.

Realmente só mantive a identidade anônima por um medo besta, um que tenho desde que era adolescente e quando ainda namorava o Pedro. Uma insegurança, um julgamento infinito, sempre com expectativas altas.

Ainda lembro o quanto eu me esforcei para ser a filha que a minha mãe pediu a bendita entidade - seja lá que nome tiver - que nos rege ou protege lá de cima. Porém, o meu comportamento nunca foi o de uma menina "santinha", ainda mais quando cresci um pouco mais e meu corpo foi tomando sua forma e suas curvas. Sabia bem de tudo, mas queria manter as aparências. Aliás, acho que é isto que me prende até hoje: mantém essas benditas, justamente para satisfazer algo externo.

O quanto não fiquei mais livre quando terminei com meu ex?! E o quanto não fiquei mais livre quando comecei a escrever sobre os temas que gostava, no blog de um tema que eu tanto gostava?! Foram coisas que eu levei muitos anos para perceber e finalmente viver assim, não queria jogar fora. Por isso, eu precisava reverter aquela situação a meu favor. Só que, de que maneira?

A música tocava baixinho no carro, apenas como um fundo para não ficar no completo silêncio, enquanto eu pensava numa talvez solução rápida.

Confesso que ainda estou baqueada com tudo, se dissesse que não, estaria mentindo. Contudo, o meu choro já havia secado e estava até um pouco mais tranquila, me encontrando no ponto da aceitação de que era aquilo mesmo e eu que lutasse para resolver agora.

E uma ideia me veio! Se fosse desenho animado, com certeza teria aparecido uma lâmpada acima da minha cabeça.

Era algo bem simples, apenas gravar um vídeo mostrando finalmente meu rosto e falando com os meus fãs. Ou seja, um vídeo revelando a minha identidade de verdade e para quem quisesse ver! Porém, como o faria? Só tinha uma câmera de celular e eu não queria que tivesse uma cara de improvisado. E então, eu lembrei dele, a pessoa que também é vítima de toda essa história igual a mim: Gustavo.

Minha barriga roncou quando a música trocou. Decidi então parar e comer naquele restaurante perto do condomínio. E qual não foi a minha surpresa ao encontrá-lo lá, sorrindo e acenando para mim.

Almoçamos juntos e depois fomos para a casa dele. Contei a ele sobre a minha ideia e ele gostou bastante, dizendo que me ajudaria a fazer. Meio caminho andado já, agora só falta a coragem de falar diante da câmera, e claro, conversar com minha terapeuta e mais umas pessoas sobre isso para ter certeza mesmo.

***

O dia seguinte começou mais tranquilo do que eu estou acostumada. Ficar em pausa no blog tira toda a minha agitação, porque eu tô zero preocupação para escrever nada. Até o bendito do meu livro continua parado. Inclusive, o meu editor entrou em contato comigo, demonstrando apoio a tudo o que está acontecendo e que o nosso contrato de publicação continua de pé. Até porque ele era das poucas pessoas que me conhecia pessoalmente desde antes... Na verdade, é um amigo e antigo colega de trabalho - eles sabiam que eu escrevia outras coisas - que foi para o ramo de livros e me convidou para a sua nova editora. Ele ficou surpreso quando mandei os primeiros contos - que ele prontamente recusou - e ligou os pontos imediatamente. Claro, ele prometeu guardar segredo e sei que o faz.

Tomei o meu café na maior paz do mundo, peguei o carro e dirigi até o consultório da minha terapeuta que já estava me esperando para a sessão extra. Conversamos bastante sobre este último episódio e falei sobre todas as minhas frustrações e sentimentos quanto ao ocorrido. Da maior parte ela já sabia, só dei mais detalhes e desabafei. Confesso que acabei chorando de novo, contando a situação de climão que ficou na casa da minha mãe naquele quase-almoço. Sobre isto, a psicóloga comentou:

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