2. MIGUEL

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Foi há dois anos, na maldita discoteca da minha cidade, que lhe pus os olhos em cima pela primeira vez. Era só mais um rapaz. Um rapaz como todos os outros. Um rapaz vestido com um hoodie e umas calças de fato treino pretas. Olhou para mim de esguelha e piscou-me o olho. À primeira vista meteu-me nojo e revirei os olhos, mas quando ele não estava a olhar para mim eu mirei-o e percebi que ele até era engraçado. E bastante atraente. Atraente demais.
Fui para casa a pé e, no caminho, alguém puxou o meu braço e me levou para uma rua escura. Fiquei em pânico, mas ele pôs um dedo sobre os meus lábios e disse:
- Xiu... Eu não te vou fazer mal... É só que tu estavas a deixar-me louco... - louca fiquei eu com os seus olhos azuis, que pareciam os olhos de um gato e com a sua voz hipnotizante - Como é que te chamas?
- E... Eva... - sussurrei com a voz a tremer, o coração a bater descontroladamente e cheia de medo
- Que nome lindo... Sabes, Eva... Eu gostava muito de fazer coisas contigo... gostava muito de te ver outra vez amanhã... E no dia seguinte... Todos os dias... - foi-se embora, deixou-me atordoada com os lábios queimados pela sua boca que invadiu fortemente a minha. Fiquei a pensar em todas as coisas que ele disse que queria fazer comigo, perguntando-me como é que era possível um rapaz como ele querer alguma coisa com uma rapariga como eu.
Nessa noite não dormi. Na manhã seguinte passei na rua onde ele me beijou pela primeira vez e ele estava lá. Recuei, quis ir embora, mas os meus pés simplesmente não saíram do lugar. Fiquei ali, a olhar para ele, que estava sentado no chão serenamente a dar festas a um gato vadio.
- Ainda não me disseste o teu nome. - Fiquei sem dizer nada durante uns bons minutos, apenas a contemplar aquele cenário. Depois quebrei o gelo, assustando-o e afugentando o pobre gato preto a quem ele estava a dar mimos.
- Miguel. - disse ele, levantando-se e sacudindo o pó das calças.
- Miguel. Não gosto do nome. - Ele riu-se - O que é que tu queres de mim, Miguel?
- Quero amar-te. - Como é que é!?
- Queres amar-me? Mas nem me conheces! E além disso, eu não quero nada com ninguém. Não estou disponível. Nem sei como fui capaz de te deixar beijar-me ontem... - dei meia volta e estava com intenções de me ir embora quando ele me puxou, me beijou novamente e pôs a mão dentro das minhas calças. Eu não estava à espera daquilo. Nunca ninguém me tinha feito aquilo. Nunca ninguém me tinha tocado daquele jeito. Tentei acalmar-me e disfrutar, mas o meu corpo sentia repulsa e então comecei a gritar e a contorcer-me.
- LARGA-ME! MAS O QUE É QUE PENSAS QUE ESTÁS A FAZER!? - ele largou-me e começou a dar murros na parede atrás de nós, desesperadamente.
- Desculpa, desculpa, Eva... é só que... A soube há dias que a minha irmã morreu e... Eu estou carente... Eu preciso de alguém... Quando eu te vi o meu instinto disse-me que tu eras a pessoa certa... Que me podias ajudar... Que eras a pessoa certa para eu amar e deixar de ter esta dor tão grande... - as palavras dele partiram o meu coração porque eu passei exatamente pelo mesmo. Deixei-o encostar a sua cabeça ao meu peito, deixei-o chorar, deixei-o beijar-me e fomos ver o pôr do sol. Combinámos encontrar-nos todos os dias no mesmo beco até sentirmos (ou não) o amor. Azar o meu, que senti mesmo sabendo que da parte dele o sentimento podia não surgir. Mesmo sabendo que não tinha o seu amor como garantia.

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