O verão começou e com ele as minhas inseguranças tornaram-se mais fortes. Não gosto de calor, não gosto de usar roupas de verão, não gosto de mostrar o meu corpo, não gosto de ir à praia. Este verão, vou ter de me sacrificar e de fazer isso tudo porque não o quero desiludir. Não quero provocar nenhuma crise na nossa relação. Quero que ele goste de mim, que me elogie, mesmo que eu própria não o faça.
Os meus pais já sabem que "tenho um namorado", sabem que ele se chama Miguel, mas não sabem mais nada. Querem conhecê-lo, mas para mim é muito cedo. Estamos juntos há menos de um ano, não me sinto segura a espalhar a minha relação aos sete ventos, imaginemos que eventualmente, dizemos às pessoas e depois acabamos... seria ridículo, não me quero sacrificar a tanto. Mesmo assim, os meus pais disseram que ele estava convidado a vir à minha festa de aniversário, que será no mês de Setembro, por isso tudo o que tenho de fazer é certificar-me que a nossa relação dura até lá.
Depois do final das aulas, vou passar um fim de semana inteiro com ele à praia. Fico nervosa porque nunca tal tinha acontecido, nunca passei mais do que umas horas na sua companhia. Tenho medo de que alguma coisa aconteça, de que alguma coisa corra mal.
- Amor, não penses negativo. Estás comigo estás com Deus. Vai ser o melhor fim de semana da tua vida! - escolho acreditar no que ele me diz, não tendo a mais pequena ideia daquilo que me espera.
Na sexta feira à tarde, partimos, só os dois, para a casa de praia que os pais dele têm no sul do país. Jantamos umas saladas frescas de atum e adormecemos a ver um filme e a comer pipocas salgadas, embalados pela brisa do mar que irrompe pela porta da varanda mal fechada.
No sábado, passamos o dia na praia a bronzear, fomos almoçar fora e à noite, ele toma banho comigo e fazemos amor sem proteção. Pela primeira vez. Não digo que não foi bom, porque foi, foi incrível, mas fiquei petrificada porque ele ficou dentro de mim.
Depois de nos vestirmos, ele perguntou:
- Amor, estás a tomar a pílula, certo?
- Claro, não te preocupes. - Menti. Com todas palavras. Menti-lhe descaradamente, pela primeira vez e foi tão fácil que até fiquei impressionada comigo própria.
- Ótimo, - disse ele ao beijar-me a testa - não ia gostar nada de te partilhar com uma criancinha, por isso é que não vamos ter filhos tão cedo. - Espera, o quê!? - Até amanhã, dorme bem, querida. - virou-se para o outro lado e adormeceu deixando-me a pensar no que ando a fazer à minha vida.
No dia seguinte, acordei bem cedo e saí para ir à farmácia comprar a pílula do dia seguinte. Vesti o fato de treino para, caso ele estivesse acordado quando eu regressasse, inventar a desculpa de ter ido correr. Felizmente correu tudo bem e tomei o comprimido para prevenir e tranquilizar a minha consciência. Mas aparentemente, o comprimido não cumpriu o seu objetivo e eu tive de arcar com as consequências e tomar uma decisão.
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EVA
RomanceEsta é uma série de mini textos que foi escrita ao longo do mês de maio de 2021 e que acompanha a luta da Eva contra si própria, contra as suas inseguranças e a sua primeira história de amor, que acabou por ser um pesadelo. Qualquer semelhança com a...