12. NICOLE

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A Nicole foi o primeiro e único grande amor da minha irmã. Nós tínhamos as típicas conversas de irmãs sobre rapazes (e raparigas) que achávamos interessantes e com uma certa beleza. Eu nunca gostei de nenhum rapaz assim mais a sério, não me apagava muito, nunca ao ponto de querer um relacionamento sério, a única coisa que queria naquela altura era dar uns beijinhos e ter alguém que me achasse especial e, de facto aconteceu. Mas a minha irmã era diferente, a minha irmã entregava-se a sério às suas paixões, como se o mundo fosse acabar amanhã. Resultado? Muitas vezes ela ficava desiludida e ficava trancada no quarto durante dias a chorar com o seu coração partido. Os meus pais ficavam desesperados com ela, diziam-lhe que o melhor era arranjar um rapaz porque as raparigas eram mais intensas e ela ia ter desgostos para sempre, mas ela não ouvia e dizia-me sempre que ainda havia de encontrar a sua princesa. E encontrou. Um ano antes dela morrer, apareceu a Nicole e eu nunca vi a minha irmã tão feliz. A Nicole foi o seu grande amor. A sua paixão. O seu motivo para respirar. A pessoa que a incentivava todos os dias e a fazia querer levantar da cama para enfrentar o preconceito e a maldade das pessoas. Porque as pessoas eram más e não sabiam que o amor chega a todos da mesma forma, não apenas aos heterossexuais.
A Nicole era o oposto da minha irmã, mas há quem diga que os opostos se atraem. A Verónica gostava da ousadia da Nicole, gostava das suas madeixas azuis a contrastar no seu cabelo preto, gostava do seu braço esquerdo todo tatuado com desenhos que ela própria fez, gostava das sardas e do piercing brilhante que a Nicole tinha no umbigo. E a Nicole amava a simplicidade da minha irmã, amava que a minha irmã amasse os animais, sonhava os sonhos da minha irmã como se fossem os dela. Elas completavam-se tão bem que eu desejei muitas vezes encontrar alguém que me completasse da mesma forma. Eu pensava que o Miguel era essa pessoa, a minha outra metade, a minha alma gémea, mas enganei-me. A minha irmã encontrou a sua alma gémea e eu acho que neste momento ela está em paz porque partiu feliz. A Nicole ficou destroçada porque ficou sem a presença da minha irmã para sempre. Disse que nunca mais teria forças para amar alguém, mas eu discordo. Tenho a certeza que a Verónica deseja a felicidade da Nicole, e se para isso ela precisar de encontrar outro alguém para amar, tenho a certeza de que, onde quer esteja, a minha irmã vai estar a sorrir e a aplaudir. Porque no fundo, só lhe deseja o melhor.

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